sexta-feira, 8 de abril de 2011

Transporte é um direito e não uma mercadoria!

(Estudantes fazem fila pra pegar "buzão" em Dourados)

  O transporte coletivo em Dourados tem se consolidado como um dos maiores flagelos impostos, a mãos de ferro, à população da cidade. A “empresa” Medianeira, citada nos relatórios da Operação Uragano da Polícia Federal como um dos grupos mafiosos que dominam os serviços essenciais da cidade mediante pagamento de propina, mesmo com vários de seus políticos tendo perdido recentemente seus cargos no furacão que levou Artuzi e sua turma, mantém tranquilamente seu controle sobre o sistema de transporte coletivo municipal, anunciando-se para breve novos projetos e aumentos de preços da tarifa, contando com o aval da nova administração da prefeitura.
  Alguns setores estão se mobilizando para articular uma luta por diminuição do preço das passagens (que hoje está em R$: 2,30), por melhor qualidade no serviço oferecido e, numa perspectiva mais ampla, por opções públicas de transporte coletivo. Vamos refletir sobre estes pontos:

Transporte é um direito básico das pessoas

  Uma opção pública, gratuita e de qualidade de transporte coletivo é um direito básico das pessoas, entrelaçando-se de forma decisiva com o acesso a todo o leque de serviços essenciais oferecidos dentro da cidade. Afinal, se as pessoas não têm como se locomover, por exemplo, de suas casas até um hospital público seu direito de acesso aos serviços de saúde ficam prejudicados, sendo que esta mesma lógica pode ser aplicada aos serviços de educação, espaços de lazer, etc. Sob esta ótica, o sistema coletivo de transporte estando sob controle privado impede, ou no mínimo dificulta em demasia, que a “cidadania seja exercida”, jargão tão apregoado nas peças publicitárias do governo e grandes empresas, mas tão pouco visto em prática no cotidiano.
  A qualidade do serviço oferecido não reflete o elevado preço das tarifas. São poucos horários, poucas linhas e ônibus sujos e velhos. Para despistar a atenção pública a empresa tem adotado a política de colocar carros mais novos em trajetos de maior visibilidade midiática, como o caso de alguns ônibus que seguem rumo à Cidade Universitária, e deixar as velharias para os bairros periféricos. Agora façamos as contas do impacto econômico que o serviço privado de transporte coletivo causa no bolso de famílias trabalhadoras. É bombástico!  E a diminuta qualidade vai na contra-mão dos aumentos de preços, que não sofrem nenhuma espécie de controle por parte dos/as usuários/as, sendo definidos sempre ao bel-prazer de empresários e políticos.
  Neste regime privado do sistema de transporte coletivo municipal outro setor que, além dos/as usuários/as, é vítima da empresa são os/as funcionários/as, que se vêem constantemente ameaçados/as pelo desemprego, como o caso dos/as cobradores/as cuja rotatividade e número de trabalhadores/as modificam-se a todo instante, acarretando uma sobrecarga de funções para os/as motoristas, que em muitos casos acumulam também as tarefas de cobrar passagem e emitir troco, aumentando o estresse diário deste/a trabalhador/a cuja ocupação faz com que seja responsável pela vida de dezenas de pessoas, os/as passageiros/as. Qualquer tentativa de organização e luta dos/as funcionários/as, no caso específico de Dourados, é rapidamente desmantelado pela demissão sumária.
  São os fatos de conjunturas como esta que tem feito surgir, em todo o Brasil, fortes mobilizações de luta por opções públicas de transporte coletivo, apontando para um amplo movimento em defesa do direito de real acesso à cidade e à liberdade de se locomover.

(Trecho de relatório da PF que trata do mensalinho pago pela Medianeira à seus aliados políticos)


A luta em Dourados hoje

  Durante as jornadas de mobilizações do Fora Artuzi e TODAS as Máfias, ficou claro para alguns setores comunitários e estudantis que a questão do transporte coletivo era uma das principais pautas que as organizações populares deveriam tirar como uma bandeira para mais além que eleições, já que além da terrível situação enfrentada por quem depende destes ônibus, a “empresa” Medianeira é, comprovadamente, uma das maiores máfias implantadas em Dourados, financiando partidos políticos, elegendo seus candidatos e garantindo, através do pagamento de mensalinhos, a manutenção de seu contrato de concessão para explorar, em todos os significados da palavra, este serviço em nossa cidade. Os políticos perderam seus mandatos, novos nomes assumiram, mas a “empresa” Medianeira está toda prosa, especulando um novo aumento na tarifa, podendo ir agora para R$: 2,50, e aprofundando seu modelo de organização do sistema de transporte coletivo municipal. Segundo informações cedidas pelo Secretário de Serviços Urbanos da prefeitura para estudantes de alguns Centros Acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes da UFGD, planeja-se a implantação do sistema de cartões com marcação de tempo para que a pessoa desça de ônibus e pegue outro dentro de alguns minutos, o fim do terminal de transbordo e outras medidas de interesse da Medianeira.
  A discussão sobre este problema no período que se estende das mobilizações Fora Artuzi até agora trouxeram, no nosso entendimento, um amadurecimento de posições defendidas por alguns setores, especialmente do Movimento Estudantil, fazendo-os ampliarem sua reivindicação, passando de passe livre estudantil para linhas públicas de transporte coletivo, incluindo aí a do trajeto pra Cidade Universitária, amadurecimento de posição que é fruto das relações travadas com organizações de outros setores combativos de Dourados.
  Na nossa opinião é chegada a hora de tomar as ruas e outros locais nesta luta. Apoiamos todas as iniciativas que tem acontecido visando preparar terreno e mobilizar setores populares para estas manifestações. Apoiamos as reivindicações de diminuição imediata dos valores da tarifa, de criação de linhas públicas de transporte coletivo, como às que fazem o trajeto pra Cidade Universitária, aldeias indígenas, hospitais públicos e bairros mais afastados do centro e de municipalização de todo o sistema de transporte coletivo, que vêm sendo defendidas por setores populares combativos em Dourados. Vemos como fundamental a participação dos/as estudantes secundaristas, o que parece estar voltando a acontecer.
  Depois das maquinações da imprensa burguesa e da criação do mito do líder forte e salvador Murilo Zauith (salvador pela burguesia e forte contra o povo), as organizações populares de nossa cidade devem, e irão, partir para a luta e disputar nas ruas o cumprimento de nossas exigências. Estamos, enquanto anarquistas, junto de nosso povo, preparados e firmes pra esta batalha!

 Uma cidade só existe pra quem pode se movimentar por ela!