sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Todas as edições de O Libertário lançadas em 2009

Atenção Comp@s
Atendendo aos pedidos estamos disponibilizando para download todas as edições de O LIBERTÁRIO lançadas em 2009. Baixem e divulguem pros seus contatos!

O LIBERTÁRIO Novembro/Dezembro de 2009
* Princípios e bases de acordo do Movimento Poder Popular;
* Breve histórico do Movimento Estudantil na UFGD;
* Grito dos Excluídos 2009;
* Quadrinho;
* Movimento Poder Popular segue seu processo de construção;
* Repressão policial contra Anarquistas no Brasil;
* Notas;
Click no link abaixo e faça download:
http://www.armazenaweb.com.br/MU35C2UV09DZ/OLibertarioNovDez2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Setembro/Outubro de 2009
* Essa tal independência – Manifesto ao Grito dos Excluídos 2009;
* Movimento Poder Popular na Associação de Moradores da CoHab II;
* Teoria Anarquista – Pensando as relações centro-periferia hoje, de Felipe Corrêa;
* O autoritarismo da subjetividade: entrevistas de emprego, co-gestão e flexibilização trabalhista como formas de domínio patronal;
* Redes de Agricultura Urbana Solidária entre vizinhos, por correspondente PAEM na Nova Zelândia;
* Tarifa de ônibus sobe em Dourados;
* Resenhas e Notas;
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http://www.armazenaweb.com.br/DAM3MEH1Z94E/OLibertarioSetOut2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Julho/Agosto de 2009
* A crise política em Dourados;
* Movimento Poder Popular;
* Entrevista com a Federação Anarquista do Rio de Janeiro/FARJ;
* Teoria Anarquista – A força da associação, de Mikhail Bakunin;
* Resenhas e Notas;
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http://www.armazenaweb.com.br/76HKKJX4THY7/OLibertarioJulAgo2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Maio/Junho de 2009
* Por um transporte gratuito e de qualidade;
* A luta dos Povos Indígenas por terra no MS;
* Fragmentos dos princípios do Movimento Anarco Punk;
* Teoria Anarquista – A Liberdade, da União Regional Rhöne-Alpes da Federação Anarquista Francófona;
* Neopeleguismo e tutela burguesa: as centrais sindicais na contramão da luta revolucionária, por UNIPA;
* Ação “Comunidade Atitude” no Cachoeirinha;
* Resenhas e Notas;
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http://www.armazenaweb.com.br/289VNLQW3G5M/OLibert_rioMaioJunho2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Março/Abril de 2009
* 1º de Maio: dia de Luta Libertária;
* Mulheres na luta em Dourados;
* 13 de Maio: a mentira da abolição, por Vermelho e Negro;
* Aborto em debate: questão social de saúde e política;
* A luta Antifascista hoje;
* Plantas medicinais na saúde do trabalhador;
* Resenhas e Notas;
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http://www.armazenaweb.com.br/PYYFLVXCI46P/OLibert_rioMarAbr2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Janeiro/Fevereiro de 2009
* Intercâmbio com o Movimento de São Paulo;
* Eleições 2008: pra onde vamos depois dela?;
* Teoria Anarquista – O sistema representativo e o sufrágio universal, de Pierre Joseph Proudhon.
* Espaço Underground;
* Contribuição à análise do Movimento Estudantil, por CAZP;
* Crônica – Foi assim que eu a conheci, por Humano Parede;
* Fanzine Anticoncepcional;
* Resenhas;
* O tal Barack Obama;
* Notas e Quadrinhos;
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Força da Associação


Escrito por Mikhail Bakunin, originalmente publicado em L´Egalité nº II, de 3 de abril de 1869, estraído do livro Bakunin, fundador do Sindicalismo Revolucionário - A dupla greve de Genebra, lançado por editora Imaginário e Faísca Publicações em 2007. O título é nosso.

(...)Toda a prosperidade burguesa, sabemo-lo, enquanto propriedade exclusiva, está fundada sobre a miséria e sobre o trabalho forçado do povo, forçado não pela lei, mas pela fome. Essa escravidão do trabalho denomina-se, é verdade, nos jornais liberais tais como o Journal de Genève, a liberdade do trabalho. Mas essa estranha liberdade é comparável àquela de um homem desarmado e nu, que se o entregaria à mercê de um outro armado dos pés à cabeça. É a liberdade de se fazer esmagar, abater – Tal é a liberdade burguesa. Compreende-se que os burgueses a adorem e que os trabalhadores não a suportem absolutamente; pois essa liberdade é para os burgueses a riqueza, e para os trabalhadores a miséria.
Os trabalhadores estão cansados de ser escravos. Não menos que os burgueses, mais que os burgueses, eles amam a liberdade, porque compreendem muito bem, sabem por uma dolorosa experiência que sem liberdade não pode haver para o homem dignidade nem prosperidade. Mas não compreendem a liberdade senão na igualdade; porque a liberdade na desigualdade é o privilégio, quer dizer, a fruição de alguns fundada no sofrimento de todos. – Eles querem a igualdade política e econômica simultaneamente, porque a igualdade política sem a igualdade econômica é uma ficção, uma enganação, uma mentira, e eles não querem mais mentiras. – Os trabalhadores tendem, então, necessariamente, a uma transformação radical da sociedade que deve ter por resultado a abolição das classes do ponto de vista econômico tanto quanto político, e a uma organização na qual todos os homens nascerão, desenvolver-se-ão, instruir-se-ão, trabalharão e fruirão dos bens da vida em condições iguais para todos. – Tal é o desejo da justiça, tal é, também, o objetivo final da Associação Internacional dos Trabalhadores.
Mas como ir do abismo de ignorância, de miséria e de escravidão na qual os proletários dos campos e das cidades estão hoje mergulhados, a esse paraíso, a essa realização da justiça e da humanidade sobre a terra? – Para isso, os trabalhadores só tem um meio: a associação. Pela associação, eles instruem-se, informam-se mutuamente, e põem fim, por seus próprios esforços, a essa fatal ignorância que é uma das principais causas de sua escravidão. Pela associação, eles aprendem a ajudar-se, conhecer-se, apoiar-se um no outro, e acabarão por criar uma força mais formidável do que aquela de todos os capitais burgueses e de todos os poderes políticos reunidos.
A Associação tornou-se, pois, a palavra de ordem dos trabalhadores de todas as indústrias e de todos os países nesses vinte últimos anos sobretudo, e toda a Europa encontrou-se munida, como que por encantamento, de uma multidão de sociedades operárias de todos os tipos. É incontestavelmente o fato mais importante e ao mesmo tempo mais consolador de nossa época, - o sinal infalível da emancipação próxima e completa do trabalho e dos trabalhadores na Europa.
Mas a experiência desses mesmos vinte anos provou que as associações isoladas eram aproximadamente tão impotentes quanto os trabalhadores isolados, e que mesmo a federação de todas as associações operárias de um único país não bastaria para criar uma força capaz de lutar contra a coalizão internacional de todos os capitais exploradores do trabalho na Europa; a ciência econômica demonstrou, por outro lado, que a emancipação do trabalho não é absolutamente uma questão nacional; que nenhum país, por mais rico, por mais poderoso e por mais importante que ele seja, não pode, sem arruinar-se e sem condenar todos os seus habitantes à miséria, empreender qualquer transformação radical das relações do capital e do trabalho, se essa transformação não se faz igualmente, e ao mesmo tempo, ao menos em uma grande parte dos países da Europa, e que, por conseqüência, a questão da libertação dos trabalhadores do jugo do capital e de seus representantes, os burgueses, é uma questão eminentemente internacional. Disso resulta que a solução só é possível no terreno da internacionalidade.
Operários inteligentes, alemães, ingleses, belgas, franceses e suíços, fundadores de nossa bela instituição, compreenderam-no. Eles também compreenderam que, para realizar essa magnífica obra de emancipação internacional do trabalho, os trabalhadores da Europa, explorados pelos burgueses e esmagados pelos Estados, só deviam contar com eles próprios. Assim foi criada a grande Associação Internacional dos Trabalhadores.(...)
(...)A Associação Internacional dos Trabalhadores, fazendo, pois, completa abstração de todas as intrigas políticas atualmente, só conhece, neste momento, uma única política: aquela de sua propaganda, de sua extensão e de sua organização. – No dia em que a grande maioria dos trabalhadores da América e da Europa tiver ingressado e estiver bem organizada em seu seio, não haverá mais necessidade de revolução; sem violência a justiça será feita. E, então, se houver cabeças quebradas, é porque os burgueses assim o quiseram.
Mais alguns anos de desenvolvimento pacífico, e a Associação Internacional tornar-se-á uma força contra a qual será ridículo querer lutar. Eis o que os burgueses compreendem demasiado bem, e eis porque eles hoje nos provocam para a luta. Hoje, eles esperam ainda poder nos afastar, mas sabem que amanhã será demasiado tarde. Eles querem forçar-nos a travar batalha com eles agora.
Cairemos nesta armadilha grosseira, operários? Não. Faríamos muito prazer aos burgueses e arruinaríamos a nossa causa por muito tempo. Temos conosco a justiça, o direito, mas nossa força ainda não é suficiente para lutar. Comprimamos, pois, nossa indignação em nossos corações, permaneçamos firmes, inquebrantáveis, mas calmos, quaisquer que sejam as provocações dos jovens arrogantes e impertinentes da burguesia. Suportemos ainda; não estamos habituados a sofrer? Soframos, mas não esqueçamos nada.
E, enquanto aguardamos, prossigamos, redobremos, ampliemos cada vez mais o trabalho de nossa propaganda. É preciso que os trabalhadores de todos os países, os camponeses bem como os operários das fábricas e das cidades, saibam o que quer a Associação Internacional, e compreendam que, fora de seu triunfo não há para eles qualquer outro meio de emancipação sério; que a Associação Internacional é a pátria de todos os trabalhadores oprimidos, o único refúgio contra a exploração dos burgueses, a única força capaz de derrubar o poder insolente dos burgueses.
Organizemo-nos, ampliemos a nossa Associação, mas, ao mesmo tempo, não esqueçamos de consolidá-la a fim de que nossa solidariedade, que é toda a nossa força, torne-se a cada dia mais real. Sejamos cada vez mais solidários no estudo, no trabalho, na ação pública, na vida. Associemo-nos em empresas comuns para fazer nossa existência um pouco mais suportável e menos difícil; formemos em toda parte, e tanto quanto nos seja possível, essas sociedades de consumo, de crédito mutual e de produção, que, enquanto incapazes de emancipar-nos de uma maneira suficiente e séria nas condições econômicas atuais, habituam os operários à prática dos negócios e preparam germes preciosos para a organização do futuro.
Esse futuro está próximo. Que a unidade de escravidão e miséria que hoje abraça os trabalhadores do mundo inteiro, transforme-se para todos nós em unidade de pensamento e vontade, de objetivo e aço, - e a hora da libertação e da justiça para todos, a hora da reivindicação e da plena satisfação soará.

* publicado na edição de julho/agosto do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Livraria do PAEM

Companheiros,
Estamos iniciando o projeto Livraria do PAEM, que objetiva a difusão da história e teoria do Anarquismo em nossa cidade, bem como uma alternativa de geração de renda para manutenção das atividades de nosso coletivo. Pretendemos distribuir livros lançados por editoras que trabalhem com o Anarquismo, bem como obras de autores e grupos que vêm desenvolvendo pesquisas e/ou escrevendo teoria que se relacione com nosso movimento e com a luta de nosso povo.
Alguns títulos disponíveis:

Nestor Makhno e a Revolução Social na Ucrânia – R$ 20,00

Autogestão e Anarquismo – R$ 18,00

Espanha Libertária – A Revolução Social contra o fascismo – R$ 20,00

Breve Histórico do Movimento Estudantil na UFGD

O deprimente quadro em que se encontra o que, um dia, foi chamado de “Movimento Estudantil” na UFGD causa surpresa em muitos desavisados e esconde, por trás de si, obscuras forças que manipulam e fazem de joguete os estudantes, suas organizações e suas bandeiras de luta. Por mais que se tente avançar, parece que a marcha à ré foi engatada e tem levado o Movimento Estudantil da UFGD a ser um morto vivo, reduzido a siglas e querelas insignificantes. Mas o que gerou esta situação?
Como todos sabem a UFGD foi uma das primeiras universidades criadas pelo REUNI do governo Lula, a partir do desmembramento do antigo campus de Dourados da UFMS. O processo no geral foi aclamado por todos os setores políticos da universidade e dentro do movimento estudantil foi empurrado goela abaixo, sem nenhuma espécie de debate, graças ao controle total exercido pelo PT sobre as direções das entidades estudantis. Com o acordão político entre os grupos que disputam a universidade, no sentido de aclamar a UFGD e, logicamente, manter os estudantes e a comunidade em geral de fora do debate sobre sua implantação, cabia apenas aos pelegos dirigentes estudantis garantir a aprovação e adesão dos discentes.

O Movimento Estudantil no período pré-UFGD

No fim de 2003, quando o campus de Dourados da UFMS era dirigido pelo antigo PFL hoje DEM, começou-se a depurar uma ruptura dentro dos quadros do Movimento Estudantil através da crítica que companheiros passaram a fazer contra os setores hegemônicos, no caso PT. Por ocasião do fechamento da Moradia Estudantil e da truculência da direção de campus, que cotidianamente chamava a polícia para tentar expulsar os estudantes que se recusavam a deixar o prédio, organizou-se uma ocupação e acampamento no antigo CEUD, onde numa resistência de mais de um mês conseguiram a Moradia de volta. Dentro deste processo desnudou-se uma série de artimanhas usadas pela juventude do PT para controlar as direções de entidades estudantis, centralizando decisões e obscurecendo o desenrolar das lutas.
Em 2004, fortalecidos com a reconquista da Moradia, companheiros formam o Movimento Estudantil Autônomo, que visava coordenar as lutas por fora das entidades oficiais, optando pela ação direta, antipoliticagem e pela autonomia perante a direção de campus. Contudo durante este ano inicia-se o processo de desmembramento da UFMS, o que colocava já não mais o PFL/DEM, mas sim o PT na direção real do campus e do processo (já que havia a tutela simbólica exercida logo a seguir pela UFG) e o partido, obviamente, não queria tolerar uma movimentação dos acadêmicos que não fosse controlada por seus seguidores. Com isso inicia-se uma grande jogada armada por setores, então, obscuros da burocracia petista e decidem fechar mais uma vez a Moradia Estudantil, seguindo o exemplo de seus antecessores do PFL/DEM, argumentando que ali era um antro para o radicalismo e para o que eles chamavam de “maconheiros”. A prefeitura, na época também administrada pelo PT, pressionada pela empresa Medianeira, que detém o monopólio dos transportes aqui na cidade, articulava uma imensa aliança com os vereadores para acabar com o Passe Livre Estudantil.
Inicia-se então um enorme esquema de contratação de membros de diretorias de entidades estudantis por parte de prefeitura e gabinetes de vereadores, com o objetivo de sufocar qualquer resistência ao fim do Passe Livre e Moradia Estudantil. Os debates mais amplos, efetuados pelo Movimento Estudantil nacionalmente, como a luta contra a Reforma Universitária, por exemplo, são dissimulados e distorcidos por elementos ultra pelegos da UNE/PT, chegando inclusive ao ponto de um ônibus saído daqui da cidade para uma manifestação contra o REUNI em Brasília abandonar na capital federal um companheiro ligado ao Movimento Estudantil Autônomo, preso durante o protesto. No período de exames do ano letivo de 2004, quando a imensa maioria dos estudantes estava de férias, a prefeitura acaba com o Passe Livre e a universidade com a Moradia Estudantil.
2005 inicia-se com fortes mobilizações. O Movimento Estudantil Autônomo puxa mais uma ocupação e acampamento no CEUD, agora transformado em reitoria provisória da, agora em vias de consumação, UFGD, em luta pela moradia. Explodem os protestos por Passe Livre. Os pelegos petistas fazem de tudo para desmobilizar a luta. Tipos estranhos ligados ao PFL/DEM tentam aproveitar-se da situação para angariar votos pros seus candidatos. Seguem-se extensos protestos de universitários e secundaristas na câmara, prefeitura e transbordo. O Movimento Estudantil Autônomo vira alvo dos ataques de petistas e elementos do PFL/DEM por sua postura combativa e de ação direta. A prefeitura, por ordens da Medianeira, manda a polícia invadir a cidade universitária e enfrentar os estudantes. Através da imprensa os militantes mais combativos são desqualificados e tratados como bandidos, enquanto pelegos que ocupavam cargo de diretores de DCE e DSE saíam defendendo a proposta da prefeitura de acabar com o Passe Livre e instituir as bolsas transporte, que até hoje também não existem.
Neste contexto acontecia, em Paranaíba, o último congresso de estudantes da UFMS com participação de Dourados, onde é aprovado em plenário o indiciamento criminal de representantes do campus douradense no DCE, petistas, por roubo do dinheiro das carteirinhas, caso rapidamente abafado pela máquina pelega do PT no Movimento Estudantil. Porém ao invés dos ladrões serem presos, a polícia centra sua força para desmantelar o Movimento Estudantil Autônomo, prendendo os companheiros mais engajados e semeando o terror contra a militância acadêmica.

O Movimento Estudantil com a UFGD

Conseguida, através da brutalidade policial, a desarticulação do Movimento Estudantil Autônomo e da aliança acadêmicos/secundaristas coube à pelegagem entregar-se ao trabalho de criar um DCE para a nova universidade reservando-se, é claro, o direito de dirigir tal instituição. Em 2006 inicia-se o processo, extremamente autoritário, que foi orquestrado e comandado por setores da própria administração da UFGD (elementos que se dizem partidários de carteirinha assinada do socialismo, mas que na verdade são adoradores do bezerro de ouro) que levavam o debate para o rumo que queriam, acabando com toda a autonomia estudantil através da distribuição de bolsas e da perseguição implacável aos elementos mais resolutos em sua oposição. Sem a realização de um congresso, sem ao menos saber ao certo como funcionaria este DCE é instituída uma comissão eleitoral e formada duas chapas. A de oposição primava pela falta de projeto, heterogeneidade e inatividade política, enquanto a da situação, apesar de contar com um ou outro estudante independente, era composta por alguns dos mais pelegos nomes dos quadros da juventude petista, sendo que até candidato a vereador o líder deles saiu um pouco mais à frente. Reduzindo os debates a picuinhas pessoais e burocracia interna da universidade a chapa da administração vence e passa rapidamente a esvaziar toda movimentação.
Em 2007 a questão da implantação das usinas de cana de açúcar aqui na região toma o primeiro plano do debate político da cidade, e a luta contra as queimadas leva à grandes mobilizações populares, inclusive dos estudantes. O DCE, já abertamente braço estudantil do peleguismo, organizado no comitê de “defesa popular”, aproveita-se do ensejo e deixa passar batido a necessidade de um congresso, elaboração de estatutos e organização de uma nova eleição para sua diretoria.
2008 inicia-se com o prazo de validade da gestão da diretoria eleita em 2006 vencida. Contudo, o comitê de “defesa popular” continua a vincular o nome DCE/UFGD em seus panfletos, e elementos desta diretoria, que já se encontravam formados e fora da universidade, continuavam falando em nome do DCE, com o objetivo, vindo à tona logo a seguir, de promover sua candidatura para vereador. Várias denúncias começam a aparecer sobre supostos desvios de recursos oriundos de parcerias com órgãos públicos e cursinho pré-vestibular. No dia 22 de Agosto, durante a realização do último dia do Seminário de Assuntos Estudantis na UFGD, quando acontecia um debate entre acadêmicos e o reitor, onde o mesmo disse, entre outras coisas, que a reitoria era contra a Moradia Estudantil, os estudantes ali reunidos decidiram realizar uma ocupação na sede do DCE, como forma de protesto e de iniciar sua reorganização. Decide-se por efetuar a ocupação na segunda-feira de manhã. Quando chega a hora, elementos pelegos, que mais tarde seriam eleitos a atual direção do DCE, começam a tentar uma sabotagem, mas logo companheiros entram pela janela, arrancam as dobradiças das portas e abrem a sede do DCE para os estudantes.
Durante a ocupação é encontrada uma série de carteirinhas e documentos, o que causa agitação. Decide-se por lacrar os documentos, e todos os presentes assinar este lacre. Os dias que seguem são de luta. Aos trancos e barrancos organiza-se uma resistência visando não deixar o DCE sozinho e os documentos por ali. Professores stalinistas da Faculdade de Educação saem dizendo em sala de aula que os estudantes que efetuavam a ocupação eram traficantes. Um estudante pega os documentos e leva-os embora. Uma grande confusão inicia-se. Os debates são reduzidos e levados apenas à questão destes documentos. Em meio a tapas e empurrões entregam os documentos ao Ministério Público para que seja avaliado. Chega-se ao ponto de “sindicâncias internas” intimarem estudantes, mantendo-os presos por horas prestando “depoimentos”, onde inclusive os inquisidores tentam forçar os interrogados a confessarem sua participação numa “Grande Conspiração Anarquista” que visava “tomar o controle” do Movimento Estudantil no Brasil. Pelas velhas armas da repressão esvaziam a ocupação e encaminham tudo para um processo eleitoral.
O processo eleitoral arrasta-se. 2009 inicia-se sem a realização da eleição. Os trabalhos e encaminhamentos, totalmente hierarquizados, são comandados pela Coordenadoria de Assuntos Estudantis/COAE que abriga em seu quadro de funcionários, dentre outros, elementos que possuem o “cargo” de “diretor vitalício” do DCE. A eleição é vencida, mais pela ineficácia da chapa derrotada do que pelos méritos da vencedora, por elementos dos mais pelegos, também ligados ao PT, apoiados nas peças publicitárias da reitoria e do governo Lula. Contudo, volta a surgir uma discussão sobre a articulação de uma coordenação autônoma das lutas estudantis, que esteja de fora das instâncias oficiais, e que se paute na ação direta e na independência perante políticos e reitoria.

É na luta que se aprende a lutar

Uma organização que atue na luta, pautando-se na construção de um amplo envolvimento da comunidade estudantil, e que esteja afastada da tutela reitoria/governo é uma das maiores e mais urgentes tarefas que apresenta-se ao Movimento Estudantil da UFGD. Este amplo envolvimento só pode ser construído por um trabalho feito pela autonomia dos estudantes. No nosso entendimento o Movimento Estudantil tem um importante papel a desempenhar para a luta popular: o papel de criar e fortalecer militantes e trabalhadores comprometidos com a luta, que através do Movimento Estudantil possam aprender e desenvolver caminhos e práticas que venham a contribuir com a grande batalha de nosso povo. Esta prática parlamentar que hoje vemos no Movimento Estudantil, onde a movimentação é reduzida a disputas eleitorais e depois os eleitos passam a decidir em gabinetes fechados é o que deve ser combatido e superado por uma prática de autonomia e combatividade que permita com que os estudantes vejam-se como um Movimento Social, com uma tarefa a cumprir junto com os outros setores e agrupamentos de nosso povo.
A articulação com os movimentos sociais deve ser buscada, porém tendo clareza de que nem todo movimento e organização apontam para uma efetiva transformação da sociedade, pelo contrário, muitos deles defendem a manutenção do sistema e são importantes armas para os poderosos controlarem o povo trabalhador e os estudantes também. Um exemplo é a pelegagem que os atuais diretores do DCE vêm demonstrando, ao dizerem-se engajados com o povo através do comitê de “defesa popular”. As recentes lutas pelo Passe Livre foram levadas pelos pelegos aos gabinetes de políticos, de onde o DCE saiu bradando ser contra o Passe Livre e favorável a redução de apenas 15 centavos do preço atual das tarifas de ônibus, argumentando ser esta posição resultado de sua “maturidade”, graças à parceria com sindicatos (CUT e Força Sindical) e com a “esquerda” de nossa cidade.
Vemos também o DCE pautar-se em defender os projetos da reitoria e inventar lutas para “conquistar” coisas que já estão previstas no projeto de implantação da universidade, tendo inclusive os recursos à disposição para que seja efetivado. Porém esta prática é uma faca de dois gumes, pois se por um lado possibilita o marketing de que tem havido “conquistas”, por outro deixa o Movimento dependente dos recursos garantidos pelo REUNI para a implantação da UFGD, recursos esses com data marcada para que acabem, e permitem a intromissão e o controle total da reitoria e do Estado sobre sua organização, rumos e decisões.
Já está mais do que na hora de romper com esta máquina pelega implantada no DCE. Afirmar a independência do Movimento Estudantil perante governo, políticos e reitoria, construir pela base uma alternativa de luta que encaminhe a movimentação independente dos órgãos reconhecidos pela universidade e aliar-se aos setores combativos dos Movimentos Sociais e do povo de nossa cidade são algumas das tarefas mais urgentes para que o Movimento Estudantil da UFGD venha a ocupar um papel de relevância na luta de classes em nossa região. Estamos ao lado dos estudantes que sentem a necessidade da luta e desejam fazer parte da resistência popular.


* publicado na edição Novembro/Dezembro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.