domingo, 24 de outubro de 2010

O povo libertado defenderá o regime de Igualdade Social

    Escrito por Edgar Leuenroth, extraído do livro Anarquismo: Roteiro da Libertação Social, lançado por editora Mundo Livre em 1963.

  Os socialistas autoritários põem em dúvida a possibilidade de defesa do novo regime social sem Estado. Resposta a essa dúvida: a queda do capitalismo e a implantação do socialismo evidenciarão a superação da força socialista sobre a burguesa. E bem diz o ditado: quem pede o mais pode o menos. Se houver força para vencer o capitalismo, logicamente essa força será capaz de defender a nova situação e dominar qualquer tentativa da reação.
  Dizem: há muitos elementos de condição não capitalista involuntária, mas diretamente ligados à sociedade burguesa, arrastados, portanto, a defendê-la, julgando que, assim, defendem os próprios interesses. Esclarecendo: diz-nos a lógica rudimentar que, se o movimento renovador acabar com o domínio burguês e estabelecer um regime de igualdade social na base de bem-estar e felicidade para todos, fazendo que esses elementos constatem os benefícios da transformação, pouco provável será sua ação em favor dos tiranos decaídos. Há algo mais importante: se a sociedade burguesa, com toda a sua multicentenária entrosagem de poder, força e dominação em pleno funcionamento, não puder impedir sua queda e a vitória do socialismo, parece de infantil raciocínio concluir-se não poder constituir perigo à estabilidade do novo regime.
  Quem enfrentará os possíveis elementos reacionários renitentes e garantirá a estabilidade do socialismo? Resposta: o mesmo elemento que derrotar o capitalismo e estabelecer o socialismo. Como? Mantendo-se o povo preparado para defender o que é seu. De que forma? Lançando mão, onde, como e quando seja preciso, de tudo quanto a luta exigir para repelir e vencer o inimigo.
  Quem ensinará e orientará? Como em todos os ramos de atividade, os técnicos dessa especialização, que agirão, como os outros, sem as influências hierárquicas que alimentam a autoridade.
  Como demonstração das possibilidades de defesa da nova situação social sem a intervenção do militarismo profissional, há muitos exemplos, como o das milícias libertárias na revolução espanhola, que surgiram no momento preciso com as organizações de defesa dos locais de trabalho, das ruas, dos bairros, de aldeias, de cidades, todas elas baseadas no princípio da organização livre, entrosando-se federativamente.
  Os exércitos profissionais mantidos pela organização do capitalismo, consumindo a maior parte dos orçamentos de todos os países, são constituídos para defesa da ordem estabelecida – e essa ordem é a que mantém o regime da burguesia, baseado na exploração do homem pelo homem, ocasionando a desigualdade social, que facilita uma vida até de esbanjamento para a minoria dominante, enquanto a maioria laboriosa leva vida de penúrias e de misérias.
  Por mais potentes que sejam, esses exércitos tornam-se ineficientes quando são postos em ação na defesa da ordem constituída ferindo legítimos direitos do povo que os mantém. E isso por lhes faltar a base moral, de justiça social, que, mais dia menos dia, vence a brutalidade organizada, mesmo quando defendida por elementos menos aparelhados e aparentemente menos potentes.
  Exemplos há inúmeros. Os grandes impérios de todos os tempos e, recentemente, o fascismo em todas as suas modalidades. O fascismo, na Itália, e o nazismo, na Alemanha, principalmente, constituíram as maiores forças conhecidas. De que valeu isso? Dominaram, é certo, mas acabaram sendo vencidos da forma que todos sabemos. Por quê? Por que eram apenas a expressão da força a serviço da ambição de domínio. E por quem foram vencidos?  Por elementos que conclamaram os povos para a defesa de princípios de justiça, repelindo a brutalidade, a violência organizada contra o indivíduo e a coletividade. Foi a força moral que se sobrepôs à força bruta da autoridade.
  Derrubada a sociedade burguesa – baseada em todas as formas de injustiça – pelo socialismo – que se baseia nos princípios de justiça social e, fazendo cessar a exploração e a tirania e estabelecendo um regime de bem-estar e liberdade para todos, quanta força moral não animará o povo para lutar contra quem pretender roubar-lhe essa conquista! E quando qualquer perigo surgir, organizar-se-á em massa e lutará como for preciso, lançando mãos de todos os meios que forem necessários para vencer a injustiça, em defesa da justiça, contra a tirania, em defesa da liberdade.