sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Todas as edições de O Libertário lançadas em 2009

Atenção Comp@s
Atendendo aos pedidos estamos disponibilizando para download todas as edições de O LIBERTÁRIO lançadas em 2009. Baixem e divulguem pros seus contatos!

O LIBERTÁRIO Novembro/Dezembro de 2009
* Princípios e bases de acordo do Movimento Poder Popular;
* Breve histórico do Movimento Estudantil na UFGD;
* Grito dos Excluídos 2009;
* Quadrinho;
* Movimento Poder Popular segue seu processo de construção;
* Repressão policial contra Anarquistas no Brasil;
* Notas;
Click no link abaixo e faça download:
http://www.armazenaweb.com.br/MU35C2UV09DZ/OLibertarioNovDez2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Setembro/Outubro de 2009
* Essa tal independência – Manifesto ao Grito dos Excluídos 2009;
* Movimento Poder Popular na Associação de Moradores da CoHab II;
* Teoria Anarquista – Pensando as relações centro-periferia hoje, de Felipe Corrêa;
* O autoritarismo da subjetividade: entrevistas de emprego, co-gestão e flexibilização trabalhista como formas de domínio patronal;
* Redes de Agricultura Urbana Solidária entre vizinhos, por correspondente PAEM na Nova Zelândia;
* Tarifa de ônibus sobe em Dourados;
* Resenhas e Notas;
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http://www.armazenaweb.com.br/DAM3MEH1Z94E/OLibertarioSetOut2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Julho/Agosto de 2009
* A crise política em Dourados;
* Movimento Poder Popular;
* Entrevista com a Federação Anarquista do Rio de Janeiro/FARJ;
* Teoria Anarquista – A força da associação, de Mikhail Bakunin;
* Resenhas e Notas;
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http://www.armazenaweb.com.br/76HKKJX4THY7/OLibertarioJulAgo2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Maio/Junho de 2009
* Por um transporte gratuito e de qualidade;
* A luta dos Povos Indígenas por terra no MS;
* Fragmentos dos princípios do Movimento Anarco Punk;
* Teoria Anarquista – A Liberdade, da União Regional Rhöne-Alpes da Federação Anarquista Francófona;
* Neopeleguismo e tutela burguesa: as centrais sindicais na contramão da luta revolucionária, por UNIPA;
* Ação “Comunidade Atitude” no Cachoeirinha;
* Resenhas e Notas;
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http://www.armazenaweb.com.br/289VNLQW3G5M/OLibert_rioMaioJunho2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Março/Abril de 2009
* 1º de Maio: dia de Luta Libertária;
* Mulheres na luta em Dourados;
* 13 de Maio: a mentira da abolição, por Vermelho e Negro;
* Aborto em debate: questão social de saúde e política;
* A luta Antifascista hoje;
* Plantas medicinais na saúde do trabalhador;
* Resenhas e Notas;
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http://www.armazenaweb.com.br/PYYFLVXCI46P/OLibert_rioMarAbr2009.pdf.html

O LIBERTÁRIO Janeiro/Fevereiro de 2009
* Intercâmbio com o Movimento de São Paulo;
* Eleições 2008: pra onde vamos depois dela?;
* Teoria Anarquista – O sistema representativo e o sufrágio universal, de Pierre Joseph Proudhon.
* Espaço Underground;
* Contribuição à análise do Movimento Estudantil, por CAZP;
* Crônica – Foi assim que eu a conheci, por Humano Parede;
* Fanzine Anticoncepcional;
* Resenhas;
* O tal Barack Obama;
* Notas e Quadrinhos;
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http://www.armazenaweb.com.br/ETZ8LMF18GDT/OLibertariojanfev2009.pdf.html

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Força da Associação


Escrito por Mikhail Bakunin, originalmente publicado em L´Egalité nº II, de 3 de abril de 1869, estraído do livro Bakunin, fundador do Sindicalismo Revolucionário - A dupla greve de Genebra, lançado por editora Imaginário e Faísca Publicações em 2007. O título é nosso.

(...)Toda a prosperidade burguesa, sabemo-lo, enquanto propriedade exclusiva, está fundada sobre a miséria e sobre o trabalho forçado do povo, forçado não pela lei, mas pela fome. Essa escravidão do trabalho denomina-se, é verdade, nos jornais liberais tais como o Journal de Genève, a liberdade do trabalho. Mas essa estranha liberdade é comparável àquela de um homem desarmado e nu, que se o entregaria à mercê de um outro armado dos pés à cabeça. É a liberdade de se fazer esmagar, abater – Tal é a liberdade burguesa. Compreende-se que os burgueses a adorem e que os trabalhadores não a suportem absolutamente; pois essa liberdade é para os burgueses a riqueza, e para os trabalhadores a miséria.
Os trabalhadores estão cansados de ser escravos. Não menos que os burgueses, mais que os burgueses, eles amam a liberdade, porque compreendem muito bem, sabem por uma dolorosa experiência que sem liberdade não pode haver para o homem dignidade nem prosperidade. Mas não compreendem a liberdade senão na igualdade; porque a liberdade na desigualdade é o privilégio, quer dizer, a fruição de alguns fundada no sofrimento de todos. – Eles querem a igualdade política e econômica simultaneamente, porque a igualdade política sem a igualdade econômica é uma ficção, uma enganação, uma mentira, e eles não querem mais mentiras. – Os trabalhadores tendem, então, necessariamente, a uma transformação radical da sociedade que deve ter por resultado a abolição das classes do ponto de vista econômico tanto quanto político, e a uma organização na qual todos os homens nascerão, desenvolver-se-ão, instruir-se-ão, trabalharão e fruirão dos bens da vida em condições iguais para todos. – Tal é o desejo da justiça, tal é, também, o objetivo final da Associação Internacional dos Trabalhadores.
Mas como ir do abismo de ignorância, de miséria e de escravidão na qual os proletários dos campos e das cidades estão hoje mergulhados, a esse paraíso, a essa realização da justiça e da humanidade sobre a terra? – Para isso, os trabalhadores só tem um meio: a associação. Pela associação, eles instruem-se, informam-se mutuamente, e põem fim, por seus próprios esforços, a essa fatal ignorância que é uma das principais causas de sua escravidão. Pela associação, eles aprendem a ajudar-se, conhecer-se, apoiar-se um no outro, e acabarão por criar uma força mais formidável do que aquela de todos os capitais burgueses e de todos os poderes políticos reunidos.
A Associação tornou-se, pois, a palavra de ordem dos trabalhadores de todas as indústrias e de todos os países nesses vinte últimos anos sobretudo, e toda a Europa encontrou-se munida, como que por encantamento, de uma multidão de sociedades operárias de todos os tipos. É incontestavelmente o fato mais importante e ao mesmo tempo mais consolador de nossa época, - o sinal infalível da emancipação próxima e completa do trabalho e dos trabalhadores na Europa.
Mas a experiência desses mesmos vinte anos provou que as associações isoladas eram aproximadamente tão impotentes quanto os trabalhadores isolados, e que mesmo a federação de todas as associações operárias de um único país não bastaria para criar uma força capaz de lutar contra a coalizão internacional de todos os capitais exploradores do trabalho na Europa; a ciência econômica demonstrou, por outro lado, que a emancipação do trabalho não é absolutamente uma questão nacional; que nenhum país, por mais rico, por mais poderoso e por mais importante que ele seja, não pode, sem arruinar-se e sem condenar todos os seus habitantes à miséria, empreender qualquer transformação radical das relações do capital e do trabalho, se essa transformação não se faz igualmente, e ao mesmo tempo, ao menos em uma grande parte dos países da Europa, e que, por conseqüência, a questão da libertação dos trabalhadores do jugo do capital e de seus representantes, os burgueses, é uma questão eminentemente internacional. Disso resulta que a solução só é possível no terreno da internacionalidade.
Operários inteligentes, alemães, ingleses, belgas, franceses e suíços, fundadores de nossa bela instituição, compreenderam-no. Eles também compreenderam que, para realizar essa magnífica obra de emancipação internacional do trabalho, os trabalhadores da Europa, explorados pelos burgueses e esmagados pelos Estados, só deviam contar com eles próprios. Assim foi criada a grande Associação Internacional dos Trabalhadores.(...)
(...)A Associação Internacional dos Trabalhadores, fazendo, pois, completa abstração de todas as intrigas políticas atualmente, só conhece, neste momento, uma única política: aquela de sua propaganda, de sua extensão e de sua organização. – No dia em que a grande maioria dos trabalhadores da América e da Europa tiver ingressado e estiver bem organizada em seu seio, não haverá mais necessidade de revolução; sem violência a justiça será feita. E, então, se houver cabeças quebradas, é porque os burgueses assim o quiseram.
Mais alguns anos de desenvolvimento pacífico, e a Associação Internacional tornar-se-á uma força contra a qual será ridículo querer lutar. Eis o que os burgueses compreendem demasiado bem, e eis porque eles hoje nos provocam para a luta. Hoje, eles esperam ainda poder nos afastar, mas sabem que amanhã será demasiado tarde. Eles querem forçar-nos a travar batalha com eles agora.
Cairemos nesta armadilha grosseira, operários? Não. Faríamos muito prazer aos burgueses e arruinaríamos a nossa causa por muito tempo. Temos conosco a justiça, o direito, mas nossa força ainda não é suficiente para lutar. Comprimamos, pois, nossa indignação em nossos corações, permaneçamos firmes, inquebrantáveis, mas calmos, quaisquer que sejam as provocações dos jovens arrogantes e impertinentes da burguesia. Suportemos ainda; não estamos habituados a sofrer? Soframos, mas não esqueçamos nada.
E, enquanto aguardamos, prossigamos, redobremos, ampliemos cada vez mais o trabalho de nossa propaganda. É preciso que os trabalhadores de todos os países, os camponeses bem como os operários das fábricas e das cidades, saibam o que quer a Associação Internacional, e compreendam que, fora de seu triunfo não há para eles qualquer outro meio de emancipação sério; que a Associação Internacional é a pátria de todos os trabalhadores oprimidos, o único refúgio contra a exploração dos burgueses, a única força capaz de derrubar o poder insolente dos burgueses.
Organizemo-nos, ampliemos a nossa Associação, mas, ao mesmo tempo, não esqueçamos de consolidá-la a fim de que nossa solidariedade, que é toda a nossa força, torne-se a cada dia mais real. Sejamos cada vez mais solidários no estudo, no trabalho, na ação pública, na vida. Associemo-nos em empresas comuns para fazer nossa existência um pouco mais suportável e menos difícil; formemos em toda parte, e tanto quanto nos seja possível, essas sociedades de consumo, de crédito mutual e de produção, que, enquanto incapazes de emancipar-nos de uma maneira suficiente e séria nas condições econômicas atuais, habituam os operários à prática dos negócios e preparam germes preciosos para a organização do futuro.
Esse futuro está próximo. Que a unidade de escravidão e miséria que hoje abraça os trabalhadores do mundo inteiro, transforme-se para todos nós em unidade de pensamento e vontade, de objetivo e aço, - e a hora da libertação e da justiça para todos, a hora da reivindicação e da plena satisfação soará.

* publicado na edição de julho/agosto do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Livraria do PAEM

Companheiros,
Estamos iniciando o projeto Livraria do PAEM, que objetiva a difusão da história e teoria do Anarquismo em nossa cidade, bem como uma alternativa de geração de renda para manutenção das atividades de nosso coletivo. Pretendemos distribuir livros lançados por editoras que trabalhem com o Anarquismo, bem como obras de autores e grupos que vêm desenvolvendo pesquisas e/ou escrevendo teoria que se relacione com nosso movimento e com a luta de nosso povo.
Alguns títulos disponíveis:

Nestor Makhno e a Revolução Social na Ucrânia – R$ 20,00

Autogestão e Anarquismo – R$ 18,00

Espanha Libertária – A Revolução Social contra o fascismo – R$ 20,00

Breve Histórico do Movimento Estudantil na UFGD

O deprimente quadro em que se encontra o que, um dia, foi chamado de “Movimento Estudantil” na UFGD causa surpresa em muitos desavisados e esconde, por trás de si, obscuras forças que manipulam e fazem de joguete os estudantes, suas organizações e suas bandeiras de luta. Por mais que se tente avançar, parece que a marcha à ré foi engatada e tem levado o Movimento Estudantil da UFGD a ser um morto vivo, reduzido a siglas e querelas insignificantes. Mas o que gerou esta situação?
Como todos sabem a UFGD foi uma das primeiras universidades criadas pelo REUNI do governo Lula, a partir do desmembramento do antigo campus de Dourados da UFMS. O processo no geral foi aclamado por todos os setores políticos da universidade e dentro do movimento estudantil foi empurrado goela abaixo, sem nenhuma espécie de debate, graças ao controle total exercido pelo PT sobre as direções das entidades estudantis. Com o acordão político entre os grupos que disputam a universidade, no sentido de aclamar a UFGD e, logicamente, manter os estudantes e a comunidade em geral de fora do debate sobre sua implantação, cabia apenas aos pelegos dirigentes estudantis garantir a aprovação e adesão dos discentes.

O Movimento Estudantil no período pré-UFGD

No fim de 2003, quando o campus de Dourados da UFMS era dirigido pelo antigo PFL hoje DEM, começou-se a depurar uma ruptura dentro dos quadros do Movimento Estudantil através da crítica que companheiros passaram a fazer contra os setores hegemônicos, no caso PT. Por ocasião do fechamento da Moradia Estudantil e da truculência da direção de campus, que cotidianamente chamava a polícia para tentar expulsar os estudantes que se recusavam a deixar o prédio, organizou-se uma ocupação e acampamento no antigo CEUD, onde numa resistência de mais de um mês conseguiram a Moradia de volta. Dentro deste processo desnudou-se uma série de artimanhas usadas pela juventude do PT para controlar as direções de entidades estudantis, centralizando decisões e obscurecendo o desenrolar das lutas.
Em 2004, fortalecidos com a reconquista da Moradia, companheiros formam o Movimento Estudantil Autônomo, que visava coordenar as lutas por fora das entidades oficiais, optando pela ação direta, antipoliticagem e pela autonomia perante a direção de campus. Contudo durante este ano inicia-se o processo de desmembramento da UFMS, o que colocava já não mais o PFL/DEM, mas sim o PT na direção real do campus e do processo (já que havia a tutela simbólica exercida logo a seguir pela UFG) e o partido, obviamente, não queria tolerar uma movimentação dos acadêmicos que não fosse controlada por seus seguidores. Com isso inicia-se uma grande jogada armada por setores, então, obscuros da burocracia petista e decidem fechar mais uma vez a Moradia Estudantil, seguindo o exemplo de seus antecessores do PFL/DEM, argumentando que ali era um antro para o radicalismo e para o que eles chamavam de “maconheiros”. A prefeitura, na época também administrada pelo PT, pressionada pela empresa Medianeira, que detém o monopólio dos transportes aqui na cidade, articulava uma imensa aliança com os vereadores para acabar com o Passe Livre Estudantil.
Inicia-se então um enorme esquema de contratação de membros de diretorias de entidades estudantis por parte de prefeitura e gabinetes de vereadores, com o objetivo de sufocar qualquer resistência ao fim do Passe Livre e Moradia Estudantil. Os debates mais amplos, efetuados pelo Movimento Estudantil nacionalmente, como a luta contra a Reforma Universitária, por exemplo, são dissimulados e distorcidos por elementos ultra pelegos da UNE/PT, chegando inclusive ao ponto de um ônibus saído daqui da cidade para uma manifestação contra o REUNI em Brasília abandonar na capital federal um companheiro ligado ao Movimento Estudantil Autônomo, preso durante o protesto. No período de exames do ano letivo de 2004, quando a imensa maioria dos estudantes estava de férias, a prefeitura acaba com o Passe Livre e a universidade com a Moradia Estudantil.
2005 inicia-se com fortes mobilizações. O Movimento Estudantil Autônomo puxa mais uma ocupação e acampamento no CEUD, agora transformado em reitoria provisória da, agora em vias de consumação, UFGD, em luta pela moradia. Explodem os protestos por Passe Livre. Os pelegos petistas fazem de tudo para desmobilizar a luta. Tipos estranhos ligados ao PFL/DEM tentam aproveitar-se da situação para angariar votos pros seus candidatos. Seguem-se extensos protestos de universitários e secundaristas na câmara, prefeitura e transbordo. O Movimento Estudantil Autônomo vira alvo dos ataques de petistas e elementos do PFL/DEM por sua postura combativa e de ação direta. A prefeitura, por ordens da Medianeira, manda a polícia invadir a cidade universitária e enfrentar os estudantes. Através da imprensa os militantes mais combativos são desqualificados e tratados como bandidos, enquanto pelegos que ocupavam cargo de diretores de DCE e DSE saíam defendendo a proposta da prefeitura de acabar com o Passe Livre e instituir as bolsas transporte, que até hoje também não existem.
Neste contexto acontecia, em Paranaíba, o último congresso de estudantes da UFMS com participação de Dourados, onde é aprovado em plenário o indiciamento criminal de representantes do campus douradense no DCE, petistas, por roubo do dinheiro das carteirinhas, caso rapidamente abafado pela máquina pelega do PT no Movimento Estudantil. Porém ao invés dos ladrões serem presos, a polícia centra sua força para desmantelar o Movimento Estudantil Autônomo, prendendo os companheiros mais engajados e semeando o terror contra a militância acadêmica.

O Movimento Estudantil com a UFGD

Conseguida, através da brutalidade policial, a desarticulação do Movimento Estudantil Autônomo e da aliança acadêmicos/secundaristas coube à pelegagem entregar-se ao trabalho de criar um DCE para a nova universidade reservando-se, é claro, o direito de dirigir tal instituição. Em 2006 inicia-se o processo, extremamente autoritário, que foi orquestrado e comandado por setores da própria administração da UFGD (elementos que se dizem partidários de carteirinha assinada do socialismo, mas que na verdade são adoradores do bezerro de ouro) que levavam o debate para o rumo que queriam, acabando com toda a autonomia estudantil através da distribuição de bolsas e da perseguição implacável aos elementos mais resolutos em sua oposição. Sem a realização de um congresso, sem ao menos saber ao certo como funcionaria este DCE é instituída uma comissão eleitoral e formada duas chapas. A de oposição primava pela falta de projeto, heterogeneidade e inatividade política, enquanto a da situação, apesar de contar com um ou outro estudante independente, era composta por alguns dos mais pelegos nomes dos quadros da juventude petista, sendo que até candidato a vereador o líder deles saiu um pouco mais à frente. Reduzindo os debates a picuinhas pessoais e burocracia interna da universidade a chapa da administração vence e passa rapidamente a esvaziar toda movimentação.
Em 2007 a questão da implantação das usinas de cana de açúcar aqui na região toma o primeiro plano do debate político da cidade, e a luta contra as queimadas leva à grandes mobilizações populares, inclusive dos estudantes. O DCE, já abertamente braço estudantil do peleguismo, organizado no comitê de “defesa popular”, aproveita-se do ensejo e deixa passar batido a necessidade de um congresso, elaboração de estatutos e organização de uma nova eleição para sua diretoria.
2008 inicia-se com o prazo de validade da gestão da diretoria eleita em 2006 vencida. Contudo, o comitê de “defesa popular” continua a vincular o nome DCE/UFGD em seus panfletos, e elementos desta diretoria, que já se encontravam formados e fora da universidade, continuavam falando em nome do DCE, com o objetivo, vindo à tona logo a seguir, de promover sua candidatura para vereador. Várias denúncias começam a aparecer sobre supostos desvios de recursos oriundos de parcerias com órgãos públicos e cursinho pré-vestibular. No dia 22 de Agosto, durante a realização do último dia do Seminário de Assuntos Estudantis na UFGD, quando acontecia um debate entre acadêmicos e o reitor, onde o mesmo disse, entre outras coisas, que a reitoria era contra a Moradia Estudantil, os estudantes ali reunidos decidiram realizar uma ocupação na sede do DCE, como forma de protesto e de iniciar sua reorganização. Decide-se por efetuar a ocupação na segunda-feira de manhã. Quando chega a hora, elementos pelegos, que mais tarde seriam eleitos a atual direção do DCE, começam a tentar uma sabotagem, mas logo companheiros entram pela janela, arrancam as dobradiças das portas e abrem a sede do DCE para os estudantes.
Durante a ocupação é encontrada uma série de carteirinhas e documentos, o que causa agitação. Decide-se por lacrar os documentos, e todos os presentes assinar este lacre. Os dias que seguem são de luta. Aos trancos e barrancos organiza-se uma resistência visando não deixar o DCE sozinho e os documentos por ali. Professores stalinistas da Faculdade de Educação saem dizendo em sala de aula que os estudantes que efetuavam a ocupação eram traficantes. Um estudante pega os documentos e leva-os embora. Uma grande confusão inicia-se. Os debates são reduzidos e levados apenas à questão destes documentos. Em meio a tapas e empurrões entregam os documentos ao Ministério Público para que seja avaliado. Chega-se ao ponto de “sindicâncias internas” intimarem estudantes, mantendo-os presos por horas prestando “depoimentos”, onde inclusive os inquisidores tentam forçar os interrogados a confessarem sua participação numa “Grande Conspiração Anarquista” que visava “tomar o controle” do Movimento Estudantil no Brasil. Pelas velhas armas da repressão esvaziam a ocupação e encaminham tudo para um processo eleitoral.
O processo eleitoral arrasta-se. 2009 inicia-se sem a realização da eleição. Os trabalhos e encaminhamentos, totalmente hierarquizados, são comandados pela Coordenadoria de Assuntos Estudantis/COAE que abriga em seu quadro de funcionários, dentre outros, elementos que possuem o “cargo” de “diretor vitalício” do DCE. A eleição é vencida, mais pela ineficácia da chapa derrotada do que pelos méritos da vencedora, por elementos dos mais pelegos, também ligados ao PT, apoiados nas peças publicitárias da reitoria e do governo Lula. Contudo, volta a surgir uma discussão sobre a articulação de uma coordenação autônoma das lutas estudantis, que esteja de fora das instâncias oficiais, e que se paute na ação direta e na independência perante políticos e reitoria.

É na luta que se aprende a lutar

Uma organização que atue na luta, pautando-se na construção de um amplo envolvimento da comunidade estudantil, e que esteja afastada da tutela reitoria/governo é uma das maiores e mais urgentes tarefas que apresenta-se ao Movimento Estudantil da UFGD. Este amplo envolvimento só pode ser construído por um trabalho feito pela autonomia dos estudantes. No nosso entendimento o Movimento Estudantil tem um importante papel a desempenhar para a luta popular: o papel de criar e fortalecer militantes e trabalhadores comprometidos com a luta, que através do Movimento Estudantil possam aprender e desenvolver caminhos e práticas que venham a contribuir com a grande batalha de nosso povo. Esta prática parlamentar que hoje vemos no Movimento Estudantil, onde a movimentação é reduzida a disputas eleitorais e depois os eleitos passam a decidir em gabinetes fechados é o que deve ser combatido e superado por uma prática de autonomia e combatividade que permita com que os estudantes vejam-se como um Movimento Social, com uma tarefa a cumprir junto com os outros setores e agrupamentos de nosso povo.
A articulação com os movimentos sociais deve ser buscada, porém tendo clareza de que nem todo movimento e organização apontam para uma efetiva transformação da sociedade, pelo contrário, muitos deles defendem a manutenção do sistema e são importantes armas para os poderosos controlarem o povo trabalhador e os estudantes também. Um exemplo é a pelegagem que os atuais diretores do DCE vêm demonstrando, ao dizerem-se engajados com o povo através do comitê de “defesa popular”. As recentes lutas pelo Passe Livre foram levadas pelos pelegos aos gabinetes de políticos, de onde o DCE saiu bradando ser contra o Passe Livre e favorável a redução de apenas 15 centavos do preço atual das tarifas de ônibus, argumentando ser esta posição resultado de sua “maturidade”, graças à parceria com sindicatos (CUT e Força Sindical) e com a “esquerda” de nossa cidade.
Vemos também o DCE pautar-se em defender os projetos da reitoria e inventar lutas para “conquistar” coisas que já estão previstas no projeto de implantação da universidade, tendo inclusive os recursos à disposição para que seja efetivado. Porém esta prática é uma faca de dois gumes, pois se por um lado possibilita o marketing de que tem havido “conquistas”, por outro deixa o Movimento dependente dos recursos garantidos pelo REUNI para a implantação da UFGD, recursos esses com data marcada para que acabem, e permitem a intromissão e o controle total da reitoria e do Estado sobre sua organização, rumos e decisões.
Já está mais do que na hora de romper com esta máquina pelega implantada no DCE. Afirmar a independência do Movimento Estudantil perante governo, políticos e reitoria, construir pela base uma alternativa de luta que encaminhe a movimentação independente dos órgãos reconhecidos pela universidade e aliar-se aos setores combativos dos Movimentos Sociais e do povo de nossa cidade são algumas das tarefas mais urgentes para que o Movimento Estudantil da UFGD venha a ocupar um papel de relevância na luta de classes em nossa região. Estamos ao lado dos estudantes que sentem a necessidade da luta e desejam fazer parte da resistência popular.


* publicado na edição Novembro/Dezembro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O Sistema Representativo e o Sufrágio Universal


Escrito por Pierre Joseph Proudhon, originalmente publicado na obra Idée de la Révolution au XIX Siècle em 1851, extraído do livro A Propriedade é um Roubo e outros escritos Anarquistas, lançado por L&PM Editores, 1998.

Não há duas espécies de governo, assim como não há duas espécies de religião. O governo é de inspiração divina ou não é; assim como a religião é do céu ou não é nada. Governo democrático e religião natural são duas contradições, a menos que se prefira ver aí duas mistificações. O povo não tem mais voz consultiva no Estado do que na Igreja: seu papel é obedecer e acreditar.
Deste modo, como os princípios não podem falhar que os homens sozinhos têm o privilégio da inconseqüência, o governo, em Rosseau, assim como na Constituição de 91 e todas as que a seguiram, não é sempre, apesar do sistema eleitoral, senão um governo de direito divino, uma autoridade mística e sobrenatural que se impõe à liberdade e à consciência, mesmo parecendo solicitar sua adesão?
Sigai esta seqüência:
Na família, em que a autoridade está intima ao coração do homem, o governo assenta-se na descendência;
Nos costumes selvagens e bárbaros ele se apóia no patriarcado, o que reaparece na categoria precedente, ou pela força;
Nos costumes sacerdotais ele se apóia na fé;
Nos costumes aristocráticos ele se apóia na progenitura ou na casta;
No sistema de Rosseau, tornado o nosso, ele se apóia ou no acaso ou no número.
A descendência, a força, a fé, a progenitura, o acaso, o número, todas coisas igualmente ininteligíveis e impenetráveis, sobre as quais não há nada a objetar, mas a se submeter, tais são, não diria os princípios – tanto a autoridade quanto a liberdade não reconhecem senão elas mesmas por princípios –, mas os diferentes modos pelos quais se efetiva, nas sociedades humanas, a investidura do poder. A um principio primitivo, superior, anterior, indiscutível, o instinto popular sempre procurou uma expressão que foi igualmente primitiva, superior, anterior e indiscutível. No que concerne à produção do poder, a força, a lei, a hereditariedade e o número são a forma variável que reveste este ordálio; são julgamentos de Deus.
É o número que oferece a vosso espírito alguma coisa de mais racional, de mais autêntico, de mais moral do que a fé ou a força? O escrutínio vos parece mais seguro que a tradição ou a hereditariedade? Rousseau invectiva contra o direito do mais forte, como se a força, antes que o número, constituísse a usurpação. Mas o que é então o número? O que prova? Que vale? Qual a relação entre a opinião mais ou menos unânime e sincera dos votantes a esta coisa que domina qualquer opinião, qualquer voto, a verdade, o direito?
O quê! Trata-se de tudo o que me é mais caro, de minha liberdade, de meu trabalho, da subsistência de minha mulher e de meus filhos; e, quando conto convosco para admitir artigos, devolveis tudo a um congresso formado segundo o capricho do acaso? Quando eu me apresento para contratar, vós me dizeis que é preciso eleger árbitros que, sem me conhecer, sem me ouvir, pronunciarão minha absolvição ou minha condenação? Qual a relação, eu vos suplico, entre este congresso e eu? Que garantia ele pode me oferecer? Por que faria este sacrifício enorme, irreparável à sua autoridade, de aceitar o que lhe agrada resolver como sendo a expressão de minha vontade, a justa medida de meus direitos? E, quando este congresso, após os debates aos quais eu não compreendo nada, vem me impor sua decisão como lei, me apresentar esta lei na ponta de uma baioneta, eu pergunto, se é verdade que eu faço parte do soberano, o que vem a ser minha dignidade, se devo me considerar como estipulante, onde está o contrato?
Os deputados, pretende-se, seriam os homens mais capazes, os mais probos, os mais independentes do país; escolhidos como tais por uma elite de cidadãos mais interessados na ordem, na liberdade, no bem-estar dos trabalhadores e no progresso. Iniciativa sabiamente concebida, que afiança a bondade dos candidatos!
Mas por que então os honorários burgueses componentes da classe média sabem melhor que eu mesmo dos meus verdadeiros interesses? Trata-se de meu trabalho, observais então, da troca de meu trabalho, a coisa que, após o amor, sofre menos a autoridade. (...)
(...) E vós ireis entregar meu trabalho, meu amor, por procuração, sem meu consentimento! Quem me diz que vossos procuradores não usarão de seu privilégio para fazer do poder um instrumento de exploração? Quem me garante que seu pequeno número não os entregará, pés, mãos e consciências amarrados, à corrupção? E, se eles não querem se deixar corromper, se eles não conseguem ser razoáveis à autoridade, quem me assegura que a autoridade desejará se submeter?
(...) A solução está encontrada, bradam os intrépidos. Que todos os cidadãos participem do voto; não haverá poder que lhes resista, nem sedução que os corrompa. É o que pensaram, no dia seguinte a Fevereiro, os fundadores da República.
Alguns acrescentam: que o mandato seja imperativo, o representante perpetuamente revogável; e a integridade da lei estará garantida, a fidelidade do legislador, assegurada.
Nós entramos no atoleiro.
Não acredito de maneira alguma, justificadamente, nesta intuição divinatória da multidão, que a faria discernir, logo de imediato, o mérito e a honorabilidade dos candidatos. Os exemplos são abundantes em personagens eleitos por aclamação e que, sobre as bandeiras em que se ofereciam aos olhos do povo arrebatado, já preparavam a trama de suas traições. Entre dez tratantes, o povo, em seus comícios, quase que não encontra um homem honesto...
Mas que me interessam, ainda uma vez, todas estas eleições? Que necessidade tenho de mandatários, tanto como de representantes? E, já que é preciso que eu determine minha vontade, não posso exprimi-la sem a ajuda de ninguém? Isto me custará mais e, além disso, não estou mais certo de mim do que de meu advogado?
Dizem-me que é preciso acabar com isso; que é impossível que eu me ocupe com tantos interesses diversos; que afinal de contas um conselho de árbitros, cujos membros teriam sido nomeados por todas as vozes do povo, promete uma aproximação da verdade e do direito bem superior à justiça de uma monarca irresponsável, representados por ministros insolentes, e magistrados cuja inamovibilidade mantém-se, como o príncipe, fora de minha esfera.
Primeiro, não vejo absolutamente a necessidade de se decidir a este preço: não vejo, sobretudo, que algo seja decidido. Nem a eleição nem o voto, mesmo unânimes, resolvem algo. Depois, há sessenta anos nós praticamos uma e outro em todos os graus, e que decidimos? O que nós somente definimos? Que luz o povo obteve de suas assembléias? Quais as garantias conquistadas? Quando se lhe fizer reiterar, dez vezes ao ano, seu mandato, renovar todos os meses seus oficiais municipais e seus juízes, isto acrescentará um cêntimo à sua renda? Estaria mais seguro, ao se deitar em cada dia, de ter no dia seguinte o que comer e do que sustentar seus filhos? Poderia somente responder que não se virá prendê-lo, arrastá-lo à prisão?
Compreendo que sobre questões que não são suscetíveis de uma solução regular, para interesses medíocres, incidentes sem importância, se submeta a uma decisão arbitral. Semelhantes transações têm isto de moral, de consolador, pois elas atestam nas almas alguma coisa de superior até mesmo à justiça, o sentimento fraternal. Mas sobre princípios, sobre a própria essência dos direitos, sobre a direção a imprimir à sociedade; mas sobre a organização das forças industriais; mas sobre meu trabalho, minha subsistência, minha vida; mas sobre esta hipótese até do governo que nós agitamos, recuso qualquer autoridade presuntiva, qualquer solução indireta; não reconheço nenhum conclave; quero tratar diretamente, individualmente, por mim mesmo; o sufrágio universal é, a meus olhos, uma verdadeira loteria.



* Publicado na edição de Janeiro/Fevereiro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Princípios e Bases de Acordo do Movimento Poder Popular


A atual organização da sociedade que vivemos é marcada pela desigualdade, pela injustiça, pela opressão e pela exploração dos trabalhadores e moradores da periferia, a maioria da população, em proveito de uma minoria rica e dominante. Em todos os níveis da nossa vida, do local em que moramos ao local de trabalho, estas características enraízam-se e transformam-se num pesado fardo e num árduo obstáculo à satisfação de nossas necessidades e realização de nossos sonhos.
Entendemos que esta situação não será superada nem pela benevolência do governo nem pela caridade da minoria dominante. É a luta popular que se apresenta a nós como o caminho a ser percorrido, como a postura a ser adotada, para que consigamos construir uma outra realidade. Buscamos como nosso horizonte a socialização generalizada dos meios de produção, das riquezas produzidas e do conjunto pleno das decisões políticas.
Vemos com clareza o rearranjo contemporâneo das categorias e funções que os trabalhadores ocupam no processo produtivo, rearranjo este articulado pela e em benefício da classe rica e dominante, e a organização do espaço geográfico de nossa cidade que nos empurra para os subúrbios e áreas periféricas. Sendo assim elegemos nossos bairros, nossa periferia, como o espaço privilegiado para o semear de nossa proposta e a estruturação de nosso movimento.


O que é o Movimento Poder Popular?

É um movimento social comunitário, estruturando-se e existindo pela periferia de Dourados-MS, com caráter autônomo e de luta, que se pauta pelos princípios da ação direta, classismo, democracia direta e orientação revolucionária.
O Movimento Poder Popular atua com a intenção de desenvolver e fortalecer uma rede de resistência e solidariedade nos bairros pobres, convergindo para dentro de si uma série de projetos e mecanismos que vão da formação política à criação artística, do trabalho pedagógico à economia solidária, cujo objetivo maior é a construção do Socialismo, através de um processo de avanço do poder popular e ruptura revolucionária. Para isso manifestamos abertamente nosso desejo de nos configurarmos como parte de um amplo movimento social em escala nacional.
O Movimento Poder Popular foi fundado em Maio de 2009 e têm nesta declaração de princípios não um projeto acabado, mas um alicerce para a edificação e consolidação de um efetivo empoderamento dos bairros da periferia de nossa cidade.


Os princípios que nos guiam

Ação Direta: é a prática política onde os agentes sociais decidem e agem diretamente, sem intermediários, em tudo àquilo que diz respeito ou se relacione com a situação de suas vidas. É um método de combate à burocratização, corrupção e hierarquização dos movimentos sociais. É um primeiro passo no processo de empoderamento do povo trabalhador, garantindo a este povo o protagonismo e o controle dos rumos de suas lutas;

Classismo: é o reconhecimento de que a sociedade é dividida em classes: uma que é rica e poderosa, a classe dominante, e um conjunto de outras classes que são exploradas e oprimidas, o povo pobre e trabalhador. É um posicionamento aberto junto às classes oprimidas, das quais fazemos parte enquanto indivíduos, contra a classe rica, opressora e dominante. É a afirmação da solidariedade integral para com todo o espectro de classes e categorias que formam nosso povo trabalhador.


Democracia Direta: é o método decisório que garante a plena participação de todos os envolvidos, através da análise e do debate amplo e coletivo. É a negação da democracia burguesa representativa, onde profissionais da política tomam para si o poder decisório deixando ao povo apenas a ficção da escolha de seus representantes. É a garantia da horizontalidade interna dos movimentos sociais, trazendo para o foco dos debates toda a gama de indivíduos que compõem os movimentos. É a forma de se possibilitar a participação de grandes grupos de pessoas, através da delegação imperativa e rotativa;


Orientação Revolucionária: é o objetivo de longo prazo a ser alcançado pelo povo pobre, a Revolução Social e socialização generalizada dos meios de produção, das riquezas produzidas e das decisões políticas. É o que nos dá clareza para avançar através de cada pequena conquista ou construção, sem nos deixar perder por caminhos reformistas.

Nossa Organização

Compreendemos que o entendimento e a organização é a única forma de articular, fortalecer e coordenar nossas forças e ações. Por isso o Movimento Poder Popular organiza-se nos bairros da periferia de nossa cidade, convergindo para dentro de si uma série de projetos e mecanismos, em duas instâncias:


Núcleo de Bairro: formado dentro e com o nome do bairro, reúne os indivíduos e iniciativas que residem na localidade. Exemplo: Núcleo CoHab II, Núcleo Cachoeirinha, Núcleo João Paulo II, etc.


Núcleo de Trabalho: formado dentro do Núcleo de Bairro, reúne os indivíduos que atuam dentro de um projeto específico. Exemplo: Núcleo Agricultura Urbana, Núcleo Contra-Cultura, Núcleo Formação Política, etc.

Como instâncias decisórias gerais firmam-se:


Assembléia Geral de Núcleos: que é formada por todos os núcleos ligados ao Movimento Poder Popular na cidade, e reúne-se de forma extraordinária sempre que houver a demanda e a convocação de um Núcleo de Bairro;


Congresso do Movimento Poder Popular: que é formado por todos os núcleos ligados ao Movimento Poder Popular, e deve acontecer de forma ordinária anualmente, sendo que em cada ocasião um Núcleo de Bairro ficará responsável de organizar e receber o evento;
Entendendo que o nosso objetivo de longo prazo, a Revolução Social e a construção da socialização generalizada dos meios de produção, das riquezas produzidas e das decisões políticas, não será um fenômeno conquistado por nosso movimento de forma isolada, o Movimento Poder Popular busca, agora e abertamente, a sua configuração como parte integrante de um amplo movimento social organizado nacionalmente, com laços fraternos com o povo trabalhador de outros países, que tenha como princípios e objetivos os mesmos que reivindicamos no presente documento. Só assim, acreditamos, poderemos empreender de forma eficaz a batalha à qual nos propomos.

Bases de Acordo

1 - Caráter, Princípios e Objetivos
O Movimento Poder Popular é um movimento social comunitário, estruturando-se e existindo pela periferia de Dourados-MS, com caráter autônomo e de luta, que se pauta pelos princípios da ação direta, classismo, democracia direta e orientação revolucionária;
O Movimento Poder Popular atua com a intenção de desenvolver e fortalecer uma rede de resistência e solidariedade nos bairros pobres, convergindo para dentro de si uma série de projetos e mecanismos que vão da formação política à criação artística, do trabalho pedagógico à economia solidária;
O Movimento Poder Popular busca, agora e abertamente, a sua configuração como parte integrante de um amplo movimento social organizado nacionalmente, com laços fraternos com o povo trabalhador de outros países;
O Movimento Poder Popular tem como objetivo de longo prazo a Revolução Social e a construção da socialização generalizada dos meios de produção, das riquezas produzidas e das decisões políticas.

2 – Composição
O Movimento Poder Popular é um movimento social comunitário que pode ser composto por:
Mulheres, homens, jovens, idosos e crianças que residam nos bairros da periferia de nossa cidade;

Grupos e tendências que atuem em associações de moradores, grêmios escolares, clubes e outros espaços nos bairros da periferia de nossa cidade;

Grupos e atividades de cunho pedagógico, artístico e/ou formador que atuem nos bairros da periferia de nossa cidade;

Grupos e iniciativas de caráter reivindicativo que lutem por melhorias das condições de vida nos bairros da periferia de nossa cidade;

Alternativas e propostas de auto-sustento, geração de renda e economia solidária;

Indivíduos que tenham afinidade com nossa proposta;



3 – Critérios para ingresso e/ou formação de núcleos


Ingresso de indivíduos no Movimento Poder Popular:
Apresentação de uma carta de intenções pessoal, escrita ou falada, perante reunião do Núcleo de Bairro em que deseja ingressar;

Aceitação consensual dos membros que já participam do Núcleo de Bairro em que está sendo solicitada adesão;

Formação de Núcleos de Trabalho:
Apresentação de uma carta de intenções e do projeto para o Núcleo de Bairro onde a atividade será realizada;

Aceitação consensual do conjunto de membros que participam do Núcleo de Bairro em que o Núcleo de Trabalho será formado;

Formação de Núcleos de Bairro:
Apresentação de uma carta de intenções para o conjunto dos Núcleos de Bairro já existentes;

Aceitação consensual do conjunto de Núcleos de Bairro já existentes, através de plenária da Assembléia Geral de Núcleos,



4 – Instâncias

Núcleo de Bairro: formado dentro e com o nome do bairro, reúne os indivíduos e iniciativas que residem na localidade. Exemplo: Núcleo CoHab II, Núcleo Cachoeirinha, Núcleo João Paulo II, etc.

Núcleo de Trabalho: formado dentro do Núcleo de Bairro, reúne os indivíduos que atuam dentro de um projeto específico. Exemplo: Núcleo Agricultura Urbana, Núcleo Contra-Cultura, Núcleo Formação Política, etc.

Assembléia Geral de Núcleos: é formada por todos os núcleos ligados ao Movimento Poder Popular na cidade, e reúne-se de forma extraordinária sempre que houver a demanda e/ou a convocação de um dos Núcleos de Bairro;

Congresso do Movimento Poder Popular: é formado por todos os núcleos ligados ao Movimento Poder Popular, e deve acontecer de forma ordinária anualmente, sendo que em cada ocasião um Núcleo de Bairro ficará responsável de organizar e receber o evento;

5 - Método Decisório

O método decisório do Movimento Poder Popular é fiel ao princípio da democracia direta garantindo a unidade na ação. Todas as decisões serão tomadas por consenso, nos casos onde isso não ocorrer realiza-se votação por maioria. A posição da minoria deve ser registrada para avaliação posterior.

6 –Simbologia
O Movimento Poder Popular tem como símbolos as cores vermelho e preto e o slogan “Nem político, nem patrão!”. Todavia uma bandeira e simbologia definitivas devem ser escolhidas na ocasião da realização de seu I Congresso e da sua adesão a um amplo movimento social organizado nacionalmente, com laços fraternos com o povo trabalhador de outros países, que tenha como princípios e objetivos os mesmos que reivindicamos no presente documento.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Nossa Organização


Escrito por Nestor Makhno, originalmente publicado em Dielo Trouda nº 4, em setembro de 1925, extraído do livro Anarquia e Organização, lançado por coletivo Luta Libertária em 2001.


A atual situação enfrentada pelo proletariado mundial exige uma tensão máxima do pensamento e da energia dos anarquistas revolucionários, para esclarecer as questões mais importantes.
Nossos camaradas, que desempenharam um papel ativo na revolução russa e continuam fiéis às suas convicções, sabem de que maneira funesta se fez sentir em nosso movimento, a ausência de uma sólida organização. Esses camaradas estão bem situados para ser particularmente úteis na tarefa de unificação atualmente empreendida. Suponho que não lhes passou despercebido que o anarquismo foi um fator de insurreição nas massas trabalhadoras revolucionárias, na Rússia e na Ucrânia, incitando-as à luta por toda parte.
Contudo, a ausência de uma grande organização específica, que contraponha suas forças vivas aos inimigos da revolução, tornou os anarquistas incapazes de assumir uma função organizativa. A tarefa libertária na revolução sofreu as pesadas conseqüências dessa incapacidade. Conscientes dessa limitação, os anarquistas russos e ucranianos não devem permitir que tal fato se repita. A lição do passado é demasiado penosa e, por não a terem esquecido, eles devem ser os primeiros a dar o exemplo de coesão de suas forças.
Como? Criando uma organização que possa cumprir as tarefas do anarquismo, não somente no momento de preparar a revolução social, mas igualmente depois. Uma tal organização deve unir todas as forças revolucionárias do anarquismo, e se ocupar imediatamente da preparação das massas para a revolução social e para a luta pela realização da sociedade anarquista. Se bem que a maioria dos anarquistas reconhece a necessidade de uma tal organização, é lamentável constatar que são poucos os que se preocupam com a seriedade e a constância indispensáveis. Neste momento, os acontecimentos se precipitam em toda Europa, inclusive na Rússia, prisioneira dos bolcheviques. Está próximo o dia em que será necessário participarmos ativamente dos acontecimentos. Se nos apresentarmos outra vez sem estarmos organizados, previamente e de maneira adequada, seremos novamente incapazes de impedir que os acontecimentos evoluam no turbilhão dos sistemas estatais.
O anarquismo se insere e vive concretamente por toda a parte onde há vida humana. Em contrapartida, ele não se torna compreensível para todos, a não ser onde e quando existem os propagandistas e os militantes que romperam sincera e inteiramente com a psicologia de submissão desta época, eis por que são ferozmente perseguidos. Esses militantes agem de acordo com suas convicções, desinteressadamente, sem medo de descobrir, em seu processo de desenvolvimento, aspectos desconhecidos, para assimilar, ao fim e ao cabo, o que se fizer necessário para a vitória contra o espírito de submissão. Duas teses decorrem do que acima foi dito: - a primeira, é que o anarquismo conhece expressões e manifestações diversas, mas conserva uma prefeita integridade em sua essência. – a segunda, é que o anarquismo é naturalmente revolucionário e, na luta contra seus inimigos, só pode adotar métodos revolucionários.
No decorrer de seu combate revolucionário, o anarquismo não somente derruba os governos e suprime suas leis, mas se ocupa também da sociedade em que nasceu, de seus valores, seus costumes e sua “moral”, o que lhe vale ser cada vez mais compreendido e assimilado pela maioria oprimida da humanidade.
Tudo isso nos convence de que o anarquismo não pode continuar aprisionado nos limites de um pensamento marginal e reivindicado unicamente por uns poucos grupelhos, em suas ações isoladas. Sua influência natural sobre a mentalidade dos grupos humanos em luta é mais do que evidente. Para que esta influência seja assimilada de modo consciente, ele deve doravante se munir de novos meios e iniciar desde já o caminho das práticas sociais.

* publicado em outubro de 2006 na edição de estréia do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Edição Novembro/Dezembro 2009 de O Libertário


Companheiros

Já saiu a edição Novembro/Dezembro 2009 de nosso jornal O Libertário,

click no link abaixo e faça download :


Distribuam a versão impressa e contribuam com a continuidade e fortalecimento do nosso jornal.

Pacote distribuição 10 exemplares – R$ 8,00

Pacote distribuição 20 exemplares – R$ 15,00

Frete já incluso

O dinheiro deve ser enviado, bem camuflado, em carta para:

Miguel Bacunin

Caixa Postal: 17

Cep: 79804-970

Dourados/MS

Entrem em contato pelo nosso e-mail para conferir se a edição já não está esgotada, ou para discutir outras formas de parceria e contribuição: paraalem@portugalmail.pt

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Iª Ação Antifascista


O Movimento Poder Popular convida:



Dia 06 de Dezembro, domingo, a partir das 17:00hs, na ADUF-Dourados (Associação dos professores da UFGD), vai rolar a Iª Ação Antifascista. com as seguintes atividades:



* som com as bandas:



ACROSS

LEGIÃO DA RIMA

BRÔ MC´S

HARD MATO

SEM CAPUZ

EXPERIMENTA

TERATOS



* Distribuição de Material Antifascista;

* Coleta de assinaturas em prol da demarcação das terras dos povos indígenas;

* Malabares e intervenções diversas;

* Microfone aberto para os presentes;



A entrada é franca. Compareça e fortaleça a luta Antifascista em nossa região.

Redes de agricultura urbana solidária entre vizinhos


Por: Correspondente do PAEM na Nova Zelândia

Atualmente existem, na Austrália e também aqui na Nova Zelândia, diversas iniciativas que se contrapõem ao controle comercial imposto sobre a produção de alimentos por parte de burocratas, políticos e o agronegócio. Em pequenos espaços dentro de cidades surgem pequenos canteiros coletivos. Pessoas interessadas em produzir alimentos para o próprio consumo se organizam para cultivar coletivamente canteiros de variadas culturas. Aparecem os primeiros passos rumo à ruptura com a dependência de alimentos de origem e qualidade duvidosa, controlados financeiramente pelas empresas do agronegócio e bancos de sementes. Alguém empresta as poucas ferramentas velhas, outro cede o espaço no fundo do quintal da casa, o esterco logo aparece e os primeiros canteiros são erguidos. O composto fertilizante logo passa a ser preparado regularmente pelos próprios membros, através da reutilização do lixo orgânico, e detritos naturais ao redor da cidade. Novos interessados aparecem e começam a ajudar, seja regando, removendo as ervas daninhas, ajudando na compostagem, cedendo novos espaços para o cultivo. O ato de plantar logo vira um prazer entre os envolvidos, as crianças e os idosos também começam a participar na manutenção dos canteiros, todos fazendo algo para que os frutos apareçam. Em poucos meses o grupo de pessoas começa a desfrutar da saborosa horta cultivada com as próprias mãos. Logo que a rede está formada os envolvidos promovem a livre troca entre os alimentos produzidos. Ocorre de uma determinada pessoa plantar algum determinado alimento e não ter condições de cultivar outros, porem ele pode trocá-lo na rede por outros gêneros. A comida então passa a sair do controle da classe dominante, e a própria comunidade começa a se alimentar por conta própria sem favorecer aos inúmeros intermediários que encarecem o preço dos alimentos, como as grandes redes de supermercados.
Exemplo como esse está sendo desenvolvido na pequena vila de Sanford na Austrália. Peter Kearney, um pequeno agricultor da localidade que trabalha com a agricultura biodinâmica cedeu o quintal de sua casa para a vizinhança desenvolver junto com ele, e de maneira coletiva, uma expressiva horta com diversos tipos de hortaliças, onde todos os participantes ajudam no plantio e cultivo da terra. Tudo ocorreu como imaginado, vieram as primeiras colheitas, contando com alimentos de alta qualidade e saborosos, plantados no principio da agricultura orgânica-biodinâmica (com ênfase no não uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos, sementes geneticamente modificadas, levando em consideração diversos fatores na lida com a terra) . Logo a ideia se estendeu e novos moradores da redondeza decidiram a participar organizando novas hortas em diferentes localidades. Com o tempo perceberam que a produção ultrapassou as necessidades do uso dos envolvidos, e surgiram as primeiras redes de troca e venda... Atualmente Peter segue humildemente tocando o jardim e a horta no quintal de sua casa, e também ministra cursos e palestras a respeito, contando até com um site com todas as informações para quem queira se aventurar a produzir a própria comida.
Nesse sentido acreditamos que iniciativas desse tipo, poderiam se tornar uma forte ferramenta de luta contra a forma que a terra vem sendo usada, também possibilitando a construção de redes alternativas de abastecimentos de gêneros alimentícios sem o controle patronal e estatal. Germinando dessa forma as primeiras sementes de uma agricultura ecológica anticapitalista.


* Publicado na edição de Setembro/Outubro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Luta Antifascista Hoje


O fascismo é o regime político que vigorou na Itália dos anos 20 até o fim da II guerra mundial, e teve e tem variações espalhadas por vários cantos do mundo: o nazismo na Alemanha, o franquismo na Espanha, as ditaduras militares no Brasil e América Latina, a vertente de “esquerda” que vigorou na URSS e leste europeu, etc. Este regime foi/é caracterizado pelo acentuado autoritarismo e hierarquização em todos os níveis da vida social, através de ditaduras militares, estado policial totalitário, criminalização de movimentos populares, submissão total dos trabalhadores perante os patrões, controle pleno do pensamento, imprensa e educação pelos burocratas dos partidos dirigentes, e ao contrário do que pode parecer a luta antifascista continua completamente atual.
Como todo projeto político/ideológico, o fascismo também tem seus braços espalhados por amplos setores da sociedade, disseminando “valores” como o racismo, a intolerância, a xenofobia nacionalista, a homofobia, o machismo, e através destes “valores” busca gerar um cenário favorável à sua própria ascensão definitiva ao poder governamental. No Brasil partidos políticos de extrema-direita como o PRONA, o PNSB (nazista), a AIB (integralista) e agremiações pseudo-religiosas como a TFP (Tradição, Família e Propriedade) defendem o projeto nacionalista/fascista dos setores mais conservadores da classe dominante. Estes grupos da extrema-direita têm incentivado e financiado atentados contra moradores de rua, negros, homossexuais, centros de tradição nordestinas, comunidades judaicas, indígenas, imigrantes latinos e militantes sociais em diversas regiões do país. Estes atos de violência são executados por grupos como os skinheads, carecas do Brasil, white power e outros conjuntos de jovens ligados à estas entidades.
Em São Paulo, maior cidade do país, onde estes partidos possuem suas sedes e maior contingente de militantes, o número de atrocidades praticadas por estes facínoras é enorme, o que logicamente têm levado o proletariado a organizar-se e a partir para o enfrentamento a estes canalhas. Em 2000 o adestrador de cães Edson Néri, homossexual, foi espancado até a morte por um grupo de skinheads nazistas, causando grande comoção e revolta por parte da população. Desde então o Movimento Anarco Punk/MAP vem realizando o ato Fevereiro Anti fascista, que a cada ano tem ganhado mais força com a adesão de movimentos de negros, homossexuais, sem teto e vários outros setores do proletariado.
Aqui em Dourados, podemos notar de forma mais escancarada a presença fascista na exploração, humilhações, rapina e assassínios a que os povos indígenas vêm sendo submetidos por latifundiários, burgueses e governantes. E como se não bastasse, grupos de jovens que reivindicam para si o rótulo de nazistas tem tomado corpo em nossa cidade, espalhando sua mensagem de intolerância e discriminação. Contra isto estivemos panfletando nas ruas em fevereiro, e continuaremos dia a dia, esclarecendo a população e buscando apoio e adesão para o fortalecimento desta luta também aqui na nossa região.
Faça também parte desta empreitada combatendo o preconceito em todas as suas formas, e estando atento a movimentações da escória conservadora. Organize-se em seu bairro, escola e local de trabalho para discutir este tema com seus amigos e companheiros. Sendo o fascismo um agravamento do regime da exploração dos trabalhadores pelas classes dominantes, é só com a superação destas mesmas classes que podemos nos ver livres desta funesta ameaça.


Por aqui eles não passarão!




* publicado na edição de Março/Abril de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pensando as relações centro-periferia hoje


Escrito por Felipe Corrêa como parte do artigo Da Periferia para o Centro - Sujeito revolucionário e transformação social, publicado originalmente como apresentação do livro A Concepção Libertária da Transformação Social Revolucionária, de Rudolf de Jong, lançado por Faísca publicações e FARJ em 2008, de onde o extraímos.

Finalmente, podemos afirmar que o anarquismo, como proposta ideológica de transformação social revolucionária, teve, e ainda tem, muito a oferecer ao campo do socialismo. Esta reflexão sobre a transformação social passa, inevitavelmente, por uma discussão acerca da luta de classes e de seus atores na sociedade de hoje.
Nitidamente, a contradição clássica entre burguesia e o proletariado não dá conta das relações de dominação de hoje. Ao refletirmos sobre a questão da classe no Brasil, podemos relacionar a classificação centro-periferia de Rudolf de Jong com uma série de experiências que apontariam para novos e potenciais sujeitos revolucionários. Os sem-terra, sem-teto, desempregados, catadores de material reciclável, indígenas, camponeses, pequenos produtores, etc., foram (e algumas vezes ainda são) classificados como “lupemproletariado”, tendo negado o seu potencial revolucionário. No entanto, é um fato que esses sujeitos despontam como atores importantes e fundamentais nos movimentos sociais e nas lutas de nosso tempo. Juntamente com trabalhadores e estudantes, podem constituir hoje esta importante aliança de classe em torno do projeto revolucionário.
Para este projeto, o conjunto de classes exploradas tem condições de operar, a partir dos movimentos sociais, transformações sociais significativas. O modelo anarquista de transformação social revolucionária possui aspectos bastante relevantes que podem ajudar a conceber esta transformação.
1- Trabalhar as transformações sociais por fora do Estado, que não deve ser utilizado como um meio, nem como propõe os reformistas, nem como propõem os revolucionários.
2- Reforçar a idéia anarquista de defender a ideologia dentro dos movimentos sociais e não o contrário, quando os movimentos funcionam como correia de transmissão de um partido ou uma ideologia determinada.
3- Sustentar uma interação complementar e dialética entre a organização política e os movimentos sociais (níveis político e social), em que há desenvolvimento mútuo e não há hierarquia e domínio.
4- Reconhecer a inevitabilidade do enfrentamento para a transformação revolucionária, refletindo, de maneira estratégica e tática, como e quando a violência deve ser utilizada, ainda que seja sempre como resposta, e, portanto, uma forma de autodefesa.
5- Conceber formas de atuação que dêem espaço para o envolvimento das bases, lutando com o povo e não por ele ou à frente dele.
6- Eleger os melhores espaços para atuar, buscando movimentos que agrupem militantes que sofrem de maneira mais dura os efeitos do capitalismo e que podem ser grandes aliados na luta de classes.
7- Buscar as bases dos movimentos sociais, construindo um projeto de organização popular que vá de baixo para cima, ou da periferia para o centro, visando à transformação social revolucionária.

* publicado na edição de Setembro/Outubro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

Espaço Underground



União, Revolta, Barulho e ResistênciaVolume 1 – Coletânea, iniciativa da Cru$$ificado$ pelo $i$tema rec.&distro, reunindo bandas de diversas regiões do MS e do Brasil em todas as vertentes da música Punk. Muito protesto e reflexão em 20 faixas de barulho e velocidade.
Contatos: A/C Yuri, R.: Oeiras, 223, Bairro Moreninhas, cep: 79.064-042, Campo Grande/MS.
E-mail: yuri_cphc@hotmail.com

Dizgraça NojentaPlantando a semente – A banda já não está mais na ativa, porém continua divulgando esta pérola do Punk de Dourados. Temas como Anarquismo, luta de classes e alienação são tratados de forma ácida e pungente num Punk Rock sujão e rasteiro.
Contatos: A/C Guilherme E-mail: skatedib@hotmail.com ou Kleber Email: kleber.birigui@hotmail.com

OssáriosDesgraça e Fronteira – Primeira demo da banda, calcada num som Grind/Death/Thrash, debatendo a violência e chacinas realizadas pelo antigo GOF e por grupos de extermínio na fronteira MS/Paraguai. Com introduções tiradas de matérias transmitidas via TV nacionalmente.

OssáriosOcupação de Latifúndio – Single, antecede a nova demo “Genocídio de Fazendeiros”, e traz além da faixa título, um Thrash/Crossover bem pesadão, vídeos da banda ao vivo como bônus. Classismo proletário e fúria revolucionária pra banguear.
Contatos: A/C João Paulo, R.: Belo Horizonte, 420, Jardim Independência, cep: 79.814-420, Dourados/MS. E-mail: paulomarin22@hotmail.com

PantanuEscolha seu caminho – Banda que não está fazendo shows, porém continua distribuindo sua demo. A música é um Crossover com influência do som pesado moderno, e debate temas como guerras, revolução, televisão, além de ter uma proposta de vinculação com os quadrinhos. No CD tem as músicas e mais uma série de dados como vídeos, fotos, o gibi Pantanu, etc.
Contatos: A/C Matarrico E-mail: bandapantanu@hotmail.com



* publicado na edição de Fevereiro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

Gibis AÇÃO DIRETA em Quadrinhos


Atenção companheirada
Conheçam o gibi Ação Direta em Quadrinhos, uma iniciativa de desenhistas ligados ao Movimento Anarco Punk. Já saiu duas edições, no melhor estilo “faça você mesmo”, com divertidas e militantes historinhas.
Clique no link abaixo e leia, faça download e divulgue esta iniciativa:
www.anarcopunk.org/acaodireta

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Polícia invade sede da Federação Anarquista Gaúcha/FAG


1º Comunicado

Neste exato momento – quinta-feira, 29 de outubro de 2009, a partir das 16 horas - a Polícia Civil do RS sob o comando da governadora Yeda Crusius promove diligência na sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG). O mandado de segurança do governo busca apreender material de propaganda política contra o governo acusado de corrupção. Os cartazes abordam o empréstimo junto ao Banco Mundial e o assassinato do sem-terra Eltom Brum. Este ato é pura provocação do Executivo gaúcho, atravessado por atos de corrupção e situações até hoje sem explicação, como a morte de Marcelo Cavalcante em fevereiro desse ano. Convocamos as forças vivas da esquerda gaúcha para reagirmos de forma unificada contra mais esse desmando.

Solidariamente,
Federação Anarquista Gaúcha (FAG)


2º Comunicado

Material de propaganda e CPU da FAG apreendidos

Nesse momento, quinta-feira, 29 de outubro, 2009, às 17h31, temos compas respondendo na 17ª DP, localizada na rua Voluntários da Pátria, 1500, perto da Rodoviária de Porto Alegre. A Polícia Civil apreendeu material impresso, chapas de cartazes e inclusive a CPU do computador da sede. Isso se trata de uma conspiração oficial para atacar uma das forças da esquerda não parlamentar e com base social real no RS!Era de se esperar uma reação como essa, em função da FAG sempre haver atuado com modéstia mas tenacidade, sendo das mais aguerridas em todas as circunstâncias na defesa dos interesses e objetivos estratégicos do povo gaúcho. Vamos fazer uma denúncia pública e provar para as classes oprimidas do RS a natureza desse ataque vil sob ordem de um governo acusado dos mais graves crimes.

Não tá morto quem peleia!

Federação Anarquista Gaúcha (FAG)


3º Comunicado

Toda a solidariedade para com a FAG! Antes a repressão foi contra o sem terra Eltom, hoje é na sede da FAG, amanhã quem será?A repressão do governo Yeda foi além do esperado. Dois compas foram processados e responderam a processo de parte de um governo acusado de dezenas de crimes, e alvo de investigações federais em seqüência. Até a repressão do Estado liberal-burguês vê a esta gestão como alegando investigar uma propaganda contra a sua gestão, a polícia civil do RS apreendeu documentos internos da Federação Anarquista Gaúcha, intimouaqueles que mesmo prestando apenas a sua solidariedade constavam de registros da página de internet da organização. Não bastasse a apreensão da CPU e do backup do computador, levaram documentos internos (como ata de reuniões), material de propaganda público e até os resíduos que estavam na lixeira da sede.Imediatamente a solidariedade de classe se fez notar, repercutindo no Rio Grande do Sul, por todo o Brasil, na América Latina e, a partir da Espanha, por organizações anarquistas e movimentos populares de todo o mundo.Pedimos a solidariedade de companheiras e companheiros para difundirem etraduzirem esta três notas em seqüência.


Solidariamente,
Federação Anarquista Gaúcha (FAG)


Campanha pró-sede do Movimento Anarco Punk de São Paulo – MAP/SP


O Movimento Anarco Punk de São Paulo está realizando uma campanha para construção de sua sede na capital paulista, com o objetivo de ampliar e fortalecer a luta libertária através do funcionamento deste espaço.


Contribuições:

Caixa Econômica Federal
Conta: 0166517-0
Agência: 0347
Operação: 013
No nome de Maria Helena B. de Almeida


Mais informações escreva para:

Caixa Postal: 1677
Cep: 01032-970
São Paulo/SP
Aos cuidados de Ana Arco

A frente de classes oprimidas como sujeito revolucionário


Escrito no 11º Congresso da Federación Anarquista Uruguaya (F.A.U.) em 1994, como parte do documento Elementos de Estrategia, de onde o extraímos e traduzimos.


Nós temos estabelecido, em primeiro lugar, a necessidade de uma solução popular como conseqüência de um longo processo de lutas de orientação revolucionária, em segundo, o necessário protagonismo das organizações populares de base e, em terceiro lugar uma nova e inédita estrutura político-social que articule adequadamente o protagonismo do povo. Uma nova estrutura anti-autoritária por excelência, que é anunciada desde o surgimento do socialismo pelos libertários, ainda que em traços muito gerais e insuficientes.
Estes elementos são partes fundamentais de nossa estratégia de poder popular, são condições insubstituíveis de um percurso autenticamente socialista e libertário na peripécia revolucionária de nossos povos.
Contudo, precisam de um complemento indispensável ou de uma maior definição do sujeito revolucionário e de suas bases estruturais no que diz respeito a seu conteúdo de classe. Para tanto, definiremos esquematicamente o tema no que é essencial para os resultados deste trabalho. Como temos visto, as relações de dominação próprias de uma determinada sociedade se originam no elemento constitutivo das classes sociais.
Por outra parte, as relações de dominação existentes no interior de uma sociedade concreta, não só recusam qualquer tipo de simplificação que melhor determinam um complexo espectro de classes sociais e das lutas das classes que as acompanham.
O que certamente podemos e devemos determinar, grosso modo, nos marcos de uma complexa e diversa luta de classes, é o conjunto de classes oprimidas que por sua situação social, por sua condição de segmentos dominados da sociedade, estão chamados a constituírem-se no eixo e no motor de mudanças sociais de possibilidades revolucionárias.
Para efeito de firmar critérios é necessário levar em conta, em primeira instância, dois elementos:
* o caráter da revolução e
* o espectro das classes nos países latino-americanos.
A revolução que estabelecemos como objetivo final é uma revolução socialista e libertária que, como tal, delimita desde o inicio amigos e inimigos. Uma revolução anticapitalista e anti-autoritária aponta inconfundivelmente para o desaparecimento das relações de dominação e, portanto, contra a sobrevivência de todas as classes e camadas dominantes. É uma revolução que deseja o desaparecimento da burguesia como classe – sem as clássicas restrições filantrópicas do reformismo entre a grande e a pequena burguesia, nacional ou estrangeira, o desaparecimento de latifundiários e dos que vivem de renda, castas militares e hierarquias estatais.
Entre estes setores sociais só um reformismo continuísta pode encontrar aliados. A revolução socialista e libertária, precisamente por seu conteúdo radicalmente anticapitalista e anti-autoritário, só pode encontrar combatentes nas classes oprimidas. Nesse sentido o papel central num processo revolucionário de orientação socialista e libertário equivale às classes oprimidas e, dentre elas muito particularmente a classe trabalhadora.
De nenhuma forma a algum setor da burguesia. Está claro que nos países capitalistas atrasados e dependentes como os latino-americanos – com a particular estrutura econômica e de classe que isso determina – não se pode pensar nas possibilidades de uma revolução protagonizada exclusivamente pelos núcleos do proletariado fabril e possivelmente nem sequer pelos assalariados em sua totalidade.
Menos ainda neste momento histórico, onde, por exemplo, nosso continente tem enormes contingentes de desempregados e subempregados. Onde as estatísticas nos dizem que mais da metade de seus habitantes estão abaixo da linha da pobreza.
É preciso pensar na construção, como ferramenta estratégica básica para um processo de revolução social, de uma frente de classes oprimidas que busque ter como núcleo central a classe operária, mas que inclua além destes os trabalhadores rurais, a grande diversidade de trabalhadores por conta própria – setor progressivamente engrossado pela crise e pelas respostas do sistema ante as mudanças tecnológicas -, aos excluídos que reivindicam trabalho, aos estudantes – setor potencialmente assalariado no contexto de reorganização produtiva capitalista – chamado a constituir-se em proletariado cientifico e tecnológico.
Em traços gerais, então, a frente de classes oprimidas a que fazemos referencia se constitui como uma rede de relações permanentes, ligada programaticamente, da multiplicidade de organizações de base capazes de expressar na luta os interesses imediatos destes setores sociais e de desenvolvê-los e aprofunda-los no sentido de metas e orientações de tipo transformador e socialista. Frente de classes oprimidas que irá configurando em seu desenvolvimento as formas organizativas eficientes para a luta e o avanço.
O conjunto dos setores oprimidos conta com um poder em estado latente: o poder de decidir o funcionamento ou a paralisação da sociedade e do sistema de dominação. Este poder latente é a raiz do poder popular, para cuja realização se requer uma ampla série de intervenções.
Entre elas, e não precisamente a menos importante, se exige uma plena tomada de consciência socialista e revolucionária.
Mas na dinâmica imperativamente coercitiva do sistema de dominação, não é suficiente apenas um povo favorável e bem disposto à mudança – obviamente, muito menos um com potencialidades que em nada se expressam -: é imprescindível contar com o povo organizado e em luta pelas mudanças.
Este pode ser o combate deste momento na América Latina, em nosso Uruguai. Muito variadas podem ser as formas de mobilização e resistência, de reivindicações, das classes oprimidas.
Este combate exige colocar-se a altura do inimigo em organização, em técnica, em preparação para a luta em suas diferentes formas, mas superando-os em moral, em democracia interna, em firmeza ideológica. Abre-se uma nova etapa, para uma velha esperança de justiça e liberdade, que demandará esforços redobrados.



* publicado na edição de Março/Abril do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Histórias do Anarquismo em Dourados: jornal burguês “Diário MS” noticia atuação de Punks em 2005


Noite de 01 de Março de 2005, estudantes universitários e secundaristas, num intenso processo de mobilizações e protestos, lotam a câmara municipal de Dourados na luta pelo Passe Livre estudantil, que havia sido extinto numa manobra da empresa Medianeira, prefeitura e vereadores no período de férias letivas no fim de 2004. Um debate tenso, onde as centenas de manifestantes pressionaram e encurralaram os vereadores. Dentre os estudantes vários faziam parte do Movimento Anarco Punk, que junto com o Movimento Estudantil Autônomo compunham a ala socialista libertária da juventude douradense.
Durante esta noite a presença dos Punks causa grande espanto nos políticos e um impacto extremamente positivo junto aos estudantes, especialmente aos das escolas secundaristas da periferia da cidade. Durante os debates companheiros libertários tomam a palavra, sendo apoiados de imediato pelos manifestantes. Os vereadores decidem encerrar o debate, pois segundo eles estava impossível “trabalharem”. Os ânimos do protesto exaltam-se. Alguns políticos tentam sair despercebidos pelo fundo, porém sua manobra é notada por companheiros que rapidamente dirigem-se para o portão do estacionamento. Dezenas de estudantes empurram de volta ao estacionamento os carros dos fujões. A polícia intervém e fecha o portão. Chegam reforços policiais. Depois de uma rápida manifestação contra a intervenção policial os manifestantes saem em marcha em direção ao transbordo. 21:00 horas da noite e a multidão corta o centro da cidade em protesto.
A imprensa burguesa, assustada, cala-se sem saber o que dizer por dois dias. No dia 03 de Março o jornal burguês “Diário MS” lança uma pequena nota, com uma caricatura dos Punks, em que dizia:
“O movimento punk agitou o protesto dos estudantes, terça-feira na Câmara de Dourados. Os punks são defensores do anarquismo. Os rapazes de cabelo em pé chamaram a atenção dos demais visitantes do Legislativo.”
A partir daí a imprensa declararia guerra aos Punks e Anarquistas em Dourados. Mas isso é assunto pra outra história.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Distribua o jornal O Libertário


Atenção Companheiros,

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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Entrevista com a Federação Anarquista do Rio de Janeiro/FARJ


1- Como surgiu a FARJ?

A FARJ foi fundada no dia 30 de agosto de 2003, mas originou-se de um processo iniciado 15 anos antes, quando houve uma primeira rearticulação dos anarquistas cariocas a partir do Círculo de Estudos Libertários (CEL). O CEL, idealizado por Ideal Peres e Esther Redes, veio a reunir em suas atividades semanais, militantes libertários que haviam atuado antes e durante a ditadura militar, e jovens recém-chegados ao anarquismo. Desse contato entre gerações, muita coisa começou a surgir, como os primeiros grupos anarquistas pós-ditadura, publicações e eventos libertários, manifestações de 1º de maio, militância estudantil libertária. No CEL, os mais jovens se aprofundavam na história e na teoria anarquista, bem como conheciam a rica trajetória do movimento libertário no Brasil. Ideal Peres, filho de Juan Perez, importante militante anarquista e sindicalista nos anos 20 e 30, havia convivido com José Oiticica, Edgar Leuenroth, Diamantino Augusto, Pedro Catalo, Manuel Perez e muitos outros. Foi Ideal quem conectou essa nova geração de militantes com o passado de lutas do anarquismo brasileiro. Com a morte desse companheiro, em agosto de 1995, o CEL passou a se chamar Círculo de Estudos Libertários Ideal Peres (CELIP). Foi mais ou menos nessa época que conhecemos a linha política e as experiências sociais da Federação Anarquista Uruguaia (FAU) e, a partir daí, começou um processo denominado Construção Anarquista Brasileira (CAB) que, com altos e baixos, evoluiu rapidamente a partir da segunda metade da década de 90. Resumidamente, a CAB propunha a formação de organizações específicas que retomassem o vetor social perdido pelo anarquismo brasileiro desde os anos 30. A primeira dessas organizações formada no país foi a Federação Anarquista Gaúcha (FAG). O Libera...Amore Mio, informativo do CELIP, foi um dos principais divulgadores e incentivadores desta retomada de um Anarquismo Social. Desde meados dos anos 90, vínhamos tendo algumas experiências importantes, como a participação na ocupação do edifício-sede da Petrobras, em algumas ocupações de sem-teto e no movimento estudantil. Em 2002, os anarquistas ligados ao CELIP e à Biblioteca Social Fábio Luz, iniciaram um grupo de estudos sobre formas de organização anarquista. Reuníamos-nos mensalmente para discutir textos clássicos e atuais, o que nos serviu para fundamentar a experiência prática até então acumulada, bem como canalizar todo um potencial de atuação social que se abria à nossa frente. No final de agosto de 2003, fundamos a FARJ.


2- Como é a estrutura da organização?

Vocês são organizados por todo o estado ou só na capital? Estamos organizados somente na cidade do Rio de Janeiro. Há militantes de outras cidades da Região Metropolitana, mas todos participam de uma única organização que é dividida em três frentes: movimentos sociais urbanos, comunitária e anarquismo e natureza. Dentro da organização há funções internas (secretariados de formação política, comunicações e relações, organização, finanças e infra-estrutura) e as funções externas que são desenvolvidas no âmbito das frentes. Cada frente é envolvida com uma ou mais tarefas práticas, tendo como ênfase a criação e/ou participação nos movimentos sociais. Portanto, todos os militantes da organização desenvolvem estas tarefas internas e externas. Há ainda uma outra instância, dos militantes de apoio, que são pessoas do RJ e de fora que possuem interesse em ajudar a FARJ em seus trabalhos (internos e externos). A diferença é que os militantes, por terem maior nível de compromisso, têm mais direitos e mais deveres. Os militantes de apoio, com menor nível de compromisso, têm menos direitos e menos deveres. A idéia é que cada um delibere sobre aquilo que poderá realizar. A organização é regida por um programa, que chamamos “Anarquismo Social e Organização”, que aprovamos no Congresso de 2008 e que publicamos há algum tempo em livro.


3- Quais são os principais trabalhos que a FARJ vem executando?
Frente de Movimentos Sociais Urbanos. Vem realizando um trabalho permanente com as ocupações urbanas do Rio de Janeiro desde 2003, e dando continuidade às experiências que tivemos com o movimento sem-teto ainda na década de 1990. Esta frente encampa também, neste momento, a reconstrução do Movimento dos Trabalhadores Desempregados do Rio de Janeiro (MTD), que luta pelo trabalho em todo o país, e existe no Rio de Janeiro desde 2001. O MTD retoma sua força agora, se rearticulando e nucleando pessoas de comunidades e favelas para a luta. Além disso, esta frente possui relações com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para o qual vem oferecendo, em São Paulo e no Rio de Janeiro, cursos de formação política. A frente está próxima e realiza atividades, também, com outras entidades e movimentos sociais como Assembléia Popular (RJ) e a Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST).

Frente Comunitária. É responsável pelo Centro Cultura Social do Rio de Janeiro (CCS-RJ), um espaço social aberto, que mantemos na zona norte da cidade e que agrega uma série de atividades comunitárias de reciclagem de lixo; reforço escolar e cursinho pré-vestibular para a comunidade do Morro dos Macacos; oficinas de teatro, literatura e cinema; eventos culturais; comemorações e reuniões de diversos tipos. Esta frente também é responsável pela Biblioteca Social Fábio Luz (BSFL), que existe desde 2001 e, no âmbito da qual funciona o Núcleo de Pesquisa Marques da Costa (NPMC) que, fundado em 2004, tem o objetivo de produzir teoria para a organização, além de pesquisar a história do anarquismo no Rio de Janeiro. O NPMC também edita o informativo Emecê, que já está em seu 12º número. Além disso, a frente comunitária é responsável pelo Círculo de Estudos Libertários Ideal Peres (CELIP), espaço público da FARJ que tem o objetivo de realizar palestras, debates e exibições de vídeos para aproximar novos interessados no anarquismo.

Frente Anarquismo e Natureza. Atua em movimentos sociais rurais e agrupamentos que trabalham com agricultura e ecologia social. Ela possui contatos e trabalho com o MST, a Via Campesina e espaços como a Cooperativa Floreal e o Núcleo de Alimentação e Saúde Germinal. Realiza cursos e oficinas pedagógicas em ocupações, favelas, assentamentos, escolas e comunidades pobres. Tudo isso, com o objetivo de resgatar a agricultura, a agroecologia, a ecologia social, a ecoalfabetização e a economia solidária. Busca envolver em suas atividades trabalhadores, militantes dos movimentos sociais e estudantes, além de ajudar a articular a criação de redes entre trabalhadores do campo e da cidade.

Para atender a uma demanda importante, encabeçamos um projeto “transversal”, no qual se inseriram todas as frentes, que se chama Universidade Popular (RJ). Tal proposta desdobrou-se, de fato, em uma iniciativa de educação popular anticapitalista, voltada para a transformação da sociedade, tendo como tática a formação política no seio dos movimentos sociais.


4- Nacionalmente como se dá a relação de vocês com outros anarquistas, especialmente os grupos que não estão em regiões metropolitanas?

Temos relações orgânicas com a Organização Resistência Libertária, de Fortaleza e também com a Pró-Federação Anarquista de São Paulo. Com estas organizações temos contatos freqüentes seja por e-mail, telefone e com alguma periodicidade pessoalmente. Além disso, iniciamos uma aproximação formal com o Fórum do Anarquismo Organizado – FAO (no qual, aos poucos, estamos nos integrando) e suas quatro organizações: Federação Anarquista Gaúcha (Rio Grande do Sul), Rusga Libertária (Mato Grosso), Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares (Alagoas) e Vermelho e Negro (Bahia). Com o FAO estamos começando a trabalhar juntos no periódico Socialismo Libertário e discutindo outras possíveis aproximações (dos níveis político e social). O cenário brasileiro está muito animador para nossa tendência (especifista); há uma intenção mútua de aproximação e de construção de algo em âmbito nacional.


5- Como vem sendo a receptividade do povo carioca para com as propostas libertárias?

Na realidade as propostas que defende a FARJ são materializadas pelas frentes de atuação da organização junto aos movimentos sociais no Rio de Janeiro. Nesse sentido, o que fazemos nos trabalhos com os Sem-Teto, Sem-Terra, Trabalhadores Desempregados, Movimentos de Agroecologia, Sindicatos, Cooperativas de produção e consumo, além da relação com a comunidade onde se localiza o Centro de Cultura Social, é reforçar as premissas desde sempre defendidas pelos libertários. Onde conseguimos inserção, ou mesmo nos locais que freqüentamos sem maiores interferências, fazemos, através da nossa prática e com material impresso, a propaganda do federalismo, da autogestão e da democracia direta. As experiências têm evidenciado que muitos trabalhadores, mesmo quando sequer tiveram contato com a ideologia, afinam-se com as nossas metodologias. Reconhecem nelas valor superior ao centralismo “democrático” dos partidos de esquerda, de definição marxista-leninista, e percebem que não nos encontramos misturados aos meios políticos tradicionais, portanto, sem as práticas oportunistas características da democracia representativa burguesa. A própria falência do modelo tem auxiliado para que as pessoas prestem mais atenção em novas formas de organização. Assim, dentro das nossas possibilidades, com diligência e fiéis aos fins e princípios que norteiam a nossa organização temos conseguido o respeito de muitos, a admiração de alguns e a adesão direta ou não de outros tantos cariocas.Para nós, ainda mais importante, é que a palavra revolução volte a ter o significado popular sem o qual toda e qualquer tentativa de mudança acabará redundando em alterações superficiais no quadro político, sem jamais alcançar os meios sociais.


6- Agradecemos a entrevista e desejamos toda a força para a continuidade da luta da FARJ. O espaço é de vocês.

Obrigado pelas palavras e pelo espaço. Desejamos a vocês também muito sucesso nessa empreitada que sabemos ser difícil, mas extremamente importante, pois o anarquismo precisa retomar os seus vetores sociais. Podem contar conosco naquilo que estiver ao nosso alcance.Um forte e fraternal abraço.Ética, Compromisso e Liberdade!


* publicada na edição de Julho/Agosto do jornal O Libertário, informativo do PAEM.