quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O Sistema Representativo e o Sufrágio Universal


Escrito por Pierre Joseph Proudhon, originalmente publicado na obra Idée de la Révolution au XIX Siècle em 1851, extraído do livro A Propriedade é um Roubo e outros escritos Anarquistas, lançado por L&PM Editores, 1998.

Não há duas espécies de governo, assim como não há duas espécies de religião. O governo é de inspiração divina ou não é; assim como a religião é do céu ou não é nada. Governo democrático e religião natural são duas contradições, a menos que se prefira ver aí duas mistificações. O povo não tem mais voz consultiva no Estado do que na Igreja: seu papel é obedecer e acreditar.
Deste modo, como os princípios não podem falhar que os homens sozinhos têm o privilégio da inconseqüência, o governo, em Rosseau, assim como na Constituição de 91 e todas as que a seguiram, não é sempre, apesar do sistema eleitoral, senão um governo de direito divino, uma autoridade mística e sobrenatural que se impõe à liberdade e à consciência, mesmo parecendo solicitar sua adesão?
Sigai esta seqüência:
Na família, em que a autoridade está intima ao coração do homem, o governo assenta-se na descendência;
Nos costumes selvagens e bárbaros ele se apóia no patriarcado, o que reaparece na categoria precedente, ou pela força;
Nos costumes sacerdotais ele se apóia na fé;
Nos costumes aristocráticos ele se apóia na progenitura ou na casta;
No sistema de Rosseau, tornado o nosso, ele se apóia ou no acaso ou no número.
A descendência, a força, a fé, a progenitura, o acaso, o número, todas coisas igualmente ininteligíveis e impenetráveis, sobre as quais não há nada a objetar, mas a se submeter, tais são, não diria os princípios – tanto a autoridade quanto a liberdade não reconhecem senão elas mesmas por princípios –, mas os diferentes modos pelos quais se efetiva, nas sociedades humanas, a investidura do poder. A um principio primitivo, superior, anterior, indiscutível, o instinto popular sempre procurou uma expressão que foi igualmente primitiva, superior, anterior e indiscutível. No que concerne à produção do poder, a força, a lei, a hereditariedade e o número são a forma variável que reveste este ordálio; são julgamentos de Deus.
É o número que oferece a vosso espírito alguma coisa de mais racional, de mais autêntico, de mais moral do que a fé ou a força? O escrutínio vos parece mais seguro que a tradição ou a hereditariedade? Rousseau invectiva contra o direito do mais forte, como se a força, antes que o número, constituísse a usurpação. Mas o que é então o número? O que prova? Que vale? Qual a relação entre a opinião mais ou menos unânime e sincera dos votantes a esta coisa que domina qualquer opinião, qualquer voto, a verdade, o direito?
O quê! Trata-se de tudo o que me é mais caro, de minha liberdade, de meu trabalho, da subsistência de minha mulher e de meus filhos; e, quando conto convosco para admitir artigos, devolveis tudo a um congresso formado segundo o capricho do acaso? Quando eu me apresento para contratar, vós me dizeis que é preciso eleger árbitros que, sem me conhecer, sem me ouvir, pronunciarão minha absolvição ou minha condenação? Qual a relação, eu vos suplico, entre este congresso e eu? Que garantia ele pode me oferecer? Por que faria este sacrifício enorme, irreparável à sua autoridade, de aceitar o que lhe agrada resolver como sendo a expressão de minha vontade, a justa medida de meus direitos? E, quando este congresso, após os debates aos quais eu não compreendo nada, vem me impor sua decisão como lei, me apresentar esta lei na ponta de uma baioneta, eu pergunto, se é verdade que eu faço parte do soberano, o que vem a ser minha dignidade, se devo me considerar como estipulante, onde está o contrato?
Os deputados, pretende-se, seriam os homens mais capazes, os mais probos, os mais independentes do país; escolhidos como tais por uma elite de cidadãos mais interessados na ordem, na liberdade, no bem-estar dos trabalhadores e no progresso. Iniciativa sabiamente concebida, que afiança a bondade dos candidatos!
Mas por que então os honorários burgueses componentes da classe média sabem melhor que eu mesmo dos meus verdadeiros interesses? Trata-se de meu trabalho, observais então, da troca de meu trabalho, a coisa que, após o amor, sofre menos a autoridade. (...)
(...) E vós ireis entregar meu trabalho, meu amor, por procuração, sem meu consentimento! Quem me diz que vossos procuradores não usarão de seu privilégio para fazer do poder um instrumento de exploração? Quem me garante que seu pequeno número não os entregará, pés, mãos e consciências amarrados, à corrupção? E, se eles não querem se deixar corromper, se eles não conseguem ser razoáveis à autoridade, quem me assegura que a autoridade desejará se submeter?
(...) A solução está encontrada, bradam os intrépidos. Que todos os cidadãos participem do voto; não haverá poder que lhes resista, nem sedução que os corrompa. É o que pensaram, no dia seguinte a Fevereiro, os fundadores da República.
Alguns acrescentam: que o mandato seja imperativo, o representante perpetuamente revogável; e a integridade da lei estará garantida, a fidelidade do legislador, assegurada.
Nós entramos no atoleiro.
Não acredito de maneira alguma, justificadamente, nesta intuição divinatória da multidão, que a faria discernir, logo de imediato, o mérito e a honorabilidade dos candidatos. Os exemplos são abundantes em personagens eleitos por aclamação e que, sobre as bandeiras em que se ofereciam aos olhos do povo arrebatado, já preparavam a trama de suas traições. Entre dez tratantes, o povo, em seus comícios, quase que não encontra um homem honesto...
Mas que me interessam, ainda uma vez, todas estas eleições? Que necessidade tenho de mandatários, tanto como de representantes? E, já que é preciso que eu determine minha vontade, não posso exprimi-la sem a ajuda de ninguém? Isto me custará mais e, além disso, não estou mais certo de mim do que de meu advogado?
Dizem-me que é preciso acabar com isso; que é impossível que eu me ocupe com tantos interesses diversos; que afinal de contas um conselho de árbitros, cujos membros teriam sido nomeados por todas as vozes do povo, promete uma aproximação da verdade e do direito bem superior à justiça de uma monarca irresponsável, representados por ministros insolentes, e magistrados cuja inamovibilidade mantém-se, como o príncipe, fora de minha esfera.
Primeiro, não vejo absolutamente a necessidade de se decidir a este preço: não vejo, sobretudo, que algo seja decidido. Nem a eleição nem o voto, mesmo unânimes, resolvem algo. Depois, há sessenta anos nós praticamos uma e outro em todos os graus, e que decidimos? O que nós somente definimos? Que luz o povo obteve de suas assembléias? Quais as garantias conquistadas? Quando se lhe fizer reiterar, dez vezes ao ano, seu mandato, renovar todos os meses seus oficiais municipais e seus juízes, isto acrescentará um cêntimo à sua renda? Estaria mais seguro, ao se deitar em cada dia, de ter no dia seguinte o que comer e do que sustentar seus filhos? Poderia somente responder que não se virá prendê-lo, arrastá-lo à prisão?
Compreendo que sobre questões que não são suscetíveis de uma solução regular, para interesses medíocres, incidentes sem importância, se submeta a uma decisão arbitral. Semelhantes transações têm isto de moral, de consolador, pois elas atestam nas almas alguma coisa de superior até mesmo à justiça, o sentimento fraternal. Mas sobre princípios, sobre a própria essência dos direitos, sobre a direção a imprimir à sociedade; mas sobre a organização das forças industriais; mas sobre meu trabalho, minha subsistência, minha vida; mas sobre esta hipótese até do governo que nós agitamos, recuso qualquer autoridade presuntiva, qualquer solução indireta; não reconheço nenhum conclave; quero tratar diretamente, individualmente, por mim mesmo; o sufrágio universal é, a meus olhos, uma verdadeira loteria.



* Publicado na edição de Janeiro/Fevereiro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Princípios e Bases de Acordo do Movimento Poder Popular


A atual organização da sociedade que vivemos é marcada pela desigualdade, pela injustiça, pela opressão e pela exploração dos trabalhadores e moradores da periferia, a maioria da população, em proveito de uma minoria rica e dominante. Em todos os níveis da nossa vida, do local em que moramos ao local de trabalho, estas características enraízam-se e transformam-se num pesado fardo e num árduo obstáculo à satisfação de nossas necessidades e realização de nossos sonhos.
Entendemos que esta situação não será superada nem pela benevolência do governo nem pela caridade da minoria dominante. É a luta popular que se apresenta a nós como o caminho a ser percorrido, como a postura a ser adotada, para que consigamos construir uma outra realidade. Buscamos como nosso horizonte a socialização generalizada dos meios de produção, das riquezas produzidas e do conjunto pleno das decisões políticas.
Vemos com clareza o rearranjo contemporâneo das categorias e funções que os trabalhadores ocupam no processo produtivo, rearranjo este articulado pela e em benefício da classe rica e dominante, e a organização do espaço geográfico de nossa cidade que nos empurra para os subúrbios e áreas periféricas. Sendo assim elegemos nossos bairros, nossa periferia, como o espaço privilegiado para o semear de nossa proposta e a estruturação de nosso movimento.


O que é o Movimento Poder Popular?

É um movimento social comunitário, estruturando-se e existindo pela periferia de Dourados-MS, com caráter autônomo e de luta, que se pauta pelos princípios da ação direta, classismo, democracia direta e orientação revolucionária.
O Movimento Poder Popular atua com a intenção de desenvolver e fortalecer uma rede de resistência e solidariedade nos bairros pobres, convergindo para dentro de si uma série de projetos e mecanismos que vão da formação política à criação artística, do trabalho pedagógico à economia solidária, cujo objetivo maior é a construção do Socialismo, através de um processo de avanço do poder popular e ruptura revolucionária. Para isso manifestamos abertamente nosso desejo de nos configurarmos como parte de um amplo movimento social em escala nacional.
O Movimento Poder Popular foi fundado em Maio de 2009 e têm nesta declaração de princípios não um projeto acabado, mas um alicerce para a edificação e consolidação de um efetivo empoderamento dos bairros da periferia de nossa cidade.


Os princípios que nos guiam

Ação Direta: é a prática política onde os agentes sociais decidem e agem diretamente, sem intermediários, em tudo àquilo que diz respeito ou se relacione com a situação de suas vidas. É um método de combate à burocratização, corrupção e hierarquização dos movimentos sociais. É um primeiro passo no processo de empoderamento do povo trabalhador, garantindo a este povo o protagonismo e o controle dos rumos de suas lutas;

Classismo: é o reconhecimento de que a sociedade é dividida em classes: uma que é rica e poderosa, a classe dominante, e um conjunto de outras classes que são exploradas e oprimidas, o povo pobre e trabalhador. É um posicionamento aberto junto às classes oprimidas, das quais fazemos parte enquanto indivíduos, contra a classe rica, opressora e dominante. É a afirmação da solidariedade integral para com todo o espectro de classes e categorias que formam nosso povo trabalhador.


Democracia Direta: é o método decisório que garante a plena participação de todos os envolvidos, através da análise e do debate amplo e coletivo. É a negação da democracia burguesa representativa, onde profissionais da política tomam para si o poder decisório deixando ao povo apenas a ficção da escolha de seus representantes. É a garantia da horizontalidade interna dos movimentos sociais, trazendo para o foco dos debates toda a gama de indivíduos que compõem os movimentos. É a forma de se possibilitar a participação de grandes grupos de pessoas, através da delegação imperativa e rotativa;


Orientação Revolucionária: é o objetivo de longo prazo a ser alcançado pelo povo pobre, a Revolução Social e socialização generalizada dos meios de produção, das riquezas produzidas e das decisões políticas. É o que nos dá clareza para avançar através de cada pequena conquista ou construção, sem nos deixar perder por caminhos reformistas.

Nossa Organização

Compreendemos que o entendimento e a organização é a única forma de articular, fortalecer e coordenar nossas forças e ações. Por isso o Movimento Poder Popular organiza-se nos bairros da periferia de nossa cidade, convergindo para dentro de si uma série de projetos e mecanismos, em duas instâncias:


Núcleo de Bairro: formado dentro e com o nome do bairro, reúne os indivíduos e iniciativas que residem na localidade. Exemplo: Núcleo CoHab II, Núcleo Cachoeirinha, Núcleo João Paulo II, etc.


Núcleo de Trabalho: formado dentro do Núcleo de Bairro, reúne os indivíduos que atuam dentro de um projeto específico. Exemplo: Núcleo Agricultura Urbana, Núcleo Contra-Cultura, Núcleo Formação Política, etc.

Como instâncias decisórias gerais firmam-se:


Assembléia Geral de Núcleos: que é formada por todos os núcleos ligados ao Movimento Poder Popular na cidade, e reúne-se de forma extraordinária sempre que houver a demanda e a convocação de um Núcleo de Bairro;


Congresso do Movimento Poder Popular: que é formado por todos os núcleos ligados ao Movimento Poder Popular, e deve acontecer de forma ordinária anualmente, sendo que em cada ocasião um Núcleo de Bairro ficará responsável de organizar e receber o evento;
Entendendo que o nosso objetivo de longo prazo, a Revolução Social e a construção da socialização generalizada dos meios de produção, das riquezas produzidas e das decisões políticas, não será um fenômeno conquistado por nosso movimento de forma isolada, o Movimento Poder Popular busca, agora e abertamente, a sua configuração como parte integrante de um amplo movimento social organizado nacionalmente, com laços fraternos com o povo trabalhador de outros países, que tenha como princípios e objetivos os mesmos que reivindicamos no presente documento. Só assim, acreditamos, poderemos empreender de forma eficaz a batalha à qual nos propomos.

Bases de Acordo

1 - Caráter, Princípios e Objetivos
O Movimento Poder Popular é um movimento social comunitário, estruturando-se e existindo pela periferia de Dourados-MS, com caráter autônomo e de luta, que se pauta pelos princípios da ação direta, classismo, democracia direta e orientação revolucionária;
O Movimento Poder Popular atua com a intenção de desenvolver e fortalecer uma rede de resistência e solidariedade nos bairros pobres, convergindo para dentro de si uma série de projetos e mecanismos que vão da formação política à criação artística, do trabalho pedagógico à economia solidária;
O Movimento Poder Popular busca, agora e abertamente, a sua configuração como parte integrante de um amplo movimento social organizado nacionalmente, com laços fraternos com o povo trabalhador de outros países;
O Movimento Poder Popular tem como objetivo de longo prazo a Revolução Social e a construção da socialização generalizada dos meios de produção, das riquezas produzidas e das decisões políticas.

2 – Composição
O Movimento Poder Popular é um movimento social comunitário que pode ser composto por:
Mulheres, homens, jovens, idosos e crianças que residam nos bairros da periferia de nossa cidade;

Grupos e tendências que atuem em associações de moradores, grêmios escolares, clubes e outros espaços nos bairros da periferia de nossa cidade;

Grupos e atividades de cunho pedagógico, artístico e/ou formador que atuem nos bairros da periferia de nossa cidade;

Grupos e iniciativas de caráter reivindicativo que lutem por melhorias das condições de vida nos bairros da periferia de nossa cidade;

Alternativas e propostas de auto-sustento, geração de renda e economia solidária;

Indivíduos que tenham afinidade com nossa proposta;



3 – Critérios para ingresso e/ou formação de núcleos


Ingresso de indivíduos no Movimento Poder Popular:
Apresentação de uma carta de intenções pessoal, escrita ou falada, perante reunião do Núcleo de Bairro em que deseja ingressar;

Aceitação consensual dos membros que já participam do Núcleo de Bairro em que está sendo solicitada adesão;

Formação de Núcleos de Trabalho:
Apresentação de uma carta de intenções e do projeto para o Núcleo de Bairro onde a atividade será realizada;

Aceitação consensual do conjunto de membros que participam do Núcleo de Bairro em que o Núcleo de Trabalho será formado;

Formação de Núcleos de Bairro:
Apresentação de uma carta de intenções para o conjunto dos Núcleos de Bairro já existentes;

Aceitação consensual do conjunto de Núcleos de Bairro já existentes, através de plenária da Assembléia Geral de Núcleos,



4 – Instâncias

Núcleo de Bairro: formado dentro e com o nome do bairro, reúne os indivíduos e iniciativas que residem na localidade. Exemplo: Núcleo CoHab II, Núcleo Cachoeirinha, Núcleo João Paulo II, etc.

Núcleo de Trabalho: formado dentro do Núcleo de Bairro, reúne os indivíduos que atuam dentro de um projeto específico. Exemplo: Núcleo Agricultura Urbana, Núcleo Contra-Cultura, Núcleo Formação Política, etc.

Assembléia Geral de Núcleos: é formada por todos os núcleos ligados ao Movimento Poder Popular na cidade, e reúne-se de forma extraordinária sempre que houver a demanda e/ou a convocação de um dos Núcleos de Bairro;

Congresso do Movimento Poder Popular: é formado por todos os núcleos ligados ao Movimento Poder Popular, e deve acontecer de forma ordinária anualmente, sendo que em cada ocasião um Núcleo de Bairro ficará responsável de organizar e receber o evento;

5 - Método Decisório

O método decisório do Movimento Poder Popular é fiel ao princípio da democracia direta garantindo a unidade na ação. Todas as decisões serão tomadas por consenso, nos casos onde isso não ocorrer realiza-se votação por maioria. A posição da minoria deve ser registrada para avaliação posterior.

6 –Simbologia
O Movimento Poder Popular tem como símbolos as cores vermelho e preto e o slogan “Nem político, nem patrão!”. Todavia uma bandeira e simbologia definitivas devem ser escolhidas na ocasião da realização de seu I Congresso e da sua adesão a um amplo movimento social organizado nacionalmente, com laços fraternos com o povo trabalhador de outros países, que tenha como princípios e objetivos os mesmos que reivindicamos no presente documento.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Nossa Organização


Escrito por Nestor Makhno, originalmente publicado em Dielo Trouda nº 4, em setembro de 1925, extraído do livro Anarquia e Organização, lançado por coletivo Luta Libertária em 2001.


A atual situação enfrentada pelo proletariado mundial exige uma tensão máxima do pensamento e da energia dos anarquistas revolucionários, para esclarecer as questões mais importantes.
Nossos camaradas, que desempenharam um papel ativo na revolução russa e continuam fiéis às suas convicções, sabem de que maneira funesta se fez sentir em nosso movimento, a ausência de uma sólida organização. Esses camaradas estão bem situados para ser particularmente úteis na tarefa de unificação atualmente empreendida. Suponho que não lhes passou despercebido que o anarquismo foi um fator de insurreição nas massas trabalhadoras revolucionárias, na Rússia e na Ucrânia, incitando-as à luta por toda parte.
Contudo, a ausência de uma grande organização específica, que contraponha suas forças vivas aos inimigos da revolução, tornou os anarquistas incapazes de assumir uma função organizativa. A tarefa libertária na revolução sofreu as pesadas conseqüências dessa incapacidade. Conscientes dessa limitação, os anarquistas russos e ucranianos não devem permitir que tal fato se repita. A lição do passado é demasiado penosa e, por não a terem esquecido, eles devem ser os primeiros a dar o exemplo de coesão de suas forças.
Como? Criando uma organização que possa cumprir as tarefas do anarquismo, não somente no momento de preparar a revolução social, mas igualmente depois. Uma tal organização deve unir todas as forças revolucionárias do anarquismo, e se ocupar imediatamente da preparação das massas para a revolução social e para a luta pela realização da sociedade anarquista. Se bem que a maioria dos anarquistas reconhece a necessidade de uma tal organização, é lamentável constatar que são poucos os que se preocupam com a seriedade e a constância indispensáveis. Neste momento, os acontecimentos se precipitam em toda Europa, inclusive na Rússia, prisioneira dos bolcheviques. Está próximo o dia em que será necessário participarmos ativamente dos acontecimentos. Se nos apresentarmos outra vez sem estarmos organizados, previamente e de maneira adequada, seremos novamente incapazes de impedir que os acontecimentos evoluam no turbilhão dos sistemas estatais.
O anarquismo se insere e vive concretamente por toda a parte onde há vida humana. Em contrapartida, ele não se torna compreensível para todos, a não ser onde e quando existem os propagandistas e os militantes que romperam sincera e inteiramente com a psicologia de submissão desta época, eis por que são ferozmente perseguidos. Esses militantes agem de acordo com suas convicções, desinteressadamente, sem medo de descobrir, em seu processo de desenvolvimento, aspectos desconhecidos, para assimilar, ao fim e ao cabo, o que se fizer necessário para a vitória contra o espírito de submissão. Duas teses decorrem do que acima foi dito: - a primeira, é que o anarquismo conhece expressões e manifestações diversas, mas conserva uma prefeita integridade em sua essência. – a segunda, é que o anarquismo é naturalmente revolucionário e, na luta contra seus inimigos, só pode adotar métodos revolucionários.
No decorrer de seu combate revolucionário, o anarquismo não somente derruba os governos e suprime suas leis, mas se ocupa também da sociedade em que nasceu, de seus valores, seus costumes e sua “moral”, o que lhe vale ser cada vez mais compreendido e assimilado pela maioria oprimida da humanidade.
Tudo isso nos convence de que o anarquismo não pode continuar aprisionado nos limites de um pensamento marginal e reivindicado unicamente por uns poucos grupelhos, em suas ações isoladas. Sua influência natural sobre a mentalidade dos grupos humanos em luta é mais do que evidente. Para que esta influência seja assimilada de modo consciente, ele deve doravante se munir de novos meios e iniciar desde já o caminho das práticas sociais.

* publicado em outubro de 2006 na edição de estréia do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Edição Novembro/Dezembro 2009 de O Libertário


Companheiros

Já saiu a edição Novembro/Dezembro 2009 de nosso jornal O Libertário,

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Distribuam a versão impressa e contribuam com a continuidade e fortalecimento do nosso jornal.

Pacote distribuição 10 exemplares – R$ 8,00

Pacote distribuição 20 exemplares – R$ 15,00

Frete já incluso

O dinheiro deve ser enviado, bem camuflado, em carta para:

Miguel Bacunin

Caixa Postal: 17

Cep: 79804-970

Dourados/MS

Entrem em contato pelo nosso e-mail para conferir se a edição já não está esgotada, ou para discutir outras formas de parceria e contribuição: paraalem@portugalmail.pt

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Iª Ação Antifascista


O Movimento Poder Popular convida:



Dia 06 de Dezembro, domingo, a partir das 17:00hs, na ADUF-Dourados (Associação dos professores da UFGD), vai rolar a Iª Ação Antifascista. com as seguintes atividades:



* som com as bandas:



ACROSS

LEGIÃO DA RIMA

BRÔ MC´S

HARD MATO

SEM CAPUZ

EXPERIMENTA

TERATOS



* Distribuição de Material Antifascista;

* Coleta de assinaturas em prol da demarcação das terras dos povos indígenas;

* Malabares e intervenções diversas;

* Microfone aberto para os presentes;



A entrada é franca. Compareça e fortaleça a luta Antifascista em nossa região.

Redes de agricultura urbana solidária entre vizinhos


Por: Correspondente do PAEM na Nova Zelândia

Atualmente existem, na Austrália e também aqui na Nova Zelândia, diversas iniciativas que se contrapõem ao controle comercial imposto sobre a produção de alimentos por parte de burocratas, políticos e o agronegócio. Em pequenos espaços dentro de cidades surgem pequenos canteiros coletivos. Pessoas interessadas em produzir alimentos para o próprio consumo se organizam para cultivar coletivamente canteiros de variadas culturas. Aparecem os primeiros passos rumo à ruptura com a dependência de alimentos de origem e qualidade duvidosa, controlados financeiramente pelas empresas do agronegócio e bancos de sementes. Alguém empresta as poucas ferramentas velhas, outro cede o espaço no fundo do quintal da casa, o esterco logo aparece e os primeiros canteiros são erguidos. O composto fertilizante logo passa a ser preparado regularmente pelos próprios membros, através da reutilização do lixo orgânico, e detritos naturais ao redor da cidade. Novos interessados aparecem e começam a ajudar, seja regando, removendo as ervas daninhas, ajudando na compostagem, cedendo novos espaços para o cultivo. O ato de plantar logo vira um prazer entre os envolvidos, as crianças e os idosos também começam a participar na manutenção dos canteiros, todos fazendo algo para que os frutos apareçam. Em poucos meses o grupo de pessoas começa a desfrutar da saborosa horta cultivada com as próprias mãos. Logo que a rede está formada os envolvidos promovem a livre troca entre os alimentos produzidos. Ocorre de uma determinada pessoa plantar algum determinado alimento e não ter condições de cultivar outros, porem ele pode trocá-lo na rede por outros gêneros. A comida então passa a sair do controle da classe dominante, e a própria comunidade começa a se alimentar por conta própria sem favorecer aos inúmeros intermediários que encarecem o preço dos alimentos, como as grandes redes de supermercados.
Exemplo como esse está sendo desenvolvido na pequena vila de Sanford na Austrália. Peter Kearney, um pequeno agricultor da localidade que trabalha com a agricultura biodinâmica cedeu o quintal de sua casa para a vizinhança desenvolver junto com ele, e de maneira coletiva, uma expressiva horta com diversos tipos de hortaliças, onde todos os participantes ajudam no plantio e cultivo da terra. Tudo ocorreu como imaginado, vieram as primeiras colheitas, contando com alimentos de alta qualidade e saborosos, plantados no principio da agricultura orgânica-biodinâmica (com ênfase no não uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos, sementes geneticamente modificadas, levando em consideração diversos fatores na lida com a terra) . Logo a ideia se estendeu e novos moradores da redondeza decidiram a participar organizando novas hortas em diferentes localidades. Com o tempo perceberam que a produção ultrapassou as necessidades do uso dos envolvidos, e surgiram as primeiras redes de troca e venda... Atualmente Peter segue humildemente tocando o jardim e a horta no quintal de sua casa, e também ministra cursos e palestras a respeito, contando até com um site com todas as informações para quem queira se aventurar a produzir a própria comida.
Nesse sentido acreditamos que iniciativas desse tipo, poderiam se tornar uma forte ferramenta de luta contra a forma que a terra vem sendo usada, também possibilitando a construção de redes alternativas de abastecimentos de gêneros alimentícios sem o controle patronal e estatal. Germinando dessa forma as primeiras sementes de uma agricultura ecológica anticapitalista.


* Publicado na edição de Setembro/Outubro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Luta Antifascista Hoje


O fascismo é o regime político que vigorou na Itália dos anos 20 até o fim da II guerra mundial, e teve e tem variações espalhadas por vários cantos do mundo: o nazismo na Alemanha, o franquismo na Espanha, as ditaduras militares no Brasil e América Latina, a vertente de “esquerda” que vigorou na URSS e leste europeu, etc. Este regime foi/é caracterizado pelo acentuado autoritarismo e hierarquização em todos os níveis da vida social, através de ditaduras militares, estado policial totalitário, criminalização de movimentos populares, submissão total dos trabalhadores perante os patrões, controle pleno do pensamento, imprensa e educação pelos burocratas dos partidos dirigentes, e ao contrário do que pode parecer a luta antifascista continua completamente atual.
Como todo projeto político/ideológico, o fascismo também tem seus braços espalhados por amplos setores da sociedade, disseminando “valores” como o racismo, a intolerância, a xenofobia nacionalista, a homofobia, o machismo, e através destes “valores” busca gerar um cenário favorável à sua própria ascensão definitiva ao poder governamental. No Brasil partidos políticos de extrema-direita como o PRONA, o PNSB (nazista), a AIB (integralista) e agremiações pseudo-religiosas como a TFP (Tradição, Família e Propriedade) defendem o projeto nacionalista/fascista dos setores mais conservadores da classe dominante. Estes grupos da extrema-direita têm incentivado e financiado atentados contra moradores de rua, negros, homossexuais, centros de tradição nordestinas, comunidades judaicas, indígenas, imigrantes latinos e militantes sociais em diversas regiões do país. Estes atos de violência são executados por grupos como os skinheads, carecas do Brasil, white power e outros conjuntos de jovens ligados à estas entidades.
Em São Paulo, maior cidade do país, onde estes partidos possuem suas sedes e maior contingente de militantes, o número de atrocidades praticadas por estes facínoras é enorme, o que logicamente têm levado o proletariado a organizar-se e a partir para o enfrentamento a estes canalhas. Em 2000 o adestrador de cães Edson Néri, homossexual, foi espancado até a morte por um grupo de skinheads nazistas, causando grande comoção e revolta por parte da população. Desde então o Movimento Anarco Punk/MAP vem realizando o ato Fevereiro Anti fascista, que a cada ano tem ganhado mais força com a adesão de movimentos de negros, homossexuais, sem teto e vários outros setores do proletariado.
Aqui em Dourados, podemos notar de forma mais escancarada a presença fascista na exploração, humilhações, rapina e assassínios a que os povos indígenas vêm sendo submetidos por latifundiários, burgueses e governantes. E como se não bastasse, grupos de jovens que reivindicam para si o rótulo de nazistas tem tomado corpo em nossa cidade, espalhando sua mensagem de intolerância e discriminação. Contra isto estivemos panfletando nas ruas em fevereiro, e continuaremos dia a dia, esclarecendo a população e buscando apoio e adesão para o fortalecimento desta luta também aqui na nossa região.
Faça também parte desta empreitada combatendo o preconceito em todas as suas formas, e estando atento a movimentações da escória conservadora. Organize-se em seu bairro, escola e local de trabalho para discutir este tema com seus amigos e companheiros. Sendo o fascismo um agravamento do regime da exploração dos trabalhadores pelas classes dominantes, é só com a superação destas mesmas classes que podemos nos ver livres desta funesta ameaça.


Por aqui eles não passarão!




* publicado na edição de Março/Abril de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pensando as relações centro-periferia hoje


Escrito por Felipe Corrêa como parte do artigo Da Periferia para o Centro - Sujeito revolucionário e transformação social, publicado originalmente como apresentação do livro A Concepção Libertária da Transformação Social Revolucionária, de Rudolf de Jong, lançado por Faísca publicações e FARJ em 2008, de onde o extraímos.

Finalmente, podemos afirmar que o anarquismo, como proposta ideológica de transformação social revolucionária, teve, e ainda tem, muito a oferecer ao campo do socialismo. Esta reflexão sobre a transformação social passa, inevitavelmente, por uma discussão acerca da luta de classes e de seus atores na sociedade de hoje.
Nitidamente, a contradição clássica entre burguesia e o proletariado não dá conta das relações de dominação de hoje. Ao refletirmos sobre a questão da classe no Brasil, podemos relacionar a classificação centro-periferia de Rudolf de Jong com uma série de experiências que apontariam para novos e potenciais sujeitos revolucionários. Os sem-terra, sem-teto, desempregados, catadores de material reciclável, indígenas, camponeses, pequenos produtores, etc., foram (e algumas vezes ainda são) classificados como “lupemproletariado”, tendo negado o seu potencial revolucionário. No entanto, é um fato que esses sujeitos despontam como atores importantes e fundamentais nos movimentos sociais e nas lutas de nosso tempo. Juntamente com trabalhadores e estudantes, podem constituir hoje esta importante aliança de classe em torno do projeto revolucionário.
Para este projeto, o conjunto de classes exploradas tem condições de operar, a partir dos movimentos sociais, transformações sociais significativas. O modelo anarquista de transformação social revolucionária possui aspectos bastante relevantes que podem ajudar a conceber esta transformação.
1- Trabalhar as transformações sociais por fora do Estado, que não deve ser utilizado como um meio, nem como propõe os reformistas, nem como propõem os revolucionários.
2- Reforçar a idéia anarquista de defender a ideologia dentro dos movimentos sociais e não o contrário, quando os movimentos funcionam como correia de transmissão de um partido ou uma ideologia determinada.
3- Sustentar uma interação complementar e dialética entre a organização política e os movimentos sociais (níveis político e social), em que há desenvolvimento mútuo e não há hierarquia e domínio.
4- Reconhecer a inevitabilidade do enfrentamento para a transformação revolucionária, refletindo, de maneira estratégica e tática, como e quando a violência deve ser utilizada, ainda que seja sempre como resposta, e, portanto, uma forma de autodefesa.
5- Conceber formas de atuação que dêem espaço para o envolvimento das bases, lutando com o povo e não por ele ou à frente dele.
6- Eleger os melhores espaços para atuar, buscando movimentos que agrupem militantes que sofrem de maneira mais dura os efeitos do capitalismo e que podem ser grandes aliados na luta de classes.
7- Buscar as bases dos movimentos sociais, construindo um projeto de organização popular que vá de baixo para cima, ou da periferia para o centro, visando à transformação social revolucionária.

* publicado na edição de Setembro/Outubro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

Espaço Underground



União, Revolta, Barulho e ResistênciaVolume 1 – Coletânea, iniciativa da Cru$$ificado$ pelo $i$tema rec.&distro, reunindo bandas de diversas regiões do MS e do Brasil em todas as vertentes da música Punk. Muito protesto e reflexão em 20 faixas de barulho e velocidade.
Contatos: A/C Yuri, R.: Oeiras, 223, Bairro Moreninhas, cep: 79.064-042, Campo Grande/MS.
E-mail: yuri_cphc@hotmail.com

Dizgraça NojentaPlantando a semente – A banda já não está mais na ativa, porém continua divulgando esta pérola do Punk de Dourados. Temas como Anarquismo, luta de classes e alienação são tratados de forma ácida e pungente num Punk Rock sujão e rasteiro.
Contatos: A/C Guilherme E-mail: skatedib@hotmail.com ou Kleber Email: kleber.birigui@hotmail.com

OssáriosDesgraça e Fronteira – Primeira demo da banda, calcada num som Grind/Death/Thrash, debatendo a violência e chacinas realizadas pelo antigo GOF e por grupos de extermínio na fronteira MS/Paraguai. Com introduções tiradas de matérias transmitidas via TV nacionalmente.

OssáriosOcupação de Latifúndio – Single, antecede a nova demo “Genocídio de Fazendeiros”, e traz além da faixa título, um Thrash/Crossover bem pesadão, vídeos da banda ao vivo como bônus. Classismo proletário e fúria revolucionária pra banguear.
Contatos: A/C João Paulo, R.: Belo Horizonte, 420, Jardim Independência, cep: 79.814-420, Dourados/MS. E-mail: paulomarin22@hotmail.com

PantanuEscolha seu caminho – Banda que não está fazendo shows, porém continua distribuindo sua demo. A música é um Crossover com influência do som pesado moderno, e debate temas como guerras, revolução, televisão, além de ter uma proposta de vinculação com os quadrinhos. No CD tem as músicas e mais uma série de dados como vídeos, fotos, o gibi Pantanu, etc.
Contatos: A/C Matarrico E-mail: bandapantanu@hotmail.com



* publicado na edição de Fevereiro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.

Gibis AÇÃO DIRETA em Quadrinhos


Atenção companheirada
Conheçam o gibi Ação Direta em Quadrinhos, uma iniciativa de desenhistas ligados ao Movimento Anarco Punk. Já saiu duas edições, no melhor estilo “faça você mesmo”, com divertidas e militantes historinhas.
Clique no link abaixo e leia, faça download e divulgue esta iniciativa:
www.anarcopunk.org/acaodireta