quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Redes de agricultura urbana solidária entre vizinhos


Por: Correspondente do PAEM na Nova Zelândia

Atualmente existem, na Austrália e também aqui na Nova Zelândia, diversas iniciativas que se contrapõem ao controle comercial imposto sobre a produção de alimentos por parte de burocratas, políticos e o agronegócio. Em pequenos espaços dentro de cidades surgem pequenos canteiros coletivos. Pessoas interessadas em produzir alimentos para o próprio consumo se organizam para cultivar coletivamente canteiros de variadas culturas. Aparecem os primeiros passos rumo à ruptura com a dependência de alimentos de origem e qualidade duvidosa, controlados financeiramente pelas empresas do agronegócio e bancos de sementes. Alguém empresta as poucas ferramentas velhas, outro cede o espaço no fundo do quintal da casa, o esterco logo aparece e os primeiros canteiros são erguidos. O composto fertilizante logo passa a ser preparado regularmente pelos próprios membros, através da reutilização do lixo orgânico, e detritos naturais ao redor da cidade. Novos interessados aparecem e começam a ajudar, seja regando, removendo as ervas daninhas, ajudando na compostagem, cedendo novos espaços para o cultivo. O ato de plantar logo vira um prazer entre os envolvidos, as crianças e os idosos também começam a participar na manutenção dos canteiros, todos fazendo algo para que os frutos apareçam. Em poucos meses o grupo de pessoas começa a desfrutar da saborosa horta cultivada com as próprias mãos. Logo que a rede está formada os envolvidos promovem a livre troca entre os alimentos produzidos. Ocorre de uma determinada pessoa plantar algum determinado alimento e não ter condições de cultivar outros, porem ele pode trocá-lo na rede por outros gêneros. A comida então passa a sair do controle da classe dominante, e a própria comunidade começa a se alimentar por conta própria sem favorecer aos inúmeros intermediários que encarecem o preço dos alimentos, como as grandes redes de supermercados.
Exemplo como esse está sendo desenvolvido na pequena vila de Sanford na Austrália. Peter Kearney, um pequeno agricultor da localidade que trabalha com a agricultura biodinâmica cedeu o quintal de sua casa para a vizinhança desenvolver junto com ele, e de maneira coletiva, uma expressiva horta com diversos tipos de hortaliças, onde todos os participantes ajudam no plantio e cultivo da terra. Tudo ocorreu como imaginado, vieram as primeiras colheitas, contando com alimentos de alta qualidade e saborosos, plantados no principio da agricultura orgânica-biodinâmica (com ênfase no não uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos, sementes geneticamente modificadas, levando em consideração diversos fatores na lida com a terra) . Logo a ideia se estendeu e novos moradores da redondeza decidiram a participar organizando novas hortas em diferentes localidades. Com o tempo perceberam que a produção ultrapassou as necessidades do uso dos envolvidos, e surgiram as primeiras redes de troca e venda... Atualmente Peter segue humildemente tocando o jardim e a horta no quintal de sua casa, e também ministra cursos e palestras a respeito, contando até com um site com todas as informações para quem queira se aventurar a produzir a própria comida.
Nesse sentido acreditamos que iniciativas desse tipo, poderiam se tornar uma forte ferramenta de luta contra a forma que a terra vem sendo usada, também possibilitando a construção de redes alternativas de abastecimentos de gêneros alimentícios sem o controle patronal e estatal. Germinando dessa forma as primeiras sementes de uma agricultura ecológica anticapitalista.


* Publicado na edição de Setembro/Outubro de 2009 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.