domingo, 26 de dezembro de 2010

Todas as edições de O LIBERTÁRIO lançadas em 2010

Atenção Comp@s
Segue abaixo para download todas as edições de O LIBERTÁRIO lançadas em 2010. Baixem e divulguem pros seus contatos!



O LIBERTÁRIO Novembro/Dezembro de 2010
* Eleições 2010: neoliberalismo e agronegócio continuam em alta;
* Fora Artuzi e TODAS as máfias: a saga continua ;
* Teoria Anarquista - Sobre a luta dos Anarquistas, de Piotr Kropotkin;
* Mais um ano sem Marçal Tupã-í de Souza, guerreiro Guarani;
* Pela demarcação das terras dos povos Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul, por Amig@s do PAEM;
* Notas;




O LIBERTÁRIO Setembro/Outubro de 2010
* Fora Artuzi e TODAS  as Máfias;
* Movimento Estudantil Autônomo;
* Teoria Anarquista – A igualdade social não será obra da generosidade de ricos, de Élisée Reclus;
* Movimento Poder Popular segue caminhando e construindo;
* Notas;




O LIBERTÁRIO Julho/Agosto de 2010
* Parece que a noiva é a mesma e o penteado também...;
* Disputa judicial para demarcação das terras Guarani Kaiowá em Rio Brilhante ;
* Movimento Poder Popular inicia trabalhos com Associação de Mulheres Indígenas de Dourados;
* Teoria Anarquista – O povo libertado defenderá o regime de igualdade social, de Edgar Leuenroth;
* Poema - Pros que estão embaixo, de Índio Antigo;
* Fóruns conciliadores e institucionalização dos movimentos sociais;
* Notas;



O LIBERTÁRIO Maio/Junho de 2010
* Latifundiários e extrema direita declaram guerra aos povos indígenas e camponeses pobres;
* Um 1º de Maio de articulação popular;
* A conspiração financeira e a resposta do povo grego, por Bir militante da Federação Anarquista Gaúcha;
* Teoria Anarquista – Declínio da classe operária ou nova metamorfose do proletariado, de Paul Boino;
* Notas;




O LIBERTÁRIO Março/Abril de 2010
* Apontamentos de contribuição à articulação popular;
* A terrível situação dos trabalhadores rurais na Usina São Fernando;
* Teoria Anarquista - A visão libertária de movimentos sociais, da Federação Anarquista do Rio de Janeiro;
* Campanha pró-sede do Movimento Anarco Punk de São Paulo;
* Círculo de estudos Anarquistas - Dourados/MS;
* Encontro informal de Anarquistas em Campo Grande/MS;
* Notas;



O LIBERTÁRIO Janeiro/Fevereiro de 2010
* Pela Federação Anarquista do Mato Grosso do Sul;
* Entrevista com Resistência Suicida: Anarco Punks de Corumbá/MS;
* Sobre mulheres sobreviventes, por Núcleo de Mulheres do Movimento Poder Popular;
* Teoria Anarquista - As sociedades complexas precisam do Anarquismo, de Sam Dolgoff;
* I Ação Antifascista;
* Ecologismo-burguês: a nova moda;
* Notas;

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Igualdade Social não será obra da generosidade de ricos


  Escrito por Élisée Reclus, extraído da obra A Evolução, a Revolução e o Ideal Anarquista, lançada pela Editora Imaginário em 2002. O título é nosso

  As boas almas esperam que, não obstante, tudo se arranjará, e que, em um dia de revolução pacífica, veremos os defensores do privilégio cederem de bom grado à pressão vinda de baixo.
  É verdade, confiamos que eles cederão um dia, mas então o sentimento que os guiará não será certamente de origem espontânea: a apreensão do futuro e principalmente a percepção de “fatos consumados”, portanto o caráter do irrevogável, impor-lhes-ão uma mudança de rumo; eles se modificarão, sem dúvida, mas quando houver para eles impossibilidade absoluta de continuar os erros seguidos. Esses tempos ainda estão distantes. Faz parte da própria natureza das coisas que todo organismo funcione no sentido de seu desenvolvimento normal: ele pode parar, quebrar-se, mas não funcionar às avessas. Toda autoridade procura crescer às expensas de um maior número de indivíduos; toda monarquia tende forçosamente a se tornar monarquia universal. Para um Carlos V, que, refugiado em um convento, assiste de longe a tragicomédia dos povos, quantos outros soberanos cuja ambição de comandar nunca será satisfeita e que, exceto a glória e o gênio, são outros tantos Alexandres, Césares e Átilas? Assim também, os financista que, cansados de ganhar, dão todos os seus haveres a uma bela causa, são seres relativamente raros: mesmo aqueles que tivessem a sabedoria de moderar seus desejos não podem parar diante dessa fantasia: o meio no qual eles se encontram continua a trabalhar para eles; os capitais não cessam de reproduzir-se em rendimentos a juros compostos. Tão logo um homem é investido de uma autoridade qualquer, sacerdotal, militar, administrativa ou financeira, sua tendência natural é usá-la, e sem controle; não existe carcereiro que não gire sua chave na fechadura com um sentimento glorioso de sua onipotência; não há guarda campestre que não vigie a propriedade dos senhores com olhares de ódio contra o ladrão de frutas; não há oficial de justiça que não sinta um soberbo desprezo pelo pobre diabo ao qual ele intima.
  E se os indivíduos isolados já estão enamorados pela “parte de realeza” que imprudentemente se lhes distribuiu, muito mais ainda os corpos constituídos com tradições de poder hereditário e um ponto de honra coletivo! Compreende-se que um indivíduo, submetido a uma influência particular, possa estar acessível à razão ou à bondade, e que, tocado por uma repentina piedade, abdique de seu poder ou entregue sua fortuna, feliz de reencontrar a paz e ser acolhido como um irmão por aqueles que outrora oprimia sem seu conhecimento ou inconscientemente; mas como esperar semelhante ato de toda uma casta de homens ligados, uns aos outros, por uma corrente de interesses, pelas ilusões e pelas convenções profissionais, pelas amizades e pelas cumplicidades, e até mesmo pelos crimes? E quando as garras da hierarquia e o chamariz da promoção controlam o conjunto do corpo dirigente como uma massa compacta, que esperança se pode ter de vê-lo melhorar repentinamente; que benção poderia humanizar essa casta inimiga – exército, magistratura, clero? É possível imaginar-se logicamente que um semelhante grupo possa ter acessos de virtude coletiva e ceder a outras razões senão ao medo? É uma máquina, viva, é verdade, e composta de engrenagens humanas; mas ela caminha à sua frente, como animada por uma força cega, e, para detê-la, será preciso nada menos que a força coletiva, insuperável, de uma revolução.
  Admitindo, todavia, que os “bons ricos”, tendo ingressado todos no “caminho de Damasco”, fossem iluminados repentinamente por um astro resplandecente e fossem convertidos, renovados como por um raio, admitindo – o que nos parece impossível – que eles tivessem consciência de seu egoísmo passado e que, livrando-se apressadamente de sua fortuna em proveito daqueles que lesaram, devolvessem tudo e se apresentassem de mãos abertas na assembléia dos pobres dizendo-lhes: “Tomai!”, se eles fizessem todas essas coisas, pois bem, ainda assim não seria feita justiça; eles conservariam o belo papel que não lhes pertence e a história os apresentaria de modo mentiroso. Foi assim que bajuladores, interessados em louvar os pais para se servirem dos filhos, exaltaram em termos eloqüentes a noite de 4 de agosto, como se o momento em que os nobres abandonaram seus títulos e privilégios, já abolidos pelo povo, tivesse resumido todo o ideal da Revolução Francesa. Se se envolve com essa auréola gloriosa um abandono fictício, consentido sob a pressão do fato consumado, o que não se diria de um abandono real e espontâneo da fortuna mal-adquirida pelos antigos exploradores? Seria temerário que a admiração e o reconhecimento públicos os reintegrasse no seu lugar usurpado. Não, é preciso, para que a justiça se faça, para que as coisas retomem seu equilíbrio natural, é preciso que os oprimidos se ergam por sua própria força, que os espoliados recuperem o que é seu, que os escravos reconquistem a liberdade. Eles só a obterão realmente depois de tê-la ganhado por intensa luta.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Fora Artuzi e TODAS as Máfias: a saga continua

  É incrível quando podemos notar o desenrolar de conjunturas em alguns momentos específicos, como no turbilhão de acontecimentos envolvendo o alto escalão da prefeitura de Dourados, a fina flor da burguesia local e a nobre vereância de nossa cidade. Em pouco mais de dois meses o barco já rumou pra várias direções, mas, infelizmente, ainda não saiu do lugar. Entre artimanhas obscuras e às claras, posses, afastamentos, decretos e promessas todos estão escapando com quase nenhum arranhão.

Do protagonismo das ruas ao dos gabinetes
(polícia prepara-se para atacar populares em Dourados)


  Quando lançamos a edição anterior de nosso jornal, primeira quinzena de setembro, com os escândalos e as prisões tendo recentemente acontecido, a cidade havia sido tomada pelo clima de indignação. Só se falava nisto. Mobilizações pipocavam quase que diariamente, sempre com maior número de participantes, enquanto as estruturas de estado batiam cabeça sobre o que fazer dado o ineditismo do caso. Esta ascensão popular manteve-se até a sessão na noite de segunda-feira, 13 de setembro. Nesta noite ocorreu o pico da movimentação, com uma mobilização gigantesca de populares de todos os cantos da cidade. Sendo proibida de adentrar no recinto a multidão aglomerou-se, com carros de som, do lado da Câmara Municipal, enquanto a maioria das falas repudiava tal proibição. De repente a polícia agride e prende um trabalhador, o que revoltou os manifestantes que foram em direção à porta do prédio, onde ocorria o fato. Foi então que a polícia começou sua demonstração de brutalidade e selvageria. Tiros de bala de borracha disparados a esmo, bombas de gás e de efeito moral, gás pimenta no rosto, inclusive, de idosos e o pau cantando no lombo da população. Como meio de defender a integridade física de pessoas já feridas, os manifestantes revidaram com pedras e pedaços de madeira, sem arredar o pé, fazendo com que a batalha campal durasse cerca de 40 minutos. Com isto a sessão já tinha ido para os ares, e os vereadores presentes sumido sabe-se lá pra onde.
  No dia seguinte nova manifestação, agora à tarde e de fronte ao Fórum, cobrando a deposição e exigindo explicações para as agressões sofridas na noite anterior. Porém foi justo neste dia que começou o desmantelamento da mobilização popular e a passagem do protagonismo para os gabinetes de políticos. O juiz-prefeito chama pra uma reunião a portas fechadas pelegos dirigentes de alguns sindicatos, de onde saem com um discurso de colaboração com o juiz e sua prefeitura interina. Estes mesmos setores pelegos partem, então, pra uma tática que consistia em: controlar os comitês Fora Artuzi ou destruí-los, sendo que a segunda opção é a que foi utilizada.
  Com as eleições se aproximando, e os riscos de envolvimento em mobilizações como às que vinham ocorrendo, os pelegos empenham-se por fazer passar em seus sindicatos a tese do “vamos confiar na justiça e nas estruturas democráticas”, causando um revés no ímpeto popular inimaginável há apenas alguns dias antes. E como se não bastasse, o governo do estado desloca para Dourados um contingente policial de cerca de 500 homens para garantir a segurança dos vereadores para a retomada dos trabalhos da Câmara, assustando e afugentando a população, garantindo assim que fosse realizada uma sessão, ainda que para isso tivessem que isolar quarteirões em todas as direções das proximidades, o que realmente fizeram.

As manobras das classes dominantes
(Artuzi contando e guardando maços de dinheiro)


  Na edição anterior de nosso jornal apontamos cinco teses, que vinham sendo defendidas por diferentes setores políticos, e que disputavam a hegemonia nas discussões e encaminhamentos: 1) Restauração da administração Artuzi; 2) Manutenção da administração interina; 3) Posse das suplências; 4) Intervenção do governo do estado e 5) Novas eleições. Vejamos o suceder dos fatos e as intervenções destas posições.
  Quebrado o ímpeto dos protestos as forças proponentes de tais teses passaram à tática, mais conforme a seus gostos, dos acordões de gabinete. Com o surgimento de novas filmagens de políticos denunciando esquemas de corrupção, agora envolvendo também o governador, André “Führer” Puccinelli, deputados estaduais e o Ministério Público os defensores da intervenção do governo do estado e da manutenção da administração interina manobram, publicamente, uma última vez. O governo intervém através do aparato policial pra impedir a retomada de manifestações, enquanto o juiz, prefeito interino, é exonerado, mas mantém-se o quadro de secretariados formado por ele.
  Os suplentes assumem as vagas dos vereadores que foram afastados, mas que mantém seus cargos e salários, fazendo dobrar o orçamento gasto com a “respeitável casa de leis”, enquanto “Dona Délia”/PMDB, esposa do “iluminatti” Roberto Razuk, tida agora como o maior pilar da moralidade em Dourados, é empossada como prefeita. Este cenário saiu melhor que a encomenda para a extrema-direita da região (sindicato rural/DEM/PMDB/PSDB). Com a subida de Délia ao palacete municipal, a certeza da impunidade e da continuidade dos “contratos” está, assim, ao alcance de suas mãos, direitas é claro.
  Já o PT, que vinha se auto-proclamando como o campeão na defesa de novas eleições e da deposição de todos os envolvidos, viu o seu número de vereadores dobrar, de um pra dois, enquanto seu líder Dirceu Longhi, agora também indiciado nos esquemas, sobe à presidência da Câmara, fazendo com que seus pelegos sindicais lancem uma carta aberta à população onde conclamam o povo “a dar um voto de confiança à prefeita Délia Razuk e aos vereadores”, e a “esperar de forma ordeira o desenrolar dos fatos”. Pra completar o pacotão a ex-vereadora petista Margarida Gaigher assume a secretaria de educação, para o delírio de seus correligionários. Ou seja, configurou-se, de forma incrível, o primeiro governo municipal composto por membros de tudo quanto é partido eleitoral.
  Enquanto isso, da cadeia, Artuzi, através dos infinitos recursos e hábeas corpus, vêm ganhando tempo e retomando força política através das CPIs, compostas por, acreditem, envolvidos nos escândalos e seus partidários, podendo, inclusive, não apenas ser solto à qualquer momento, como também retornar ao trono.
  A tese da posse das suplências conseguiu, portanto, momentaneamente, fazer uma síntese dos interesses das diferentes frações e facções das classes dominantes, garantindo para todos os seus partidos fatias neste bolo, nossa cidade, que estão ávidos por devorar. Ora, com os suplentes assumindo, os partidos dos nomes envolvidos mantiveram seus gabinetes, possibilitando a Artuzi e seus sócios maiores alternativas de defesa. Apesar da exoneração do juiz, seus secretários foram mantidos, com exceção da pasta da educação cedida ao PT, fazendo com que mesmo a bandeira de novas eleições seja abandonada pelo partido que, aliás, teve o deputado estadual eleito Laerte Tetila condenado, há poucos dias, por improbidade administrativa quando de seu mandato como prefeito da cidade, num caso, inclusive, que é do mesmo esquema, com as mesmas máfias empresariais, de Artuzi. Com os novos vereadores a escolha de Délia Razuk como presidente da Câmara era óbvia, já que sabe-se lá por intermédio de que força, não teve, ainda, seu nome citado nestas investigações e, sua conseqüente subida ao posto de prefeita era a garantia que os grandes fazendeiros e as velhas máfias empresariais locais precisavam, de que a prefeitura rezaria no be-a-bá do governo do estado/sindicato rural.

Deposição dos corruptos e conquistas populares só na luta

  Com todo este enredo, no nosso entendimento, só resta à população douradense voltar a ocupar as ruas e as sessões da câmara municipal, para pressionar pelo impeachment de todos os envolvidos e por, no mínimo, que se realizem novas eleições, não permitindo a subida indireta da família Razuk à chefia da prefeitura. Mesmo sabendo que independente de qual quadrilha vier a ocupar o cargo de prefeito, é só com muita organização e luta que nosso povo conseguirá avançar no cumprimento de nossas exigências perante as classes dominantes, está claro que um novo processo eleitoral estenderá a instabilidade política, dando maior tempo de mobilização, debate e disputa para as demandas dos movimentos sociais. É imprescindível a retomada dos comitês Fora Artuzi, a partir dos que não foram cooptados/desintegrados pela camarilha pelega do comitê de “defesa popular”, e que sejam colocadas publicamente as propostas e pautas de mais além que as eleições, efetuando a denúncia das máfias empresariais e apresentando as exigências populares para as áreas afetadas pelos esquemas, que no caso são todos os serviços essenciais da cidade.
  Depois desta dolorosa experiência adquirida na luta, sobre o papel nefasto e traiçoeiro que esta pequena seita chamada comitê de “defesa popular” – que ao contrário do que alguns dizem não é formado apenas pelo PT, mas também por, palavras deles, “setores de esquerda(sic) do DEM, PMDB e PSDB” – vem  efetuando dentro e contra a vontade dos movimentos e organizações populares que dizem congregar. Convocamos nossa militância e amig@s a intervirem decididamente em seus espaços de atuação, propondo a imediata ruptura das organizações que ainda são ligadas a esta sigla que, se realmente deseja prestar algum serviço ao povo de nossa cidade, deve deixar de existir. Desafiamos, ainda, publicamente, que estes chefetes venham pra discussão nas assembléias sindicais sobre se a base respalda a utilização dos nomes dos sindicatos nas jogatinas de gabinete do comitê de “defesa popular”.
  Continuamos firmes em nossas barricadas, deixando bem claro que novos capítulos estão pra ser escritos nesta história. Nenhum passo atrás!
Fora Artuzi e TODAS as máfias!
 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Libertário Novembro/Dezembro 2010

Companheir@s
Já saiu a edição Novembro/Dezembro 2010 de nosso jornal O Libertário,
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Distribua a versão impressa de O Libertário e contribua com o fortalecimento do Anarquismo em nossa região.

Pacote distribuição 10 exemplares - 8 reais
Pacote distribuição 20 exemplares - 14 reais

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VIVA A ANARQUIA!!!!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Eleições 2010: neoliberalismo e agronegócio continuam em alta

  Passado o circo da sangria popular chamada de eleições burguesas o resultado é o previsto: continuam no poder André Puccinelli/PMDB e seu sindicato rural no MS e o neo-varguista PT de Dilma na presidência da República. Ancoradas, sobretudo, na utilização da máquina estatal como propaganda, prática obrigatória de todos os partidos eleitorais, as candidaturas vencedoras já se dedicam à formação de seus gabinetes.

Latifúndio, cana e repressão: A receita de Puccinelli

  A reeleição de Puccinelli no primeiro turno representa o domínio pleno do modelo latifundiário de desenvolvimento. É lógico que o “contraponto” personificado por Zeca do PT nestas eleições não passava de ficção, afinal PT e PMDB são parceiros íntimos nacionalmente, Temer, o vice de Dilma, é do PMDB, além de Zeca ser um latifundiário também ligado ao sindicato rural, ou seja, tratou-se de uma disputa em torno do nome que melhor pudesse gerenciar o mesmo projeto.  Ganhou Puccinelli. Nem mesmo os sucessivos escândalos de vésperas de eleição, como o esquema dos “cupinchas” nas moradias populares e a alcagüetagem de seu sócio em maracutaias, Ary Rigo, conseguiram arranhar a “boa-fama” do “Führer” sulmatogrossense, célebre nas crônicas políticas por defender estupros, espancamentos e assassinatos contra “maconheiros” e homossexuais e por considerar povos indígenas “vagabundos”.
  Agora o sindicato rural recebeu mais quatro anos de carta branca para aprofundar o processo sucro-alcooleiro, dando continuidade à conversão do pólo econômico do estado para a cana-de-açucar, cujos principais eixos pros próximos anos são:
  • Industrialização, com matriz sucro-alcooleiro, de regiões do interior: este fenômeno pode ser notado por todo o sul, incluindo Dourados, do estado e já se estende por todas as outras regiões;
  • Monocultura extensiva: com a cana de açúcar ganhando hegemonia a monocultura está sendo alçada a um novo patamar, cujo resultado final não é mais o escoamento do produto bruto, como quando da soja e trigo, mas sim o abastecimento das próprias usinas locais, gerando um cenário de ciclos de plantio muito mais rápidos e um desgaste do solo inimaginável, cenário que se agrava pelo uso constante de fertilizantes químicos e venenos e pela prática das queimadas, que apesar de toda a conversa apregoada por parlamentares continua sendo permitida;
  • Concentração de terras cada vez em maior escala: esta praga da concentração fundiária, doença antiga do capitalismo de grandes fazendeiros que reina no MS, vem sendo agravada desde o advento das usinas. Tornou-se prática comum a criação de “trustes rurais” que visam tragar pequenas propriedades e mesmo comunidades inteiras para dentro de seus infindáveis canaviais. Através da pressão econômica, do arrendamento e outras políticas, assistimos vastos territórios transformaram-se, na prática, em propriedade de uso de um único grupo, para uma única finalidade, cujo exemplo mais marcante é a área rural do município de Laguna Caarapã que, quase que totalmente, é sugada pelo grupo São Fernando;
  • Transformação de cidades e estradas: todo investimento pesado em infra-estrutura, levado à frente pelo governo do estado nos últimos anos, têm um único objetivo: possibilitar maior dinâmica logística para o deslocamento da cana e derivados, daí as duplicações de rodovias para abrigar o trânsito de caminhões e implementos agrícolas, e o adequamento das chamadas “cidades pólo” para o melhor fluxo financeiro do agronegócio através das construções de parques de exposições, anéis rodoviários, espaços de convenções e outras obras de interesse das classes privilegiadas;
  • Precarização contínua das condições de trabalho: com a industrialização repentina de áreas do interior, tradicional celeiro do desemprego, as vagas oferecidas estão sendo recebidas como bênçãos dos céus, o que vêm possibilitando aos usineiros a consolidação da precariedade estrutural e, através da fomentação de sindicatos pelegos, manter o operariado agrícola, especialmente, desorganizado e sem capacidade de reação. O fato da tomada territorial do estado pelas usinas possibilita com que em regiões onde a organização sindical avançar, os patrões podem rapidamente fechar as portas e mudar-se para outra região (veja o exemplo dos frigoríficos), cuja área rural já estará preparada para acolher a usina. Conflitos trabalhistas relacionados à precariedade serão a próxima novidade política no MS, estado sem tradição de lidar com uma grande classe operária;
  • Repressão violenta aos movimentos sociais: para garantir a efetivação de seu projeto o governo/sindicato rural utilizará de seu meio favorito: repressão e violência contra o povo pobre. A escalada de violência no campo, contra os povos originais (indígenas), remanescentes de quilombos e camponeses sem-terra só tende a crescer, visto que a reeleição foi o parecer necessário que o agronegócio esperava para avançar no seu projeto e a criminalização das lutas sociais será pedra de toque em sua nova gestão. Mesmo tendo abafado o caso na imprensa nas vésperas de eleições, o sindicato rural vinha tentando imputar ao MST e às comunidades Guarani um envolvimento com as guerrilhas no Paraguai, o que provavelmente voltará, em breve, aos holofotes da mídia.
Dilma e o neo-varguismo lulista

  A eleição de Dilma Russef como presidente do Brasil vem para consolidar o PT como gerente preferido dos interesses neoliberais no país, tendo mais quatro anos para aprofundar as reformas de interesse do sistema financeiro internacional, iniciadas já há 16 anos quando da subida do PSDB ao poder. Com um leque de alianças e apoios tão amplo que seria inimaginável a alguns anos, a coligação Dilma veio ancorada na capacidade de administração dos negócios da burguesia por seu partido, no uso descarado e banditista dos “programas sociais”, as famosas bolsas e projetos neoliberais herdados do governo FHC, como moeda de troca na jogatina eleitoral, nos investimentos maciços em infra-estrutura para atender às demandas dos setores ricos através do PAC, gerando o mito do melhorismo, e, claro, no controle ferrenho das principais organizações da classe trabalhadora, fazendo-as recuar em todos os pontos, que há algum tempo, eram tidas como posições conquistadas.
  A popularidade de Lula, fenômeno que teve enorme peso na vitória de Dilma é algo bem mais complexo do que simples carisma. Remonta a todo um compêndio de aparelhamento dos movimentos sociais, que vem sendo montado desde meados dos anos 80, para o desvirtuamento das bandeiras de luta historicamente disputadas pelo povo e sua utilização como espaço de adesão cega às políticas governamentais, num cenário de institucionalização das organizações populares, e legitimação do processo pelas mesmas, que desde a era Vargas não era visto por aqui. Isto tem permitido com que o PT apresente-se como uma face “humana” do neoliberalismo, enquanto seu irmão-siamês, o PSDB, mostra a verdadeira carranca.
  Pelos setores sociais que pesaram economicamente na campanha, e pela própria plataforma da candidatura Dilma, podemos esperar a continuidade da conversão econômica dos estados da região Norte e Centro-Oeste para o modelo de feudos industriais-agrícolas, o aprofundamento da terceirização de serviços públicos e das Parcerias Público Privadas/PPP e a sangria autorizada da população trabalhadora pelo sistema financeiro e pelo mercado internacional.

Só a luta popular constrói e transforma

  No nosso entendimento a principal tarefa que cabe ao nosso povo, neste próximo período, é a retomada de suas bandeiras e organizações. É preciso a articulação de um pólo anti-capitalista e anti-governista, que se contraponha à política de capitulação do colaboracionismo agora vigente, e que venha dar maior fôlego e estrutura de atuação aos setores combativos, agora dispersos, dos movimentos populares no MS e em todo o Brasil. Com todo o cenário de engajamento, direto ou dissimulado, das centrais sindicais e espaços de entendimento popular para com o governo, abre-se, sob nossa opinião, a necessidade do início imediato de construção de uma alternativa ao governismo e para-governismo, que possa disputar um outro viés para a militância e novos rumos para as organizações de base de nossa gente. Atualmente todo partido eleitoral conta com sua central sindical/popular, deixando aos/as trabalhadores/as poucas opções concretas de projetos, apesar das diversas siglas, o que faz-nos acreditar na necessidade da construção de uma ferramenta que se paute na combatividade e na independência de classe, e que possa levantar um projeto de protagonismo e Poder Popular.
  Estaremos juntos de nosso povo, ombro a ombro, por que para nós, Anarquistas, só a luta popular constrói e transforma!