segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Fora Artuzi e TODAS as Máfias: a saga continua

  É incrível quando podemos notar o desenrolar de conjunturas em alguns momentos específicos, como no turbilhão de acontecimentos envolvendo o alto escalão da prefeitura de Dourados, a fina flor da burguesia local e a nobre vereância de nossa cidade. Em pouco mais de dois meses o barco já rumou pra várias direções, mas, infelizmente, ainda não saiu do lugar. Entre artimanhas obscuras e às claras, posses, afastamentos, decretos e promessas todos estão escapando com quase nenhum arranhão.

Do protagonismo das ruas ao dos gabinetes
(polícia prepara-se para atacar populares em Dourados)


  Quando lançamos a edição anterior de nosso jornal, primeira quinzena de setembro, com os escândalos e as prisões tendo recentemente acontecido, a cidade havia sido tomada pelo clima de indignação. Só se falava nisto. Mobilizações pipocavam quase que diariamente, sempre com maior número de participantes, enquanto as estruturas de estado batiam cabeça sobre o que fazer dado o ineditismo do caso. Esta ascensão popular manteve-se até a sessão na noite de segunda-feira, 13 de setembro. Nesta noite ocorreu o pico da movimentação, com uma mobilização gigantesca de populares de todos os cantos da cidade. Sendo proibida de adentrar no recinto a multidão aglomerou-se, com carros de som, do lado da Câmara Municipal, enquanto a maioria das falas repudiava tal proibição. De repente a polícia agride e prende um trabalhador, o que revoltou os manifestantes que foram em direção à porta do prédio, onde ocorria o fato. Foi então que a polícia começou sua demonstração de brutalidade e selvageria. Tiros de bala de borracha disparados a esmo, bombas de gás e de efeito moral, gás pimenta no rosto, inclusive, de idosos e o pau cantando no lombo da população. Como meio de defender a integridade física de pessoas já feridas, os manifestantes revidaram com pedras e pedaços de madeira, sem arredar o pé, fazendo com que a batalha campal durasse cerca de 40 minutos. Com isto a sessão já tinha ido para os ares, e os vereadores presentes sumido sabe-se lá pra onde.
  No dia seguinte nova manifestação, agora à tarde e de fronte ao Fórum, cobrando a deposição e exigindo explicações para as agressões sofridas na noite anterior. Porém foi justo neste dia que começou o desmantelamento da mobilização popular e a passagem do protagonismo para os gabinetes de políticos. O juiz-prefeito chama pra uma reunião a portas fechadas pelegos dirigentes de alguns sindicatos, de onde saem com um discurso de colaboração com o juiz e sua prefeitura interina. Estes mesmos setores pelegos partem, então, pra uma tática que consistia em: controlar os comitês Fora Artuzi ou destruí-los, sendo que a segunda opção é a que foi utilizada.
  Com as eleições se aproximando, e os riscos de envolvimento em mobilizações como às que vinham ocorrendo, os pelegos empenham-se por fazer passar em seus sindicatos a tese do “vamos confiar na justiça e nas estruturas democráticas”, causando um revés no ímpeto popular inimaginável há apenas alguns dias antes. E como se não bastasse, o governo do estado desloca para Dourados um contingente policial de cerca de 500 homens para garantir a segurança dos vereadores para a retomada dos trabalhos da Câmara, assustando e afugentando a população, garantindo assim que fosse realizada uma sessão, ainda que para isso tivessem que isolar quarteirões em todas as direções das proximidades, o que realmente fizeram.

As manobras das classes dominantes
(Artuzi contando e guardando maços de dinheiro)


  Na edição anterior de nosso jornal apontamos cinco teses, que vinham sendo defendidas por diferentes setores políticos, e que disputavam a hegemonia nas discussões e encaminhamentos: 1) Restauração da administração Artuzi; 2) Manutenção da administração interina; 3) Posse das suplências; 4) Intervenção do governo do estado e 5) Novas eleições. Vejamos o suceder dos fatos e as intervenções destas posições.
  Quebrado o ímpeto dos protestos as forças proponentes de tais teses passaram à tática, mais conforme a seus gostos, dos acordões de gabinete. Com o surgimento de novas filmagens de políticos denunciando esquemas de corrupção, agora envolvendo também o governador, André “Führer” Puccinelli, deputados estaduais e o Ministério Público os defensores da intervenção do governo do estado e da manutenção da administração interina manobram, publicamente, uma última vez. O governo intervém através do aparato policial pra impedir a retomada de manifestações, enquanto o juiz, prefeito interino, é exonerado, mas mantém-se o quadro de secretariados formado por ele.
  Os suplentes assumem as vagas dos vereadores que foram afastados, mas que mantém seus cargos e salários, fazendo dobrar o orçamento gasto com a “respeitável casa de leis”, enquanto “Dona Délia”/PMDB, esposa do “iluminatti” Roberto Razuk, tida agora como o maior pilar da moralidade em Dourados, é empossada como prefeita. Este cenário saiu melhor que a encomenda para a extrema-direita da região (sindicato rural/DEM/PMDB/PSDB). Com a subida de Délia ao palacete municipal, a certeza da impunidade e da continuidade dos “contratos” está, assim, ao alcance de suas mãos, direitas é claro.
  Já o PT, que vinha se auto-proclamando como o campeão na defesa de novas eleições e da deposição de todos os envolvidos, viu o seu número de vereadores dobrar, de um pra dois, enquanto seu líder Dirceu Longhi, agora também indiciado nos esquemas, sobe à presidência da Câmara, fazendo com que seus pelegos sindicais lancem uma carta aberta à população onde conclamam o povo “a dar um voto de confiança à prefeita Délia Razuk e aos vereadores”, e a “esperar de forma ordeira o desenrolar dos fatos”. Pra completar o pacotão a ex-vereadora petista Margarida Gaigher assume a secretaria de educação, para o delírio de seus correligionários. Ou seja, configurou-se, de forma incrível, o primeiro governo municipal composto por membros de tudo quanto é partido eleitoral.
  Enquanto isso, da cadeia, Artuzi, através dos infinitos recursos e hábeas corpus, vêm ganhando tempo e retomando força política através das CPIs, compostas por, acreditem, envolvidos nos escândalos e seus partidários, podendo, inclusive, não apenas ser solto à qualquer momento, como também retornar ao trono.
  A tese da posse das suplências conseguiu, portanto, momentaneamente, fazer uma síntese dos interesses das diferentes frações e facções das classes dominantes, garantindo para todos os seus partidos fatias neste bolo, nossa cidade, que estão ávidos por devorar. Ora, com os suplentes assumindo, os partidos dos nomes envolvidos mantiveram seus gabinetes, possibilitando a Artuzi e seus sócios maiores alternativas de defesa. Apesar da exoneração do juiz, seus secretários foram mantidos, com exceção da pasta da educação cedida ao PT, fazendo com que mesmo a bandeira de novas eleições seja abandonada pelo partido que, aliás, teve o deputado estadual eleito Laerte Tetila condenado, há poucos dias, por improbidade administrativa quando de seu mandato como prefeito da cidade, num caso, inclusive, que é do mesmo esquema, com as mesmas máfias empresariais, de Artuzi. Com os novos vereadores a escolha de Délia Razuk como presidente da Câmara era óbvia, já que sabe-se lá por intermédio de que força, não teve, ainda, seu nome citado nestas investigações e, sua conseqüente subida ao posto de prefeita era a garantia que os grandes fazendeiros e as velhas máfias empresariais locais precisavam, de que a prefeitura rezaria no be-a-bá do governo do estado/sindicato rural.

Deposição dos corruptos e conquistas populares só na luta

  Com todo este enredo, no nosso entendimento, só resta à população douradense voltar a ocupar as ruas e as sessões da câmara municipal, para pressionar pelo impeachment de todos os envolvidos e por, no mínimo, que se realizem novas eleições, não permitindo a subida indireta da família Razuk à chefia da prefeitura. Mesmo sabendo que independente de qual quadrilha vier a ocupar o cargo de prefeito, é só com muita organização e luta que nosso povo conseguirá avançar no cumprimento de nossas exigências perante as classes dominantes, está claro que um novo processo eleitoral estenderá a instabilidade política, dando maior tempo de mobilização, debate e disputa para as demandas dos movimentos sociais. É imprescindível a retomada dos comitês Fora Artuzi, a partir dos que não foram cooptados/desintegrados pela camarilha pelega do comitê de “defesa popular”, e que sejam colocadas publicamente as propostas e pautas de mais além que as eleições, efetuando a denúncia das máfias empresariais e apresentando as exigências populares para as áreas afetadas pelos esquemas, que no caso são todos os serviços essenciais da cidade.
  Depois desta dolorosa experiência adquirida na luta, sobre o papel nefasto e traiçoeiro que esta pequena seita chamada comitê de “defesa popular” – que ao contrário do que alguns dizem não é formado apenas pelo PT, mas também por, palavras deles, “setores de esquerda(sic) do DEM, PMDB e PSDB” – vem  efetuando dentro e contra a vontade dos movimentos e organizações populares que dizem congregar. Convocamos nossa militância e amig@s a intervirem decididamente em seus espaços de atuação, propondo a imediata ruptura das organizações que ainda são ligadas a esta sigla que, se realmente deseja prestar algum serviço ao povo de nossa cidade, deve deixar de existir. Desafiamos, ainda, publicamente, que estes chefetes venham pra discussão nas assembléias sindicais sobre se a base respalda a utilização dos nomes dos sindicatos nas jogatinas de gabinete do comitê de “defesa popular”.
  Continuamos firmes em nossas barricadas, deixando bem claro que novos capítulos estão pra ser escritos nesta história. Nenhum passo atrás!
Fora Artuzi e TODAS as máfias!