sábado, 13 de novembro de 2010

Mais um ano sem Marçal Tupã-í de Souza, guerreiro Guarani!!

 No próximo dia 25 de novembro fará 27 anos que Marçal de Souza, conhecido também como Marçal Guarani, ou como Tupã’í (pequeno Deus) foi assassinado, sendo que até hoje não houve nenhum preso por este trágico momento para o povo Guarani
  Tupã’í foi uma das maiores lideranças na luta pela retomada das terras roubadas pelo estado e passadas às mãos de grandes fazendeiros, que hoje plantam cana-de-açúcar ou criam bois para abastecer o mercado de consumo e lucro desenfreado que "nossa" sociedade vêm propondo e impondo como modelo a ser perpetuado, em detrimento dos direitos e das vidas de comunidades inteiras.
  Este guerreiro ficou conhecido pela sua capacidade fascinante de analisar e de falar em oportunidades públicas sobre a opressão e a violência que seu povo sofria. 
  Aos 63 anos de idade, Marçal foi assassinado devido um conflito de terra no município de Bela Vista/MS, onde se colocou ao lado de aproximadamente 30 famílias que lutavam pelo direito de permanecer em suas terras. O caso é emblemático para a história do Mato Grosso do Sul, pois mesmo sendo comprovado que um dos 5 tiros que foram disparados contra Marçal de Souza, inclusive um que atingiu diretamente a boca, saiu da arma de um dos capangas da fazenda Serra Brava ninguém foi preso, sendo seu julgamento adiado por várias vezes até que, após 25 anos, o crime não mais tivesse validade para os tribunais do estado burguês.
  O caso é que Tupã’í foi assassinado, porém a proposta aqui não é chorar pela sua morte, mas sim divulgar suas lúcidas idéias e seu belo exemplo que sempre permanecerão na luta indígena pela retomada de seus territórios. 
  Para refletir aqui seguem algumas de suas palavras: 

  “O verde de nossa bandeira que os brasileiros carregavam representava a mata que a civilização nos tirou; vivemos nas terras do governo como párias, esmagados sempre. O amarelo que representa a riqueza do Brasil, a pesca a caça, hoje estão ausentes de nossas terras; tiraram-nos tudo em nome da civilização. O branco, que simbolizava a paz tão desejada, hoje está ausente do homem. E finalmente, o azul, que representava o céu, na sua beleza florida – estrelas e astros a brilhar –, foi a única coisa que a civilização deixou ao índio, e isso porque ela não pôde conquistar ainda.” (Marçal de Souza) 


“Vivemos em terras invadidas, intrusadas. Nossas leis são feitas por pessoal lá de cima, que dizem que nós temos direitos. Nós temos direito no papel, mas onde está na realidade?”(Marçal de Souza) 



“Somos uma nação subjugada pelos potentes, uma nação espoliada, uma nação que está morrendo aos poucos sem encontrar o caminho, porque aqueles que nos tomaram este chão não têm dado condições para a nossa sobrevivência” (Marçal de Souza) 

“Além de sermos os donos primitivos e legítimos dessa terra, temos a lei feita pelos brancos para nos proteger. Mas essa lei não está funcionando. É isso que temos que cobrar do governo que nos deixou no abandono. A lei maior é a natureza... Infelizmente, a lei da natureza é desrespeitada pela lei dos homens.” (Marçal de Souza) 

  Alarmante é o fato de que hoje os Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul ainda permanecem em constantes conflitos pela retomada de suas terras e pela reorganização de seus tekoha. Ou seja, o motivo da morte de Marçal de Souza continua sendo uma questão em aberto em nossa região, sem perspectivas de solução até o momento. 


Não queremos emancipação, nem integração. Queremos o nosso direito de viver, Jamais o branco compreenderá o Índio. Queremos ser um povo livre como antigamente. O índio está cercado, amordaçado por uma democracia que não funciona. Por isso nós vamos a campo. (Marçal de Souza Tupã’I – assassinado por uma disputa de terra em 1983)