quinta-feira, 21 de abril de 2011

Nota pública de encerramento

  O coletivo Para Além do Estado e do Mercado/PAEM, agrupamento anarquista formado em 2006 na cidade de Dourados/MS, vem por meio desta nota comunicar oficialmente o encerramento de suas atividades. Entendemos que após estes 5 anos de caminhada os principais objetivos que foram traçados encontram-se atingidos. Dezenas de pessoas tiveram formação política, teórica e prática, diretamente construída a partir de suas relações com o PAEM e centenas de outras também foram influenciadas, de forma indireta, por nossas publicações, intervenções e projetos. Trouxemos o Anarquismo ao cenário político do cone sul do Mato Grosso do Sul, semeando-o no seio de movimentos sociais e organizações populares dos quais participamos neste período.
  Longe de representar um abandono da militância esta decisão vem como uma necessidade de reformulação de nosso modelo organizativo, que entendemos já não mais estava dando conta das novas situações concretas decorrentes das lutas, e como um meio pra que novas projeções sejam elaboradas. Agradecemos à tod@s @s companheir@s que estiveram ao nosso lado em tantas batalhas travadas neste ciclo que se encerra.
Saúde e força à tod@s!
Nos encontramos nos campos de batalha!
Viva a Luta Popular!
Viva a ANARQUIA!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Organizações Populares convidam pra evento de 1º de Maio

Movimento Poder Popular/MPP, a Associação dos Docentes em Universidades Federais/ADUF, o núcleo Dourados da Central Sindical e Popular/CSP-CONLUTAS, a Associação das Mulheres Indígenas de Dourados/AMID, o Centro Acadêmico de Geografia Livre/CAGEOL e o Centro Acadêmico de História/CAHISDconvidam todas companheiras e companheiros para participar de nosso evento alusivo ao Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora1 de Maio, que realizar-se-á na sede da ADUF.


Cronograma do evento:

08:30 hs – Abertura;
09:00 hs – Discussão em memória aos 140 anos da Comuna de Paris, pioneira experiência de autogestão e socialismo levada a cabo pela classe trabalhadora;
10:00 hs – Reflexão coletiva sobre as movimentações Fora Artuzi e TODAS as Máfias, pontuando a participação das organizações presentes, análise dos avanços e refluxos populares decorridos a partir destas movimentações;
12:00 hs – Almoço;
13:30 hs – Continuidade dos debates sobre a conjuntura local e fechamento de datas para atividades e lutas em comum, entre os grupos e organizações presentes;
16:00 hs – Encerramento;
18:00 hs – Sarau do 1 de maio

Pedimos que a confirmação da presença seja feita com antecedência, até o dia 29 de abril, por questões organizativas referentes ao almoço e emissão de certificados de participação. A confirmação da inscrição se dará pelo email, com o professor Onildo: onildolopes@yahoo.com.br
Por se tratar de evento realizado de forma autônoma pedimos às companheiras e companheiros uma contribuição de 3 reais, para ajudar no custeio do evento.
Contando desde já com vossa presença, aguardamos confirmação para os devidos encaminhamentos.

Só a luta popular constrói, decide e transforma!

Movimento Poder Popular/MPP
Associação de Docentes em Universidades Federais/ADUF
Central Sindical e Popular/CSP-CONLUTAS
Associação de Mulheres Indígenas de Dourados/AMID
Centro Acadêmico de Geografia Livre/CAGEOL
Centro Acadêmico de História/CAHISD

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Libertário Março/Abril de 2011

Companheir@s
Já saiu a edição Março/Abril de 2011 de nosso jornal O Libertário,
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VIVA A ANARQUIA!!!!

Transporte é um direito e não uma mercadoria!

(Estudantes fazem fila pra pegar "buzão" em Dourados)

  O transporte coletivo em Dourados tem se consolidado como um dos maiores flagelos impostos, a mãos de ferro, à população da cidade. A “empresa” Medianeira, citada nos relatórios da Operação Uragano da Polícia Federal como um dos grupos mafiosos que dominam os serviços essenciais da cidade mediante pagamento de propina, mesmo com vários de seus políticos tendo perdido recentemente seus cargos no furacão que levou Artuzi e sua turma, mantém tranquilamente seu controle sobre o sistema de transporte coletivo municipal, anunciando-se para breve novos projetos e aumentos de preços da tarifa, contando com o aval da nova administração da prefeitura.
  Alguns setores estão se mobilizando para articular uma luta por diminuição do preço das passagens (que hoje está em R$: 2,30), por melhor qualidade no serviço oferecido e, numa perspectiva mais ampla, por opções públicas de transporte coletivo. Vamos refletir sobre estes pontos:

Transporte é um direito básico das pessoas

  Uma opção pública, gratuita e de qualidade de transporte coletivo é um direito básico das pessoas, entrelaçando-se de forma decisiva com o acesso a todo o leque de serviços essenciais oferecidos dentro da cidade. Afinal, se as pessoas não têm como se locomover, por exemplo, de suas casas até um hospital público seu direito de acesso aos serviços de saúde ficam prejudicados, sendo que esta mesma lógica pode ser aplicada aos serviços de educação, espaços de lazer, etc. Sob esta ótica, o sistema coletivo de transporte estando sob controle privado impede, ou no mínimo dificulta em demasia, que a “cidadania seja exercida”, jargão tão apregoado nas peças publicitárias do governo e grandes empresas, mas tão pouco visto em prática no cotidiano.
  A qualidade do serviço oferecido não reflete o elevado preço das tarifas. São poucos horários, poucas linhas e ônibus sujos e velhos. Para despistar a atenção pública a empresa tem adotado a política de colocar carros mais novos em trajetos de maior visibilidade midiática, como o caso de alguns ônibus que seguem rumo à Cidade Universitária, e deixar as velharias para os bairros periféricos. Agora façamos as contas do impacto econômico que o serviço privado de transporte coletivo causa no bolso de famílias trabalhadoras. É bombástico!  E a diminuta qualidade vai na contra-mão dos aumentos de preços, que não sofrem nenhuma espécie de controle por parte dos/as usuários/as, sendo definidos sempre ao bel-prazer de empresários e políticos.
  Neste regime privado do sistema de transporte coletivo municipal outro setor que, além dos/as usuários/as, é vítima da empresa são os/as funcionários/as, que se vêem constantemente ameaçados/as pelo desemprego, como o caso dos/as cobradores/as cuja rotatividade e número de trabalhadores/as modificam-se a todo instante, acarretando uma sobrecarga de funções para os/as motoristas, que em muitos casos acumulam também as tarefas de cobrar passagem e emitir troco, aumentando o estresse diário deste/a trabalhador/a cuja ocupação faz com que seja responsável pela vida de dezenas de pessoas, os/as passageiros/as. Qualquer tentativa de organização e luta dos/as funcionários/as, no caso específico de Dourados, é rapidamente desmantelado pela demissão sumária.
  São os fatos de conjunturas como esta que tem feito surgir, em todo o Brasil, fortes mobilizações de luta por opções públicas de transporte coletivo, apontando para um amplo movimento em defesa do direito de real acesso à cidade e à liberdade de se locomover.

(Trecho de relatório da PF que trata do mensalinho pago pela Medianeira à seus aliados políticos)


A luta em Dourados hoje

  Durante as jornadas de mobilizações do Fora Artuzi e TODAS as Máfias, ficou claro para alguns setores comunitários e estudantis que a questão do transporte coletivo era uma das principais pautas que as organizações populares deveriam tirar como uma bandeira para mais além que eleições, já que além da terrível situação enfrentada por quem depende destes ônibus, a “empresa” Medianeira é, comprovadamente, uma das maiores máfias implantadas em Dourados, financiando partidos políticos, elegendo seus candidatos e garantindo, através do pagamento de mensalinhos, a manutenção de seu contrato de concessão para explorar, em todos os significados da palavra, este serviço em nossa cidade. Os políticos perderam seus mandatos, novos nomes assumiram, mas a “empresa” Medianeira está toda prosa, especulando um novo aumento na tarifa, podendo ir agora para R$: 2,50, e aprofundando seu modelo de organização do sistema de transporte coletivo municipal. Segundo informações cedidas pelo Secretário de Serviços Urbanos da prefeitura para estudantes de alguns Centros Acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes da UFGD, planeja-se a implantação do sistema de cartões com marcação de tempo para que a pessoa desça de ônibus e pegue outro dentro de alguns minutos, o fim do terminal de transbordo e outras medidas de interesse da Medianeira.
  A discussão sobre este problema no período que se estende das mobilizações Fora Artuzi até agora trouxeram, no nosso entendimento, um amadurecimento de posições defendidas por alguns setores, especialmente do Movimento Estudantil, fazendo-os ampliarem sua reivindicação, passando de passe livre estudantil para linhas públicas de transporte coletivo, incluindo aí a do trajeto pra Cidade Universitária, amadurecimento de posição que é fruto das relações travadas com organizações de outros setores combativos de Dourados.
  Na nossa opinião é chegada a hora de tomar as ruas e outros locais nesta luta. Apoiamos todas as iniciativas que tem acontecido visando preparar terreno e mobilizar setores populares para estas manifestações. Apoiamos as reivindicações de diminuição imediata dos valores da tarifa, de criação de linhas públicas de transporte coletivo, como às que fazem o trajeto pra Cidade Universitária, aldeias indígenas, hospitais públicos e bairros mais afastados do centro e de municipalização de todo o sistema de transporte coletivo, que vêm sendo defendidas por setores populares combativos em Dourados. Vemos como fundamental a participação dos/as estudantes secundaristas, o que parece estar voltando a acontecer.
  Depois das maquinações da imprensa burguesa e da criação do mito do líder forte e salvador Murilo Zauith (salvador pela burguesia e forte contra o povo), as organizações populares de nossa cidade devem, e irão, partir para a luta e disputar nas ruas o cumprimento de nossas exigências. Estamos, enquanto anarquistas, junto de nosso povo, preparados e firmes pra esta batalha!

 Uma cidade só existe pra quem pode se movimentar por ela! 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pela Demarcação das terras dos Povos Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul

escrito por Amig@s do PAEM, de Campo Grande/MS
(Manifestantes Guarani e Kaiowá protestam quando do assassinato dos professores Verá em 2009)

   Isto é um absurdo!
  A ocupação de Mato Grosso do Sul irresponsavelmente, pela política do estado de concessão de favorecimento a reprodução do capital privado e da exploração do povo, ocorreu sobre os tekoha (unidade territorial, de ocupação e uso, e por onde são transmitidos os conhecimentos tradicionais dos povos falantes da língua Guarani) dos Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul gerou, e ainda gera, várias dificuldades a estes povos que vivem confinados dentro de pequenas áreas de terra super populosas, sem ter possibilidades de sustentabilidade, devido a miserável benevolência do estado burguês no momento em que demarcou essas terras pensando na extinção dos povos indígenas, que passariam simplesmente a integrar a sociedade nacional como meros trabalhadores, aquecendo a máquina capitalista de incineração de vidas com seu projeto de desenvolvimento e enriquecimento de poucos.
  A idéia era que estes povos simplesmente esqueceriam suas raízes plantadas nessas terras. Há! Isso não aconteceu!.Até hoje esses Índios Kaiowá e Guarani permanecem resistentes em sua luta pela devolução de sua autonomia, e consequentemente das terras que lhes foram retiradas.
  Hoje os Kaiowá e Guarani são cerca de 45 mil, constituindo o maior grupo étnico do MS estado da nação brasileira que tem uma das maiores populações indígenas do Brasil. Em contrapartida tem reservada uma das menores áreas de terras para o uso desses povos, que aqui já estavam antes das frentes de expansão econômica recaírem sobre essa região. No geral os homens Kaiowá e Guarani acabam, por falta de condições de manter um sistema de plantio (isto ligado a falta de caráter de nosso estado burguês que só se interessa em defender o direito a propriedade historicamente roubada desses povos), obrigados a vender sua mão de obra para o corte de cana plantada nas terras em que seus avós viveram, ou no trato com o gado nas fazendas da região. E aqui seria bem legal refletir sobre a frase dita por um ñhanderú (Chefe curandeiro) no filme “Terra Vermelha”, onde ele diz: A onça nos ataca, mas é nossa amiga; a cobra nos morde, mas é nossa amiga; O gado não nos ataca, mas é nosso inimigo, pois esta em nossas terras.”. Já às mulheres Kaiowá e Guarani em geral fica reservado o direito de trabalhar em subempregos como empregadas domésticas nas casas ou fazendas na própria sociedade que as oprime.
  Para entendermos melhor é necessário observarmos como historicamente foi retirado o direito de uso da terra das populações Kaiowá e Guarani de MS.
  No ano de 1890 é concedido a Cia Matte Larangeiras o direito da exploração da erva mate nativa na região sul do estado de Mato Grosso, tendo sua área de concessão sucessivamente ampliada sempre com o apoio de políticos influentes como os Murtinho e Antônio Maria Coelho.
  Até 1895 a Matte Larangeiras já tinha uma área arrendada que ultrapassava os 5.000.000 hectares tornando-se um dos maiores arrendamentos de terras ditas “devolutas” do regime republicano em todo o Brasil para um grupo particular, fato muito impressionante se notarmos que os Kaiowá-Guarani tinham um território de aproximadamente 4.000.000 hectares, sendo então o tamanho de suas terras de ocupação menores que as concedidas a Cia Matte Larangeiras,
  Segundo pesquisadores do processo de ocupação do MS, o território Guarani se estendia desde o rio Apa até o rio Miranda, tendo ao leste a serra de Amambai e, a oeste, o rio Paraguai. Portanto é perceptível a diminuição do território e o processo de confinamento ao qual foram expostas tais populações. Forçando a transferência para dentro dos espaços definidos pelo estado burguês longe de suas áreas de habitação tradicional, normalmente próximo as matas e rios que auxiliavam em seu processo de autonomia social, política e econômica. Indicando o processo de progressiva passagem de um território indígena amplo, fundamental para a viabilização de sua organização política e social, para espaços exíguos, demarcados a partir de referenciais externos, prevendo-se sua progressiva transformação em pequenos produtores ou assalariados a serviço dos empreendimentos econômicos regionais.
  As concessões feitas, e a atuação da Cia Matte Larangeiras atingiram em cheio o território de uso tradicional dos Kaiowá-Guarani, que acabaram muitas vezes por se engajar na colheita de erva atraídos pelos bens que esta poderia trazer como roupas e ferramentas. Essa prática da Cia Matte Larangeiras de conceder produtos superfaturados com antecedência a seus trabalhadores, era uma forma de iniciar este trabalhador paraguaio e Kaiowá e Guarani, como um endividado e preso a um regime de “barracão”, quase impossível de libertação fundando assim um trabalho baseado na escravidão por endividamento.
(Negociantes de erva da Matte Larangeiras)

  A criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) em 1943 foi o empreendimento que causou um impacto bem maior que o da exploração de erva mate nativa pela Cia Matte Larangeiras sobre a população Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul, pois esta foi decretada sobre vários tekoha. E com isso mais uma vez observamos os interesses da política nacional patrolando os direitos dos Guarani e Kaiowá.

  A criação da CAND, que pode ser considerado como um marco incentivador para a migração pela busca de terras na região sul de Mato Grosso, gerará uma grande perda aos Kaiowá e Guarani. Sendo que a efetivação deste processo de retirada das populações Kaiowá e Guarani das localidades onde estavam assentadas ocorre paralelamente ao avanço das frentes de ocupação agropecuária.

  Fato muito curioso é a existência de sistemática documentação produzida pelo SPI que afirmava a presença de várias áreas de ocupação dos Kaiowá e Guarani nessa região do Sul do atual estado de Mato Grosso do Sul, e que mesmo assim não surtiu nenhum efeito sobre as iniciativas do Estado nacional no momento de pensar a sua política de colonização para o centro-oeste.

  A prática de aldear os povos indígenas foi promovida pelo Estado desde o período colonial, até a promulgação da Constituição Federal de 1988, que a partir deste novo texto constitucional do estado que privilegia o direitos dos que tem dinheiro.
  Nesta nova Constituição estava prevista a demarcação de terras indígenas respeitando as especificidades dos usos, costumes e tradições de cada povo. O “aldeamento indígena” estava intrinsecamente relacionado às ações e interesses das frentes de expansão agropecuárias, porém, para isso era necessário delimitar o espaço reservado aos indígenas – como o caso da demarcação das oito reservas iniciais – e convencê-los e em alguns casos até mesmo forçá-los a neles se recolherem.
  Essa medida era vista como uma ação humanitária (como se fosse muito humanitário retirar o sustento de um povo inteiro) por parte do estado, porque nos aldeamentos os índios teriam suas vidas, mas não seu modo de vida, preservadas e receberiam assistência e orientação para se tornarem cristãos e “civilizados” e trabalhadores explorados.
  A terra para um Guarani está relacionada à sobrevivência física, social, política e cultural e a freqüente sistemática de atraso das demarcações desrespeita profundamente os direitos desse povo, configurando assim uma grande violação do direito histórico, e o mais básico de todos, a liberdade e a autonomia de decisões sobre que destino tomar.
  Essa Constituição de 1988, ainda em vigor por imposição do estado, previa que a demarcação de todas as terras indígenas aconteceria em 5 anos. O que não aconteceu, e ainda se arrasta como uma grande dívida do estado brasileiro com os povos nativos.
  Após o processo de mecanização da agricultura na década de 1970, e o fim dos trabalhos de derrubada das matas e abertura de estradas (onde houve participação efetiva dos Kaiowá e Guarani) torna-se inconveniente para os fazendeiros ter grupos e aldeias indígenas nos chamados “fundos de fazenda”, que mais na verdade eram a própria terra ocupada por esses grupos a centenas de anos. Ocorre então uma mobilização por parte dos proprietários de terras, em alguns casos com apoio do SPIServiço de Proteção Indígena (hoje FUNAI), para expulsar de vez esses grupos, pois acreditavam que lugar de índio era dentro das áreas já reservadas pelo estado, que como já sabemos era muito inferior ao território tradicional e as demandas dessas populações.
  A imposição de um progressivo assalariamento, primeiro na colheita da erva-mate, depois nas derrubadas e no trabalho de implantação das fazendas de gado, e por último, nas usinas de álcool é um fator que contribui para o agravamento da situação de pobreza que essas populações enfrentam hoje.
(Manifestantes Guarani e Kaiowá protestam quando do assassinato do Cacique Marcos Verón em Juti)

domingo, 13 de março de 2011

Jornal sergipano publica adaptação de artigo do PAEM

  O periódico O Capital - Jornal de Resistência ao Ordinário, da cidade de Aracaju-SE, publicou, em sua edição nº 199, uma adaptação do artigo Ecologismo-Burguês: A Nova Moda, produzido pelo PAEM e originalmente publicado na edição janeiro/fevereiro de 2010 de O Libertário. Clique na imagem abaixo para ampliá-la e conferir a adaptação. Para ler o artigo original visite o link: 


terça-feira, 1 de março de 2011

Sobre a luta dos Anarquistas

  
  Escrito por Piotr Kropotkin, publicado originalmente em Les Temps Nouveaux em 1913, extraído da obra O Princípio Anarquista e outros ensaios, lançada pela Editora Hedra em 2007. O título é nosso

  Este lado positivo e reconstrutor da anarquia não cessou de desenvolver-se. E, hoje, a anarquia tem de carregar sobre seus ombros um fardo bem maior do que aquele de seus começos.
  Já não é uma simples luta contra camaradas de oficina que se arrogaram uma autoridade qualquer num agrupamento operário. Não é mais uma simples luta contra chefes de outrora, nem mesmo uma simples luta contra um patrão, um juiz ou um policial.
  É tudo isso, sem dúvida, pois sem a luta de todos os dias, para que chamar-se revolucionário? A idéia e a ação são inseparáveis, se a idéia tem ascendência sobre o indivíduo; e, sem ação, a própria idéia atrofia-se.
  É ainda bem mais do que isso. É a luta entre dois grandes princípios que, em todos os tempos, encontraram-se em oposição na sociedade: o princípio de liberdade e aquele de coerção. Dois princípios que, neste momento, inclusive, vão de novo engajar uma luta suprema, para chegar novamente a um novo triunfo do princípio libertário.
  Observai à vossa volta. O que restou de todos os partidos que outrora se anunciaram com partidos eminentemente revolucionários? – Só dois partidos estão em oposição: o partido da coerção e o partido da liberdade; os anarquistas, e, contra eles, todos os outros partidos, qualquer que seja sua etiqueta.
  É que, contra todos esses partidos, os anarquistas são os únicos a defender por inteiro o princípio de liberdade. Todos os outros gabam-se de tornar a humanidade feliz mudando ou suavizando a forma do açoite. Se eles gritam “abaixo a corda de cânhamo da forca”, é para substituí-la pelo cordão de seda, aplicado no dorso. Sem açoite, sem coerção, de um modo ou de outro, sem o açoite do salário ou da fome, sem aquele do juiz ou do policial, sem aquele da punição sob uma forma ou outra, eles não podem conceber a sociedade. Só nós ousamos afirmar que punição, polícia, juiz, salário e fome nunca foram, e jamais serão, um elemento de progresso; e se há progresso sob um regime que reconhece esses instrumentos de coerção, esse progresso é conquistado contra esses instrumentos, e não por eles.
  Eis a luta em que nos engajamos. E qual jovem coração honesto não baterá com a idéia de que ele também pode vir tomar parte nessa luta, e reivindicar contra todas as minorias de opressores a mais bela parte do homem (e da mulher), aquela que fez todos os progressos que nos cercam e que, malgrado isso, por isso mesmo, foi sempre pisoteada!
  Mas não é tudo!
  Desde que a divisão entre o partido da liberdade e o partido da coerção tornou-se cada vez mais pronunciada, este último agarra-se cada vez mais nas formas moribundas do passado.
  Sabe que tem diante de si um princípio poderoso, capaz de dar uma força irresistível à revolução, se um dia for bem compreendido pelas massas. E ele trabalha para apoderar-se de cada uma das correntes que formam juntas a grande corrente revolucionária.  Põe a mão sobre o pensamento comunalista que se anuncia na França e na Inglaterra. Busca apoderar-se da revolta operária contra o patronato que se produz no mundo inteiro.
  E, em vez de encontrar auxiliares nos socialistas menos avançados que nós, encontramos neles, nessas duas direções, um adversário astuto, apoiando-se sobre toda a força dos preconceitos adquiridos, que faz desviar o socialismo para vias oblíquas e que acabará por apagar até o sentido socialista do movimento operário, se os trabalhadores não perceberem a tempo e abandonarem seus atuais formadores de opinião.
  O anarquista vê-se, assim, forçado a trabalhar sem descanso e sem perda te tempo em todas essas direções.
  Deve fazer sobressair a parte grande, filosófica, do princípio da anarquia.  Deve aplicá-la à ciência, pois, por isso, ele ajudará a remodelar as idéias: ele combaterá as mentiras da história, da economia social, da filosofia, e ajudará aqueles que já o fazem, amiúde inconscientemente, por amor à verdade científica, a impor a marca anarquista ao pensamento do século.
  Deve apoiar a agitação de todos os dias contra opressores e preconceitos, manter o espírito de revolta em toda a parte onde o homem (e a mulher) sente-se oprimido e possui a coragem de revoltar-se.
  Deve fazer fracassar as espertas maquinações de todos os partidos, outrora aliados, mas hoje hostis, que trabalham para desviar para vias autoritárias, os movimentos nascidos como revolta contra a opressão do capital e do Estado.
  E, enfim, em todas essas direções, ele deve encontrar, adivinhar pela própria prática da vida, as novas formas que os grupamentos, sejam de ofício, sejam territoriais e locais, poderão assumir numa sociedade livre, liberta da autoridade dos governos e dos esfomeadores.
  A grandeza da tarefa a ser realizada não é a melhor inspiração para o homem (e para a mulher) que sente a força de lutar? Não é, também, o melhor meio para apreciar cada fato separado que se produz na corrente da grande luta que devemos sustentar?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ataque de skinheads nazistas na Jornada Anti-Fascista em São Paulo

extraído do portal anarcopunk.org

O último dia de atividades da Jornada Anti-Fascista 2011, organizada pelo Movimento Anarcopunk de São Paulo, foi marcado pelo ataque de um grupo de cerca de 10 skinheads nas imediações da Praça da Sé.
Pela manhã foi organizado um ato público contra o fascismo na Praça da República, e um dos skinheads agressores já havia feito uma saudação nazista para os manifestantes quando por ali passava.
Durante a tarde, no Espaço Ay Carmela, acontecia uma atividade com bandas e denúncias contra o fascismo e a intolerância quando nas proximidades ocorreu a agressão. 4 companheiros foram feridos com facadas no braço, barriga e cabeça; um deles sofreu perfuração no crânio e foi submetido a cirurgia. Cabe ressaltar também que um dos agredidos é deficiente físico.
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Foram detidos pela polícia 5 skinheads com punhais, soco inglês, machadinha, espingarda de chumbinho, e facas - uma delas com inscrições nazistas. Os 5 skinheads foram levados para o 1 DP, na Liberdade, e segundo a polícia dois deles já possuem antecedentes criminais.
Os skinheads Jorge Gabriel GonzalesMilton Gonçalves do Nascimento Júnior, ambos de 20 anos, Raphael Luiz Dierings, de 18 e Rogério Moreira, de 23 foram presos em flagrante. O menor, que tem 17 anos, foi encaminhado à Fundação Casa.
Há algumas semanas atrás skinheads nazistas também haviam pixado uma suástica em frente ao espaço Ay Carmela.
Fica mais uma vez evidente a necessidade urgente de um combate efetivo a ação violenta destes grupos skinheads. Este tipo de violência contra anti-fascistas, negros/as, nordestinos/as, imigrantes e outros/as é cada vez mais recorrente e não pode ser encarado como “briga entre gangues”, como muitas vezes a imprensa insiste em noticiar, e muito menos como casos isolados e sem relevância. Tem de ser combatidos com toda a força e amplamente discutidos e problematizados. Minimizar a gravidade deste tipo de ação fascista que ocorre há tempos em todo o mundo atingindo uma série de grupos é fechar os olhos para um problema que coloca em risco a liberdade de todos/as nós!
Todo apoio e solidariedade aos companheiros e força na luta anti-fascista!

AVANTE @S QUE LUTAM, NEM UM PASSO ATRÁS!

Novas informações serão postadas no site. anarcopunk.org

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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Libertário Janeiro/Fevereiro de 2011

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Políticos de Dourados: Ninguém Merece!

(Criança protesta contra políticos em Dourados)

  Depois de cinco meses de peleia, a saga “Fora Artuzi e TODAS as Máfias!” chega ao fim de um importante capítulo. Artuzi caiu. Teve protestos, manifestações, repressão, jogatinas e acordões: caiu! Encontra-se atualmente no aconchego de sua casa, respondendo em liberdade a mais um processo. E no fim do furacão, que desembocou numa eleição arranjada, eis que se levanta algo assombroso, medonho tal qual a besta do apocalipse, a coligação eleita e que governará a cidade nos próximos anos: DEM e PT. O Sindicato Rural e “el BarónMurilo Zauith elevam-se ao palacete municipal escudados pelos seus outrora inimigos petistas.

Fora Artuzi e TODAS as Máfias: os últimos atos de uma epopéia

  Com as espertas maquinações dos setores ricos da cidade, governo do estado, ministério público e partidos políticos, conforme exposto na edição anterior de nosso jornal, o protagonismo dos debates havia sido tirado das movimentações populares e passado aos gabinetes de poderosos, contando com a ajuda dos mui-amigos pelegos sindicais do comitê de “defesa popular”, que ferrenhamente vinha defendendo a tese da conciliação entre a movimentação social e as estruturas de estado. Essa manobra do comitê de “defesa popular” já apontava que petistas e Sindicato Rural estavam de conchavo, mas por enquanto ninguém dizia nada abertamente.
  Artuzi, politicamente abandonado, vinha sendo pressionado na cadeia para renunciar, o que veio a fazer em troca da liberdade provisória, junto com o profeta Carlinhos Cantor, seu vice. Os dois assim escaparam do impeachment, mantendo possibilidades de se candidatarem novamente no próximo pleito. A imprensa burguesa muda, então, sua abordagem. Abandona a demonização dos corruptos que haviam sido presos – mas que já estão todos soltos – e passa a construir o mito da necessidade de um líder forte e unânime para “recolocar a cidade nos trilhos”.
  Enquanto isso nos bastidores do poder as quadrilhas engalfinhavam-se para saber quem ficaria com a maior cota de cargos. Dona Délia batia o pé que não se levantava mais da cadeira. Algumas raposas velhas ameaçavam esbravejar. As ruas pediam ao menos novas eleições. Com a pressão a “justiça” decide pelas novas eleições. E no meio dos burburinhos partidários de repente cai a bomba: PT será vice do DEM apoiados por mais 13 partidos (os outros maiores da cidade)!
  Apesar do choque causado em alguns setores envolvidos nas movimentações “Fora Artuzi e TODAS as Máfias!”, esta manobra já vinha sendo costurada há alguns meses, conforme atesta a atuação do comitê de “defesa popular”, que estava colocando sindicatos e organizações estudantis pra sentar-se à mesa e acordar com empresários e políticos do PT e DEM. Esta aliança vem alicerçada no envolvimento do PT nestes mesmos esquemas de corrupção que fizeram rolar a cabeça de Artuzi, conforme a recente condenação do deputado estadual eleito Laerte Tetila por improbidade administrativa em sua gestão na prefeitura. Com os principais partidos políticos emaranhados na roubalheira, nada mais natural que se unissem para manter os negócios funcionando e garantir seus gabinetes. Com a “união por Dourados” consolidada coube ao mega-latifundiário e dono da UNIGRAN Murilo Zauith, um dos líderes do obscuro Sindicato Rural, encabeçar a chapa e lançar-se ao trono. Contra ele partidos nanicos arranjados de última hora.
  Enquanto a pelegagem petista, envergonhada, se esconde, os setores combativos das movimentações chamam o boicote, o que resultou em mais de 50 mil pessoas(soma de nulos, brancos e abstenções) rejeitando a farsa eleitoral. Contudo a situação lastimável da cidade, com todos os serviços públicos sucateados, foi muito bem explorada pela imprensa burguesa e o mito do líder forte que irá salvar a cidade foi assim direcionado à Murilo, que acaba de ser eleito.

("el Barón" Murilo Zauith, prefeito de Dourados)

E Agora?

  A administração DEM/PT representará um agravamento da adequação da cidade como pólo do agronegócio sucro-alcooleiro. Com a prefeitura estando diretamente nas mãos do Sindicato Rural, personificado em Murilo, podemos esperar investimento pesado em asfalto e estradas de rolagem e outras obras de infra-estrutura que são necessidade urgente aos interesses dos setores ricos, e por outro lado a terceirização do máximo de setores possíveis em serviços básicos como saúde e educação. O alinhamento com o governo do estado deve expandir a linha dura da repressão contra os movimentos populares, especialmente os que lutam pela terra, em toda a região. Outra tensão deve-se dar no âmbito da “cidade-educadora”, já que Murilo é um barão do ensino superior privado e tende a privilegiar este setor, o que deve vir a se chocar com várias demandas de estrutura que os estudantes de universidades públicas da cidade vêm reivindicando.
  Ao PT caberá a “gestão da miséria”, gerenciando as bolsas e o “filantropismo estatal” e, especialmente, tentando atrelar as movimentações comunitárias, estudantis e populares à prefeitura. Esta conjuntura exigirá muita luta dos movimentos e setores combativos do povo de nossa cidade, já que membros deste partido, que no caso específico de Dourados, é aliado do Sindicato Rural, estão presentes e têm trânsito livre em diversos espaços de organização popular.
  No nosso entendimento algumas das principais tarefas que vêm à tona para a militância e pessoas dispostas a lutar em nossa cidade são:
  • Aprofundar os laços de relação e coordenação entre os setores combativos que estiveram engajados nas movimentações “Fora Artuzi e Todas as Máfias!”;
  • Levar as pautas levantadas como apontamentos de “para mais além que eleições” para todas as frentes possíveis, aproveitando, também, o gancho dado pela imprensa em suas matérias sobre o sucateamento da cidade;
  • Iniciar, já agora no pós-eleições, uma jornada de protestos e reivindicações embasadas nestas pautas do “para mais além que eleições”;
  • Travar uma batalha definitiva contra a influência sorrateira do comitê de “defesa popular”, este apêndice das classes dominantes em meio aos movimentos sociais, em cada sindicato, associação de moradores, centro acadêmico que, por triste ventura, ainda estiver ligado a esta sigla;
  • Ampliar a presença e o protagonismo dos movimentos sociais nas ruas;
    Acreditamos que esta seja uma plataforma mínima pra caminhada do próximo período e que várias outras contribuições a esta análise devem surgir em breve. Todas estas batalhas travadas nos últimos meses trouxeram amadurecimento pra organizações populares e pras pessoas no geral, fazendo com que mais gente na cidade criticasse e se juntasse com outras para protestarem e defenderem suas posições. Agora é seguir em frente, com todo este acúmulo como mais uma arma, porque o inimigo é o mesmo, só mudou o representante.

Só a luta popular decide, constrói e transforma!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Declaração Final das Jornadas Anarquistas - 2011



Durante os dias 25 e 26 de janeiro de 2011, na cidade de São Paulo, se realizaram as Jornadas Anarquistas, convocadas pela Federação Anarquista Uruguaia (FAU) e o Fórum do Anarquismo Organizado do Brasil (FAO).
A realização destas Jornadas tem por objetivo o desenvolvimento do anarquismo especifista na América Latina, visando o intercâmbio e a coordenação das organizações políticas anarquistas que se inserem nesta corrente. O debate se coloca sobre temas comuns a todas essas organizações, em relação aos quais se vem trabalhando e contribuindo a partir de cada lugar, a partir das lutas cotidianas, a partir das criações e recriações que surgem da análise de elementos que entendemos ser estratégicos para a construção do socialismo libertário em nosso continente: o Poder Popular e o Federalismo Libertário.
Isso é uma necessidade, porque acontece hoje, fruto de um processo histórico, um desenvolvimento importante de nossa corrente do anarquismo, assim como uma construção teórica e política concreta. Esta construção faz com que essas organizações de vários países busquem confluir em um âmbito de comunhão ao qual todas elas aderem.


O Poder Popular como elemento estratégico


“Nunca cessarão de existir as esperanças e os sonhos de emancipação dos povos; a experiência social cria novos conceitos de justiça e de liberdade que nada tem a ver com as construções perversas que são propagadas por um sistema que as confunde com rapinagem e opressão.” Desta forma, começa o debate sobre a construção de uma estratégia de ruptura e sobre o desenvolvimento das forças de intenção revolucionária.
Este debate tem toda relação com o tema do Poder Popular. Porque para nós, esse tema é amplo e traz contribuições significativas para todo o conjunto estratégico que vai desde as análises da realidade, os objetivos que pretendemos atingir e os caminhos estratégicos.
Por que falamos de poder? Para nós, o poder se dá para além do Estado. O poder circula por toda a sociedade e, por isso, há poder nas diferentes esferas da economia, da política e da cultura/ideologia. O poder existe em todas as relações sociais que envolvem um conflito e pode ou não se constituir em relações de dominação e exploração. 
A partir desta noção ampla de poder, podemos afirmar que não é possível tomar o poder de assalto, já que ele está capilarizado e corre por todas as veias da sociedade. Do nosso ponto de vista, não há determinação de uma esfera sobre a outra que possa ser prevista a priori e, portanto, não acreditamos na determinação econômica que é conhecido, no socialismo, como o esquema de infra e superestrutura.
O poder, portanto, envolve as relações de força e as disputas que estão presentes em toda a sociedade e que constituem as bases do que chamamos política. Neste sentido, a sociedade atual é o resultado de determinadas correlações de forças em que umas superam outras e as coisas vão se conformando. Hoje, o resultado deste sistema de forças implica poder, mas também dominação, exploração e opressão.
Para nós, as classes oprimidas devem criar um projeto de poder. Um projeto de poder que possa se opor e fazer frente às classes dominantes, e que também possa ser criado e construído por meio das lutas cotidianas.
Falar de “popular” significa dotar o projeto de poder de um caráter eminentemente classista, ainda que devamos destacar que falamos de poder a partir de uma perspectiva libertária. Um projeto dos oprimidos e oprimidas que se dá a partir dos movimentos populares e que faz um acúmulo de força social necessária para um longo enfrentamento, de passos firmes, fortes, bem marcados, algo que consideramos necessário do ponto de vista ideológico.
Para nós, o socialismo é uma ideologia e não uma ciência. O socialismo surgiu como expressão ideológica dos movimentos sociais populares em luta, e desde de seus primeiros momentos, contou com aspirações, desejos, indignação, rebeldia, paixões, amores e outros sentimentos que não podem ser comprovados cientificamente. Assim, o socialismo só pode constituir-se como este conjunto de elementos que apontam para a geração de uma prática política no sentido transformador, de intervenção sobre nossa realidade. E, portanto, ideologia implica teoria e prática.
Compreendemos a teoria como uma caixa de ferramentas que nos permite interpretar a realidade e os fatos. Entretanto, como afirmamos, sabemos que as contribuições teóricas devem ter rigor, devem buscar entender a vida e não encaixá-la em nossas certezas ideológicas. A teoria deve ser flexível e possibilitar elementos para nossa prática política. A prática, claramente, também enriquece essa teoria.

Classe e sujeito revolucionário


Nosso classismo se baseia nos diferentes sujeitos oprimidos, independente de onde estejam. Consideramos que um projeto de classe deve ser construído por todo o povo, e por povo compreendemos este conjunto de classes oprimidas que contém trabalhadores da cidade e do campo, assalariados e desempregados, e todos aqueles e aquelas que sofrem opressões de gênero, de raça, de etnia, de sexualidade, por este sistema de dominação que é o capitalismo.
Assim, o sujeito revolucionário não está dado a priori, nem é possível ser conhecido de antemão. Acreditamos que o sujeito revolucionário é resultado dos processos históricos e sociais, das lutas dos movimentos populares, e só pode ser forjado na luta e a partir do processo em que se vai criando a identidade de classe.
Nossa concepção de Poder Popular implica uma noção básica de que são os objetivos que conformam a estratégia, e que é a estratégia que condiciona a tática. Nosso objetivo finalista é o socialismo libertário e nossa prática é de intenção revolucionária. O projeto de Poder Popular deve, necessariamente, contribuir com a revolução para abolir a sociedade de classes.
Para promover o protagonismo nas bases dos movimentos, para criar um povo forte, é fundamental que tenhamos em mente um plano, um programa determinado a ser proposto e desenvolvido nestes movimentos. Nos parecem elementos centrais neste programa não circunscrever ou submeter os movimentos a qualquer ideologia. É importante sustentar que sejam os mais fortes e que se unam por meio da solidariedade da prática e das ações reivindicativas, ao mesmo tempo, garantindo a independência de classe para que não sejam subordinados aos partidos, ao Estado, às empresas e a outros inimigos de classe; ou mesmo aqueles que, apesar de demonstrarem certa afinidade na luta de classes, atuam como vanguarda dos processos de luta. Parece fundamental, também, que os mecanismos de democracia direta sejam responsáveis pelas decisões tomadas a partir das bases dos movimentos, incluindo todos e todas e criando ambientes coletivos e autogestionários. Os meios, portanto, devem estar de acordo com os fins que defendemos.
A história vem demonstrando que o capitalismo não caminha para sua própria destruição. Não podemos, assim, esperar que “se suicide”. Acreditamos que é apenas por meio da vontade e das práticas libertadoras que as classes oprimidas poderão oferecer uma possibilidade de resistência, de enfrentamento e de construção do socialismo. O capitalismo não traz o germe do socialismo e, ainda que ele deva começar a ser criado dentro da sociedade capitalista, ele só se realiza de fato por meio de um processo de ruptura revolucionária. Tal processo de construção deve se dar no seio das lutas sociais cotidianas, que acumulam força para nosso projeto de Poder Popular.
É uma questão de se construir os novos sujeitos históricos, de promover nosso projeto no seio das lutas e de criar um povo forte.
Trata-se, então, da reconstrução do tecido social, das relações sociais e também de uma outra cultura, que permitirá, junto com elementos econômicos e políticos, forjar novos sujeitos capazes de conhecer a si, aos outros e à realidade. Fundamentalmente capazes de construir e de fortalecer os movimentos populares, tomando suas decisões, compartilhando com os outros, capacitando-se, estimulando o fortalecimento de outras pessoas no todo da sociedade, com autonomia e não dependentes.


Federalismo Libertário


O federalismo tem sido uma forma organizativa, um modelo, um conceito que compreende a vida social e política do anarquismo ao longo da história. Ele se corresponde com a incorporação e com a adequação de suas forças para a resistência no embate com o capitalismo, com a conjunção daqueles que confluem em pensamento até a ideologia libertária e, também, como prática para poder projetar, imaginar e criar uma ofensiva contra o capitalismo que construa a sociedade que queremos: uma nova civilização.
É por isso que o federalismo não deve ser compreendido como um modelo legítimo por si só. Ele deve ser libertário e, neste sentido, a constituição ideológica que ele contiver será um elemento determinante no desenvolvimento de suas forças de transformação.
Esta constituição ideológica determina as práticas que serão geradas, alheias ao autoritarismo, ao vanguardismo e com uma dinâmica de discussões “de baixo para cima”, oposta ao centralismo e ao unitarismo. Desta forma, o “para cima” deve ser compreendido como uma construção, por meio da democracia direta, delegando-se a partir da base e, quando em sua presença, suas funções se encerram.
Não se trata de um abaixo submisso, não se trata de uma hierarquização numa relação verticalizada, mas de uma articulação dinâmica e funcional dos anarquistas a partir dos diversos espaços em que a organização política projeta sua ideologia. Estes espaços específicos se constroem e se constituem a partir das frentes de luta popular em núcleos ou grupos de base, organizados para melhores interpretações e abordagens da realidade vivida por cada espaço, em uma concepção organizativa de conjunto e a partir da organização política anarquista.
Este conjunto, esta integralidade, deve ser vasta e diversa, segundo se desenvolva a luta nos diferentes espaços de inserção. É necessário reconhecer, na globalidade, que não há “uma só luta” transcendental, acima das outras, que apague e diminua a importância das demais. Estas lutas devem ser compartilhadas no interior da organização.
Comunicar e ensinar as práticas políticas de diversas frentes de luta que provenham de outro meio específico de militância. Enriquecer, por meio destas práticas, a análise política da realidade, a elaboração teórica, a solidariedade de classe, tão necessária e demandada nestes tempos.
O federalismo libertário deve potencializar a ação específica e enquanto conjunto da organização. A isto chamamos federalismo dinâmico, o qual serve aos propósitos estabelecidos. É aquele que, no marco de uma linha estratégica geral, de ruptura revolucionária, alimenta o avanço da resistência ao capitalismo, bem como a projeção de um mundo novo. 
Em função do que foi dito, este modelo, esta forma organizativa, deve integrar-se num organograma que tem origem na base, com respeito às posições minoritárias, mas construindo uma forma de corpo, com acordos integrados que delineiem a ação da organização no espaço e no tempo, com categorias e pautas de convivência necessárias, as quais não geram um assembleísmo inoperante e que possuem dinâmicas e ritmos que combatem práticas autoritárias.
Sobreviver ilhados, trabalhando cada um por nossa própria conta, sem entender-se com outros, sem capacitar-se e preparar-se, sem constituir um punho forte para golpear “significa condenar-se à impotência, desperdiçar a própria energia em pequenos atos sem eficácia e rapidamente perder a fé no objetivo e cair na completa inação”.
Assim se concretiza e se fortalece a unidade dos anarquistas, o encontro para praticar uma nova humanidade, para programar e delinear a estratégia com a qual desconstruiremos este mundo. Pilares e princípios como a igualdade, a democracia direta, a autonomia, a independência de classe, a autogestão, são elementos constituintes essenciais para os libertários do mundo. Eles devem ser, consequentemente, fundamentais na organização política.
Trata-se, portanto, de criar, de conceber e de praticar um tipo de organização que compreendemos ser federalista, com práticas, acordos e estilos diferentes daqueles do capitalismo. A partir da organização política até o meio popular ir, assim, aprofundando um pouco mais a idéia de construir uma organização não só para as necessidades táticas do presente. Esta organização não pode ser circunstancial, uma necessidade momentânea, mas deve ser a rocha na qual entalharemos nossas paixões e desejos, nossa utopia e nossa liberdade.
Imaginar, sonhar, amar um mundo novo. Ver nos companheiros e companheiras de luta, no povo, a necessidade urgente de transformação por razão de tanta injustiça, exploração, opressão, levada a cabo em um sistema asqueroso que devora e cospe, em seu turbilhão cotidiano, tantos irmãos e irmãs, tanta gente, tanto povo.


Pela construção do Socialismo Libertário, num processo firme e sólido.

Por todos nossos desejos, pela memória de nossos irmãos e irmãs que padeceram pelo pior desta asquerosidade chamada capitalismo.
Para construir a utopia praticando a liberdade!!!
Pela construção de um povo forte!!!
Arriba las que luchan!!!
Arriba los que luchan!!!


Assinam a declaração:


Coletivo Anarquista Luta de Classes (Brasil)
Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares (Brasil)
Columna Libertaria Errico Malatesta (Argentina)
Columna Libertaria Joaquin Penina (Argentina)

Federação Anarquista de São Paulo (Brasil)


Federação Anarquista do Rio de Janeiro (Brasil)


Federação Anarquista Gaúcha (Brasil)


Federação Anarquista Uruguaia (Uruguai)


Federação Comunista Libertaria (Chile)


Fórum do Anarquismo Organizado (FAO, Brasil)


Núcleo Pró-Especifista de Recife (Brasil)


Organização Resistência Libertária (Brasil)


Para Além do Estado e do Mercado (Brasil)


Rusga Libertária (Brasil)

Coletivo Espiral (Costa Rica - observador)