domingo, 11 de julho de 2010

Ecologismo-burguês: a nova moda

  As dolorosas e graves conseqüências da intervenção humana na Terra estão atingindo patamares impressionantes. Um cenário catastrófico paira no ambiente. O que já está ruim irá piorar. Essa é a única unanimidade sobre o caso. Inevitavelmente surge um debate na sociedade a respeito das mudanças climáticas e muitos passam a especular quais atitudes deveriam ser adotadas para "frear" o esgotamento dos recursos naturais e os impactos ambientais causados pela "humanidade". Como sempre as classes dominantes e seu bando de “abutres” (oportunistas, exploradores, pelegos, políticos, investidores, grandes proprietários, empresariado, associados das grandes indústrias multinacionais, banqueiros, ricos, latifundiários, ONG´s, especuladores...) tomaram a dianteira e a rédea do debate e dos fatos. A burguesia e as classes dominantes de maneira maliciosa e sorrateira controlam plenamente o debate, por temor que as classes exploradas e mais afetadas com as mudanças climáticas adotem atitudes por conta própria no sentido de romper com o doloroso processo de devastação e poluição. Por receio de seus privilégios e fortunas serem afetadas, os ricos e seus representantes, passam a organizar inúmeros congressos, matérias em revistas, discursos nos palanques, reuniões de gabinete para acharem as medidas mais amenas possíveis, aquelas bem paliativas, que não colidam com seus interesses, e que sejam o norte das decisões políticas e do debate a respeito das mudanças climáticas.


  Hoje há inúmeros estudos e pesquisas científicas que são contundentes e alarmantes a respeito das mudanças climáticas e dos regimes de chuva. A poluição ambiental, o desflorestamento, o uso irresponsável dos recursos naturais, a agressão continua à fauna e flora está acarretando diversas conseqüências ruins para o planeta. Dessa forma ficou impossível para a burguesia e os demais responsáveis pela devastação ambiental esconderem da sociedade o fruto podre que o sistema gerou. Não nos resta duvidas a respeito de que o capitalismo é o maior causador, patrocinador e incentivador da poluição, da devastação, do uso do solo de maneira irresponsável, da extração da madeira, da invasão das terras indígenas, da extração mineral, das emissões de CO2 na atmosfera, da produção industrial em larga escala com uso indiscriminado de produtos químicos, da manutenção dos latifúndios... Sendo assim a raiz dos problemas.

  O uso de venenos, agrotóxicos, sementes geneticamente modificadas nas extensas lavouras estão afetando drasticamente os rios aos arredores acarretando, assim, um forte declínio na produtividade do solo e comprometendo os biomas locais. Inúmeras árvores da floresta amazônica são cortadas cotidianamente e enviadas ao exterior, para atender a “demanda” por madeira de lei dos ricos e burgueses da Europa e dos EUA. As indústrias não param de emitir grandes quantidades de poluentes na atmosfera, mesmo havendo inovadoras tecnologias limpas. O latifúndio preserva a situação deplorável no campo, onde milhares de camponeses não tem terra para plantar e padecem à beira das estradas lutando para sobreviver. Os poucos trabalhadores são confinados a longas jornadas e baixos salários. A monocultura extensa traz consigo a pobreza, pois os gêneros são produzidos em larga escala e exportados, o salário pago aos trabalhadores do campo (vide os bóias-fria) é insuficiente para sobreviver dignamente. A concentração de terra nas mãos de poucos abastados impede que haja a plantação de pequenas lavouras de alimentos variados destinados a atender as necessidades básicas das pessoas locais. Assim sendo essas pessoas se tornam reféns das redes de supermercado e dependentes de produtos de origem duvidosa.

  O que queremos ressaltar aqui é que as classes dominantes edificaram uma enorme fortuna com a devastação ambiental, com a estrutura fundiária atual, com o desflorestamento, com a invasão das terras indígenas, com as grandes indústrias e com todas as outras formas agressivas ao eco-sistema de se gerar lucro. Relegando para os trabalhadores a miséria, a pobreza extrema, a fome, o trabalho semi-escravo e os reflexos da destruição de nosso planeta.

  A burguesia está ciente agora que a fonte de lucro da devastação está esgotando-se. Os recursos (alguns) estão ficando cada vez mais escassos. Então ela e seus representantes começam a articular novas formas de saquear o povo e a Terra sob um belo discurso ambientalista. Virou moda nos círculos burgueses a palavra ecologia, ambientalismo, respeito ao meio ambiente... Um cinismo maldoso que denunciamos abertamente. Governantes, multinacionais, o grande capital e as infinitas aves de rapina capitalistas se apoderaram do pouco que ainda resta de precioso na natureza. Sempre visando à lógica do lucro e esconder os verdadeiros causadores da devastação. Reservas ambientais, lugares intocados, rios sem poluição, só podem ser visitados sob a custódia de alguma empresa de turismo. Os valores dos pacotes de eco-turismo são elevados. Os pobres novamente são impedidos de ter acesso a tais paraísos, somente podendo ver o que resta da vida selvagem e das florestas na televisão. Surge então diversas ONG`s ambientalistas. E o “ambientalismo” é então estritamente modelado segundo os interesses das classes dominantes. “Aparecem áreas de conservação ambiental protegida”, Parques Nacionais, e inúmeras outras medidas paliativas que são usadas como camuflagem para os maiores devastadores adentrar em determinados locais, prestando serviço ao capital. Também usadas para lavagem de dinheiro, para lavagem cerebral do nosso povo, inúmeras dessas ONG´s estão atoladas na corrupção, seus padrinhos e financiadores são os próprios madeireiros e donos de empresas de mineração. Os discursos destas carregam um forte teor de reformismo e conformismo.

  Unidos pela ânsia de lucro, setores políticos, midiáticos e econômicos promovem a lavagem cerebral na população impedindo a verdadeira tomada de consciência tão necessária para a ruptura com a lógica destrutiva capitalista. Impedindo qualquer possibilidade de construirmos outros caminhos para se viver bem na Terra. Diversos ativistas (verdadeiramente ativos e que lutam contra as verdadeiras causas do desflorestamento e poluição) sofrem duras represálias. Muitos deles sendo brutalmente mortos a mando dos ricos fazendeiros, ligados à extração da madeira e a mineração. Prevalecendo na sociedade o “ecologismo-burguês”, assistencialista, light, de lavagem de dinheiro, de discurso de campanha eleitoral, o ecologismo conservador atrelado aos interesses da burguesia. Muitos desavisados caem no conto do vigário e passam a apoiar e promover o “paleativismo” ambiental, as mais radicais se tornam ativistas nas ONG`s dos ricos, como o Greenpeace, prestando serviços aos inimigos sem saberem ao certo.

  Nós anarquistas fazemos uma critica radical da desastrosa interferência capitalista no meio ambiente. Acreditamos que as conseqüências sociais decorrentes desse processo são tão devastadoras quanto às físicas e naturais. Trabalhadores vivendo miseravelmente no campo e nas cidades, sob condições deploráveis no que se refere à falta de água tratada, rede de esgoto, saneamento básico, coleta de lixo. Diversas comunidades ribeirinhas estão sendo afetadas pelas barragens, outras sofrem cruelmente a mudança dos regimes de chuvas e climáticas. Rios inteiros poluídos e matas derrubadas. Um cenário triste, porém real.

  No nosso entendimento acreditamos que só será possível reverter esse triste quadro com a ruptura plena com o capitalismo e o modelo econômico em que vivemos. Essas são as causas de todas as mazelas. Assim sendo é indispensável vencermos essa causa para uma triunfante vitoria. Lutar apenas contra os galhos dos problemas ambientais, como quer desesperadamente os burgueses e governantes, é servir às políticas reformistas dos mais diretos responsáveis pela devastação na Terra. Pensamos que devemos concentrar nossa ação na causa e não nos sintomas.

  Concordamos que as pessoas dispostas a mudar radicalmente para melhor a inter-relação com o meio ambiente e os recursos naturais podem adotar pequenas atitudes no sentido de reverter o processo. Tais como:

Incentivar a expropriação e coletivização da todos os latifúndios, terras improdutivas, fabricas... pelos trabalhadores.

Praticar e incentivar a agricultura orgânica, que é uma técnica avançada de plantio sem o uso de fertilizantes químicos ou agrotóxicos (tão nocivos ao meio ambiente). Os alimentos orgânicos são de alta qualidade e muito melhor para a saúde da população. O Uso do plantio orgânico é muito melhor para o solo e o meio ambiente.

Boicote econômico de produtos de empresas agressoras, que produzem alimentos geneticamente modificados.

Pratica de sabotagem contra as mineradoras e madeireiras.

Criar mecanismos de luta e resistência contra o capitalismo. Como: coletivos, informativos, praticas de ação direta, protestos, sabotagem...

Adubar o terreno para a implantação de um novo modo de se viver pautado na livre organização, na autogestão política e econômica, no federalismo, na solidariedade, na igualdade e na liberdade de todos.

  Acreditamos também que é preciso e muito importante mudar a postura e hábitos em relação à questão ambiental no nosso dia-a-dia. Podemos adotar atitudes fundamentais para se viver numa sociedade futura que se paute em outros princípios na forma de se interagir com a Terra como: reciclar o lixo, não desmatar, fazer mutirões de coleta de dejetos e detritos que estão espalhados por todos os lados, educar o próximo a respeito do meio ambiente... Assim estaremos aptos e preparados para o que virá.

  Nossa conclusão é que devemos estar atentos para não servirmos de cobaias de governantes e ricos e cairmos na conversa mole do “ecologismo- burguês”. Precisamos ter sempre em mente que é fundamental romper com o capitalismo para mudar o curso das conseqüências das mudanças climáticas e ambientais. Pois sem ter isso em mente nunca iremos atingir a raiz dos problemas e a cura desse mal, padeceremos na eterna luta para amenizar os sintomas. Porém é nossa tarefa adubar o solo para a Revolução Social e o Socialismo Libertário, que acreditamos ser a única maneira de reverter esse processo. Acreditamos que devemos adotar pequenas atitudes desde já, que no nosso entendimento são fundamentais no sentido de vivermos bem entre nós e a Terra.

Abaixo ao ecologismo-burguês!





* publicado na edição Janeiro/Fevereiro de 2010 do jornal O Libertário, informativo do PAEM.