quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Políticos de Dourados: Ninguém Merece!

(Criança protesta contra políticos em Dourados)

  Depois de cinco meses de peleia, a saga “Fora Artuzi e TODAS as Máfias!” chega ao fim de um importante capítulo. Artuzi caiu. Teve protestos, manifestações, repressão, jogatinas e acordões: caiu! Encontra-se atualmente no aconchego de sua casa, respondendo em liberdade a mais um processo. E no fim do furacão, que desembocou numa eleição arranjada, eis que se levanta algo assombroso, medonho tal qual a besta do apocalipse, a coligação eleita e que governará a cidade nos próximos anos: DEM e PT. O Sindicato Rural e “el BarónMurilo Zauith elevam-se ao palacete municipal escudados pelos seus outrora inimigos petistas.

Fora Artuzi e TODAS as Máfias: os últimos atos de uma epopéia

  Com as espertas maquinações dos setores ricos da cidade, governo do estado, ministério público e partidos políticos, conforme exposto na edição anterior de nosso jornal, o protagonismo dos debates havia sido tirado das movimentações populares e passado aos gabinetes de poderosos, contando com a ajuda dos mui-amigos pelegos sindicais do comitê de “defesa popular”, que ferrenhamente vinha defendendo a tese da conciliação entre a movimentação social e as estruturas de estado. Essa manobra do comitê de “defesa popular” já apontava que petistas e Sindicato Rural estavam de conchavo, mas por enquanto ninguém dizia nada abertamente.
  Artuzi, politicamente abandonado, vinha sendo pressionado na cadeia para renunciar, o que veio a fazer em troca da liberdade provisória, junto com o profeta Carlinhos Cantor, seu vice. Os dois assim escaparam do impeachment, mantendo possibilidades de se candidatarem novamente no próximo pleito. A imprensa burguesa muda, então, sua abordagem. Abandona a demonização dos corruptos que haviam sido presos – mas que já estão todos soltos – e passa a construir o mito da necessidade de um líder forte e unânime para “recolocar a cidade nos trilhos”.
  Enquanto isso nos bastidores do poder as quadrilhas engalfinhavam-se para saber quem ficaria com a maior cota de cargos. Dona Délia batia o pé que não se levantava mais da cadeira. Algumas raposas velhas ameaçavam esbravejar. As ruas pediam ao menos novas eleições. Com a pressão a “justiça” decide pelas novas eleições. E no meio dos burburinhos partidários de repente cai a bomba: PT será vice do DEM apoiados por mais 13 partidos (os outros maiores da cidade)!
  Apesar do choque causado em alguns setores envolvidos nas movimentações “Fora Artuzi e TODAS as Máfias!”, esta manobra já vinha sendo costurada há alguns meses, conforme atesta a atuação do comitê de “defesa popular”, que estava colocando sindicatos e organizações estudantis pra sentar-se à mesa e acordar com empresários e políticos do PT e DEM. Esta aliança vem alicerçada no envolvimento do PT nestes mesmos esquemas de corrupção que fizeram rolar a cabeça de Artuzi, conforme a recente condenação do deputado estadual eleito Laerte Tetila por improbidade administrativa em sua gestão na prefeitura. Com os principais partidos políticos emaranhados na roubalheira, nada mais natural que se unissem para manter os negócios funcionando e garantir seus gabinetes. Com a “união por Dourados” consolidada coube ao mega-latifundiário e dono da UNIGRAN Murilo Zauith, um dos líderes do obscuro Sindicato Rural, encabeçar a chapa e lançar-se ao trono. Contra ele partidos nanicos arranjados de última hora.
  Enquanto a pelegagem petista, envergonhada, se esconde, os setores combativos das movimentações chamam o boicote, o que resultou em mais de 50 mil pessoas(soma de nulos, brancos e abstenções) rejeitando a farsa eleitoral. Contudo a situação lastimável da cidade, com todos os serviços públicos sucateados, foi muito bem explorada pela imprensa burguesa e o mito do líder forte que irá salvar a cidade foi assim direcionado à Murilo, que acaba de ser eleito.

("el Barón" Murilo Zauith, prefeito de Dourados)

E Agora?

  A administração DEM/PT representará um agravamento da adequação da cidade como pólo do agronegócio sucro-alcooleiro. Com a prefeitura estando diretamente nas mãos do Sindicato Rural, personificado em Murilo, podemos esperar investimento pesado em asfalto e estradas de rolagem e outras obras de infra-estrutura que são necessidade urgente aos interesses dos setores ricos, e por outro lado a terceirização do máximo de setores possíveis em serviços básicos como saúde e educação. O alinhamento com o governo do estado deve expandir a linha dura da repressão contra os movimentos populares, especialmente os que lutam pela terra, em toda a região. Outra tensão deve-se dar no âmbito da “cidade-educadora”, já que Murilo é um barão do ensino superior privado e tende a privilegiar este setor, o que deve vir a se chocar com várias demandas de estrutura que os estudantes de universidades públicas da cidade vêm reivindicando.
  Ao PT caberá a “gestão da miséria”, gerenciando as bolsas e o “filantropismo estatal” e, especialmente, tentando atrelar as movimentações comunitárias, estudantis e populares à prefeitura. Esta conjuntura exigirá muita luta dos movimentos e setores combativos do povo de nossa cidade, já que membros deste partido, que no caso específico de Dourados, é aliado do Sindicato Rural, estão presentes e têm trânsito livre em diversos espaços de organização popular.
  No nosso entendimento algumas das principais tarefas que vêm à tona para a militância e pessoas dispostas a lutar em nossa cidade são:
  • Aprofundar os laços de relação e coordenação entre os setores combativos que estiveram engajados nas movimentações “Fora Artuzi e Todas as Máfias!”;
  • Levar as pautas levantadas como apontamentos de “para mais além que eleições” para todas as frentes possíveis, aproveitando, também, o gancho dado pela imprensa em suas matérias sobre o sucateamento da cidade;
  • Iniciar, já agora no pós-eleições, uma jornada de protestos e reivindicações embasadas nestas pautas do “para mais além que eleições”;
  • Travar uma batalha definitiva contra a influência sorrateira do comitê de “defesa popular”, este apêndice das classes dominantes em meio aos movimentos sociais, em cada sindicato, associação de moradores, centro acadêmico que, por triste ventura, ainda estiver ligado a esta sigla;
  • Ampliar a presença e o protagonismo dos movimentos sociais nas ruas;
    Acreditamos que esta seja uma plataforma mínima pra caminhada do próximo período e que várias outras contribuições a esta análise devem surgir em breve. Todas estas batalhas travadas nos últimos meses trouxeram amadurecimento pra organizações populares e pras pessoas no geral, fazendo com que mais gente na cidade criticasse e se juntasse com outras para protestarem e defenderem suas posições. Agora é seguir em frente, com todo este acúmulo como mais uma arma, porque o inimigo é o mesmo, só mudou o representante.

Só a luta popular decide, constrói e transforma!