sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Entrevista com Resistência Suicida: Anarco Punks de Corumbá-MS


Falem um pouco da história do Movimento Anarco Punk em Corumbá:
Tivemos, na década de oitenta e meados dos anos noventa, manifestações isoladas de grupos que questionavam o “status quo” da região de Corumbá e do mundo. Era um movimento embrionário e pouco consistente. Estávamos atrelados ao movimento estudantil de esquerda, organizações partidárias de esquerda, ongs, sindicatos também de esquerda entre outras correlações dos movimentos sociais. De forma gradativa fomos entrando em contato com várias literaturas da esquerda libertária, músicas e letras de cultura geral underground que nos possibilitou ampliar nosso campo e nível de consciência... Bandas de vários estilos passaram a surgir em Corumbá: punks (movimento), hardcore, metal, crossover, black entre outras... Nossas ações passaram a ser organizadas, fazíamos enfrentamentos em greves apoiando professores, ferroviários, enfermeiros, servidores da prefeitura de Corumbá... , o Grito dos Excluídos. Apoiamos em vários contextos o movimento sem-teto, o movimento dos sem-terra, dces de esquerda... No decorrer das nossas lutas e processos sociais, tivemos vários refluxos e perdas lastimáveis: drogas, consumo pop, pressão social (família, casamento, grana, fama...). Mantivemos contato com o Movimento Anarco Punk através do nosso camarada ratopunk(Marcos) que levou nossas idéias e material da banda RS. Apesar das grandes dificuldades que enfrentamos, estamos nos reorganizando e voltando para nossas lutas fundamentais.
“O que se poderia pensar, ou então dizer de jovens que nasceram em uma região de fronteira, lugar da rota e do consumo de drogas (Brasil/Bolívia)? Ou então numa cidade provinciana, tradicional e perversa como Corumbá, onde impera a arrogância gananciosa dos “reis do gado e de gente”, os coronéis fazendeiros? Como exigir a participação política desses jovens, quando o principal mal parte dos criminosos políticos e corruptos? Alguém conseguiria entender, hordas de jovens viciados e aidéticos (zumbis!termo discriminatório usado pela mídia burguesa) que roubam e matam, vítimas do sistema repugnante e execrável?? A resposta seria certa! A juventude reproduz as mazelas sociais imposta pela poder do Estado e por suas estruturas. Entretanto a juventude corumbaense, a exemplo dos jovens no mundo inteiro resistem! Não se rendem e criam vários elementos de combate anti-sistema... O grande exemplo, é a formação de bandas de vários estilos no underground, Punk, Heavy, Death, Black entre outros. Bandas essas influenciadas pela remanescente avalanche cultural underground de 80/90 mostraram postura e conduta. Muitos jovens da região tiveram contato com bandas, shows, material punk e anarquista e da esquerda em geral, definindo assim suas influências. O legal de tudo, é que a partir desse contato, o reflexo participativo da cultura “marginal” tornou-se expressivo e muito mais participativo. Bandas que começaram a surgir carregadas de letras críticas e subversivas, questionando o sistema e propondo uma nova sociedade para se viver... Pode-se dizer que o Rock underground foi o “divisor de águas” para uma nova forma de pensar, agir e se expressar conscientemente”.



E o Resistência Suicida quando surgiu? Qual o principal objetivo do grupo?
A Resistência surgiu em 1994 se não me falha a memória, com o objetivo de levar as idéias de luta e liberdade social contra o sistema capitalista. Esse fragmento do histórico da banda, fala um pouco das nossas músicas e propostas. O nome Resistência Suicida é uma homenagem a todos os trabalhadores (mulheres, homens e homossexuais), líderes ativistas que lutaram e lutam por igualdade e justiça libertária.
“A História da Resistência Suicida, não se resume apenas em seus dois cd-demo: 1°/2005. “Exploração Real $$$” e no 2°/2007 “Jamais ceder ao inimigo...”. Nossa trajetória remonta ao ascendente Movimento Underground da década de 1980 e início da década de 90, períodos de contato com material underground estrangeiro e nacional da época (Ramones, GBH, Coletânea Grito Suburbano e Sub entre muitos outros). Alguns integrantes da Resistência participaram e participam da cena até os dias de hoje... Atividades culturais de esquerda, ações humanitárias, protestos e greves, panfletagens, encontros, shows, fazem parte dessa luta. Iniciava-se um vasto trabalho de composições próprias, carregadas de ódio ao sistema... A primeira formação da banda estava assim composta: Bateria(Angélica-1°baterista feminina da região)- Guitarra(Deeney)-Vocal/Baixo(J.Lourenço).Posteriormente, assumia a Bateria (Rato Punk-Marcos).
Iniciando o primeiro trabalho para divulgação, foi lançado a Demo/Ensaio em 1997, que saiu na Compilação Punks Invaders – II de 1999 (com as músicas: Exploração Real, Suor poupa Sangue, Arquivo de Guerra...). Devido a problemas financeiros, o 1°CD-Demo/intitulado: “Exploração Real” só foi lançado em Abril de 2005,onde a Resistência apresenta 05 músicas próprias e um cover (DHC). Esse cd-demo reflete a base crítica anti-sistema da banda. Era uma nova etapa de concepção na banda. A partir dessa fase e com novos integrantes, a Resistência partiu para novas composições,trabalhos e contatos. Iniciava-se um novo período e o 2°CD-Demo/ “Jamais Ceder ao Inimigo...” ,estava para ser lançado...” “Atualmente em sua nova formação, a Resistência Suicida encontra-se com: Felipo (batera)*Giovane (guitarra)*Gabriel (baixo/vocal)*J.Lourenço (vocal). Essa nova formação manteve a linha e o peso da concepção proposta no seu início. No seu novo trabalho em 2007, a Resistência lança o seu 2°CD-Demo/Intitulado: “Jamais ceder ao Inimigo”, com dez músicas, 09 próprias e um cover (Sacrifício). Esse cd marca realmente a nova fase da banda, com influência musical de cada integrante, sem perder a sua essência e concepção. Músicas elaboradas na vertente tradicional Punk/hardcore. Muita podreira auditiva como: Trabalho/Mentiras/Resistência/Proletariado/DestruamUSA/ Cérebros Drenados, entre outras,vale a pena conferir.”


Como é a relação do Resistência e do MAP com outras correntes da cultura underground?
O legal em Corumbá, que por mais que estejamos isolados geograficamente dos chamados “grandes centros”, mantemos uma relação de união com outras correntes do underground musical/cultural/social: black, heavy, hard, rockeiros, esquerdistas, ativistas, entre outros. Organizamos eventos quase sempre em coletivo para poder acontecer mesmo, pois por aqui tudo é + difícil.


Além dos eventos ligados à contracultura, que outras atividades e lutas vocês vêm participando?
Estamos preparando o nosso zine do pântano(al), estamos na organização de um show beneficiente para nossas amigos menos favorecido (excluídos mesmo),estamos em contato com nosso amigos punks da Bolívia para uma série de atividades e também a organização do VII ENCONTRO UNDERGROUND DE CORUMBÀ( nossos irmãos punks da Bolívia e do Peru participaram do VI encontro em 2008) e também com a nossa família.


O que vocês pensam sobre a proposta de estruturação da Federação Anarquista do Mato Grosso do Sul?
Teríamos uma linha de atuação mais organizada, poderíamos unificar nossas lutas e sermos realmente "coletivos". Atuar em ação direta é muito importante , entretanto quando agimos de forma cooperativa , mútua e coletiva temos mais força. A história de (luta) todos os movimentos sociais é reflexo de um todo. Temos que levar para as escolas, portas de fábricas, igrejas, terminais rodoviários, estádios... onde o sistema realmente "trabalha" de forma perniciosa o processo da alienação e do consumo, nossas idéias e propostas mais amplas a nível de conscientização libertaria. Temos de deixar de lado as "vaidades" teóricas que só nos separa e partirmos para as lutas e ações pelos mais pobres, pelo planeta(meio ambiente), pelas mulheres, homens e todos os excluídos desse sistema .


Agradecemos a entrevista e saudamos nossa aproximação e união. O espaço é de vocês:
Dizer-lhes que estamos em uma luta árdua desde que nascemos. Ao respirar este ar impuro e contaminado pelos gananciosos políticos capitalistas, já estamos sobrevivendo... Vamos ajudar nosso planeta e consequentemente a nós mesmos. Agradecemos ao PAEM por nos ceder esse espaço e por todos seus esforços em contactar os anarquistas do MS. Saúde e resistência !!!!


Contatos: giovanni-resisti@hotmail.com
Rua Felicidade, 28, Bairro Popular Nova
Cep: 79321-051
Corumbá/MS