segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pela Federação Anarquista do Mato Grosso do Sul


Nos últimos anos o Anarquismo tem despertado o interesse de cada vez mais pessoas no Mato Grosso do Sul. Grupos de estudo, pequenas publicações, intervenções culturais e trabalhos sociais vêm sendo iniciados e desenvolvidos, sob a bandeira do Anarquismo, em todas as regiões do estado. Este fenômeno, que em seu início foi fomentado especialmente por movimentações de juventude como contracultura e movimento estudantil, abriga agora novas frentes e possibilidades graças à inserção de seus participantes nos espaços sociais mais amplos e diversos. No campo e nas cidades do MS, graças à influência dessa atuação, trabalhadores vêm conhecendo e adotando, dentro de sua realidade, posturas, práticas e idéias defendidas pelo movimento anarquista. Obviamente este cenário deve ser relativizado pela dispersão destas pequenas forças libertárias, pela juventude de sua militância e pelo contexto de grande refluxo organizativo das classes oprimidas sulmatogrossenses no momento.
Desde a fundação de nosso coletivo, em 2006, temos buscado mapear e entrar em contato com estas experiências de anarquistas no estado e, atualmente, temos incentivado a discussão sobre a necessidade e a viabilidade de estruturação de uma organização federativa anarquista no MS. Recebemos contatos de grupos, iniciativas e indivíduos de Corumbá, Campo Grande, Ponta Porã, Paranaíba, Caarapó, só para citar algumas das cidades aonde companheiras e companheiros vem construindo, em seu dia-a-dia, a cara do Anarquismo sulmatogrossense.
Historicamente o Mato Grosso do Sul não conta com forte tradição de movimentos socialistas, sendo que os movimentos sociais foram sempre hegemonizados pelo PT, o que além de fazer com que as classes oprimidas estejam hoje num cenário de grande refluxo organizativo, faz também com que o incipiente movimento anarquista do MS busque suas raízes e inspirações nas lutas de resistência dos povos originais (indígenas), comunidades tradicionais e camponeses pobres. Estas lutas podem ser constatadas em toda a história conhecida da gente que habitou e habita este pedaço de chão, sempre enfrentando a fúria e a parasitagem de latifundiários, burgueses e políticos.
Hoje existem anarquistas atuando em sindicatos, movimentos de luta pela terra, movimento estudantil, movimentos comunitários e de bairro, contracultura, apoio aos povos originais e comunidades tradicionais e em movimentos reivindicativos diversos. Contudo estas iniciativas e militantes estão dispersos pelo estado, muitas vezes sofrendo com o pesado fardo do isolamento, vendo sementes e trabalhos serem abortados devido, especialmente, à falta de uma efetiva organização que possa unificar, fortalecer e coordenar estas atuações. A necessidade desta organização é óbvia a todos aqueles que realmente acreditam e dedicam-se à luta popular. Por isso, para suprir esta demanda tão urgente, estamos buscando abrir e ampliar o debate sobre a estruturação de tal organização, propondo a construção da Federação Anarquista do Mato Grosso do Sul.
Existem diversas experiências que vem sendo construídas, principalmente Brasil a fora, que podem nos servir como ponto inicial de referência e acúmulo para este projeto, porém acreditamos que não devemos nos apegar a nenhuma fórmula ou receita feita, mas sim buscar dar a estrutura para a concretização das experiências que já existem e vem se formando no MS, respeitando as particularidades dos companheiros de nosso estado e apoiando-se em nossa própria realidade para que esta nossa Federação Anarquista venha a ter uma real inserção e apresente-se como alternativa viável para a articulação de luta do povo trabalhador sulmatogrossense.
Temos clareza também de que o Anarquismo é reivindicado por diversas concepções teóricas e práticas, o que faz com que, para este projeto que discutimos aqui, utilizemos e defendamos o conceito de Anarquismo Social, em detrimento do que chamamos de correntes de auto-ajuda libertária, às quais não negamos sua importância, porém entendemos que é na luta popular de nossa gente que encontra-se o terreno fértil para o semear e o brotar de nossa Revolução Social.
Contudo não pretendemos apresentar um projeto fechado, que já esteja pronto antes mesmo da adesão dos grupos, mas sim queremos buscar uma construção coletiva com as companheiras e companheiros de todas as regiões do MS, a partir de um processo de mútuo conhecimento e de articulação por afinidade inicialmente, para a partir daí construirmos a unidade teórica, prática e programática tão necessária para a consolidação, ampliação e fortalecimento deste projeto.
As conversas estão acontecendo, este jornal será um dos divulgadores e órgãos de mídia desta movimentação, e pretendemos em breve realizar o I Encontro do Anarquismo Social no MS, para o firmamento desta aliança e o avanço deste processo. Companheiras e companheiros de todo o estado que desenvolvam atividades militantes ou que tenham vontade de iniciar entrem em contato. Solidariedade e respeito como princípio, organização e luta como meio, e liberdade e igualdade como fim. Pela Federação Anarquista do Mato Grosso do Sul!